O agronegócio nordestino tende a acumular recordes em produção e em faturamento neste ano, atingindo valores igualmente históricos nas exportações. “O setor agrícola no Nordeste convive com realidades diversas e dinâmicas diferentes, envolvendo desde a secular produção sucroalcooleira, que já avança em tecnologias digitais e investe na produção de amônia e hidrogênio verde, passando por grãos e fruticultura, produção de proteínas animais, leite e até a exploração da carcinicultura, que tem presença mais forte no Ceará e no Rio Grande do Norte”, descreve Ecio Costa, professor titular de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Numa estimativa aproximada, acrescenta ele, o agronegócio teria uma participação próxima a 25% na formação do Produto Interno Bruto (PIB) da região.
A safra colhida neste ano já havia alcançado pouco mais de 26,9 milhões de toneladas, avançando 13,8% em relação ao ciclo anterior, e deve crescer mais 3,3% no próximo ano, chegando a 27,863 milhões de toneladas. O volume produzido, associado a preços ainda elevados, tende a elevar o valor bruto da produção para R$ 112,884 bilhões, em termos reais, o mais elevado da série do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na contramão do restante do país, que deve registrar recuo de 0,8% no valor da produção, espera-se um aumento de 6,5% para o faturamento bruto da agropecuária no Nordeste, na comparação com 2021. As exportações acumuladas nos dez primeiros meses deste ano, um total de US$ 11,221 bilhões, aumentaram 36% em relação a igual período do ano passado e já superam em 13,2% as vendas externas realizadas em todo ano de 2021, respondendo por 47,8% das exportações totais da região.
Pouco mais de dois quintos da produção nordestina de grãos, algo como 44,3%, sairão das lavouras do oeste baiano. Se o clima continuar favorável, aquela região da Bahia, parte do Matopiba, juntamente com o sul do Maranhão e do Piauí, incluindo ainda o Tocantins, deverá colher em 2023 em torno de 12,3 milhões de toneladas de grãos, um avanço de 11,9% em relação à safra anterior. As chuvas chegaram com certo atraso, mas engrenaram a partir de novembro, o que permitiu que os produtores acelerassem a semeadura, que já cobria 96,2% da área esperada na primeira semana de dezembro, observa Aloísio Júnior, gerente de agronegócio da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aíba).
Soja e milho predominam, respondendo por quase 83,5% da produção total esperada na região, com produção prevista em 7,477 milhões e 2,832 milhões de toneladas, respectivamente, e crescimento de 7,7% e de 20,0% em relação à safra 2021/22 na mesma ordem.
Proporcionalmente, no entanto, a produção de trigo tende a registrar alta de 42,9% e atingir perto de 60 mil toneladas. O salto, na análise de Júnior, reflete principalmente o início das operações da unidade instalada em Luís Eduardo Magalhães pelo Moinho de Trigo Mercosul.
Acompanhando o Vale do Rio São Francisco, observa Costa, a região tenta consolidar uma nova frente de expansão da exploração de cana, tendo como polo o município de Barra. A pecuária igualmente tem atraído investimentos, especialmente em Pernambuco, de acordo com o professor, que identifica pelo menos dois projetos relevantes, o primeiro para confinamento de 12 mil bois na região de Ibimirim, em um investimento de R$ 35 milhões, e o segundo para abate de bovinos, ovinos e suínos em Canhotinho, próximo a Garanhuns, tocado pelo grupo Masterboi.
O frigorífico, o primeiro da empresa em solo pernambucano, comenta Miguel Zaidan, diretor executivo da Masterboi, permite abater bovinos, suínos e caprinos simultaneamente, mas em linhas segregadas. Com investimento de R$ 140 milhões, a planta em Canhotinho começou a operar em 15 de agosto deste ano e já em novembro passou a abater diariamente 250 bovinos, volume programado apenas para julho de 2023. A capacidade nominal está prevista em 500 cabeças por dia de bovinos, 600 de suínos e igual volume de caprinos.
A planta adota o sistema desenvolvido pela zootecnista Mary Temple Grandin de manejo e condução do gado desde o desembarque, assegurando maior conforto aos animais e investiu ainda no processo de “envelope sanitário”, que assegura total isolamento dos funcionários que operam na linha de produção em relação ao ambiente externo e aos demais setores da unidade, detalha Zaindan.
O fôlego do setor rural pode ser avaliado ainda com base no volume de operações realizadas pelo Banco do Nordeste ao longo deste ano, de acordo com Luiz Sérgio Farias Machado, superintendente de agronegócio e microfinança rural da instituição. Até outubro, incluindo a agricultura familiar e produtores de maior porte, foram contratados pelo banco R$ 13,2 bilhões, um aumento de 50% diante dos R$ 8,8 bilhões no mesmo período de 2021.
O Agroamigo, considerado o maior programa de microfinança rural da América do Sul, registrou a contratação de R$ 4 bilhões até outubro, cerca de 12% mais do que no ano passado. Machado ressalta que o banco, embora detenha participação pequena na rede bancária regional, respondeu por 52,6% do crédito rural contratado em todo o Nordeste.
Valor Econômico