Fim da cobrança dos royalties das primeiras variedades de cana da companhia, que já estava previsto, pressionou ganhos
Assim como no trimestre anterior, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) registrou queda em seu lucro líquido no quarto trimestre da safra 2022/23 (janeiro a março), um reflexo do fim do período de cobrança de royalties de suas primeiras variedades de cana. No intervalo de janeiro a março, o lucro da companhia caiu 70,6%, para R$ 11,1 milhões, e na temporada, o resultado líquido caiu 31,8%, para R$ 91,4 milhões.
A receita líquida, composta basicamente por royalties, recuou 18,2% no trimestre, para R$ 92,1 milhões. Na safra, a receita diminuiu 12,9%, para R$ 367,1 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 45,8% no trimestre, para R$ 28,8 milhões, e 34,5% no acumulado do ano, para R$ 144,5 milhões. A margem Ebitda, que historicamente superior a 50%, foi de 39,3% no ciclo passado.
Ao longo de 2022, expirou a proteção de suas variedades CTC 1 a 5. A companhia já esperava há tempos descer um degrau em seus resultados neste ano, já que a proteção de cultivares dura 15 anos no país e, em 2012, quando a companhia tornou-se uma sociedade anônima, essas variedades já estavam em campo antes. Perdeu-se, assim, receita com royalties sobre 1 milhão de hectares – na safra passada, a área de cana com cultivares do CTC foi de 2,8 milhões de hectares, dos quais 1,8 milhão de hectares foi faturada.
Por outro lado, o lançamento de novas variedades nos últimos anos, que oferecem mais produtividade - e, portanto, também têm preços mais altos -, vem oferecendo um colchão para essas situações. “A receita caiu muito menos do que era previsto”, disse ao Valor Denise Francisco, diretora de relações com investidores do CTC.
Agora, 98% do faturamento é resultado dos royalties com as variedades “elite” - que oferecem rendimentos maiores, chegando a 14,5 toneladas de açúcar por hectare, e com as variedades transgênicas, que começaram a ir a mercado em 2018. Os royalties são calculados em um terço do diferencial de produtividade das variedades do CTC e as melhores variedades do mercado.
As canas geneticamente modificadas do CTC têm sido inclusive um sucesso de vendas. Das 270 usinas com as quais a companhia mantém contratos de licenciamento, 180 já plantam alguma das quatro variedades lançadas até o momento. Segundo a executiva, a taxa de multiplicação das variedades transgênicas em campo é até maior que a das outras variedades convencionais.
A estratégia para que o que ocorreu na última safra não se repita é o lançamento constante de variedades. A proteção de algumas da série premium convencional vencem entre 2028/29 e 2030/31. “Mas hoje temos uma gestão de portfólio que originalmente não existia. Não tem mais a expectativa de um novo degrau”, disse.
Para garantir lançamentos constantes, o CTC continuou investindo em pesquisa e desenvolvimento, apesar da perda da receita. Na última safra, essa área da operação recebeu R$ 200 milhões, ou 19% a mais do que no ciclo anterior, para acelerar o projeto de sementes de cana e de mais variedades transgênicas. Nesta safra, algumas usinas já vão começar a testar o plantio de sementes desenvolvidas pelo CTC, no que promete ser a tecnologia mais disruptiva para o setor em décadas.
Nesta safra, a companhia espera uma recuperação dos resultados, que devem ser embalados, também, pela retomada da renovação dos canaviais, que ficou prejudicada nos últimos dois anos por causa da seca no Centro-Sul. Embora algumas usinas tenham antecipado a renovação para eliminar lavouras afetadas gravemente pela estiagem e por geadas, na média, a taxa de renovação ficou perto de 12% - o índice ideal é de 15%.
Valor Econômico