Companhia antecipou o início dos trabalhos de campo para 3 de abril para aumentar produção e tentar minimizar risco de perdas com o El Niño
Praticamente todas as usinas do Centro-Sul estão à espera de um forte crescimento na moagem de cana nesta safra (2023/24). Depois da seca histórica de 2021, que abalou a produtividade em duas safras consecutivas, os próximos meses serão de trabalho sem parar nos canaviais. Mas o que é um cenário positivo também apresenta desafios ao segmento.
A Usina Jacarezinho, do grupo Maringá, já se preocupa em manter toda a logística dentro da porteira azeitada para evitar que uma longa etapa de moagem sofra com os efeitos do fenômeno El Niño que se avizinha. Para aproveitar a cana bisada da safra passada e começar logo a colheita do ciclo atual, a companhia antecipou o início dos trabalhos em campo para 3 de abril. Ela tomou a primeira providência ainda na entressafra, com o reforço nos cuidado com a manutenção das máquinas e equipamentos, segundo Eduardo Lambiasi, diretor-executivo do grupo Maringá.
“O rigor da manutenção foi redobrado. Não se pode parar nesta safra em hipótese alguma. O tempo perdido tem que ser o mínimo possível. Tem um capricho que estamos implementando com manutenções preventivas. O indicador de aproveitamento agrícola e industrial será fundamental”, diz.
O receio é que, se houver muitas paradas por questões técnicas ou climáticas, como chuvas, acabe sobrando muita cana em pé quando se instalar o El Niño, que, segundo escritórios meteorológicos, deverá se formar no segundo semestre. Se essa formação se confirmar, o Centro-Sul pode enfrentar um novo período de seca, resgatando uma memória recente e muito negativa entre os usineiros.
O escritório de meteorologia da Austrália já emitiu um alerta de 70% de chances de ocorrência de El Niño no fim deste ano. A Administração Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), por sua vez, preferiu até o momento adotar uma previsão mais cautelosa, embora já não descarte uma evolução “rápida” para El Niño na América do Sul.
Por via das dúvidas, algumas medidas já estão sendo tomadas nas lavouras de cana da Usina Jacarezinho, como a aplicação de maturadores para adiantar o ponto ideal de colheita. Se nada sair do roteiro, diz Lambiasi, a colheita termina em 30 de novembro, com um volume entre 2,6 milhões a 2,65 milhões de toneladas, superior às 2,56 milhões de toneladas da safra passada. A estimativa baseia-se em uma perspectiva de aumento da produtividade média de 90 para 91 toneladas por hectare — uma das maiores do Centro-Sul.
Com mais matéria-prima, a usina também se prepara para produzir mais açúcar, algo que a companhia se preparou para fazer ao realizar alguns ajustes na fábrica e investimentos em capacidade.
De toda a cana que entrar em nas moendas, de 55% a 60% irá para a produção do adoçante. A companhia produz açúcar branco para indústrias regionais, mas os preços são atrelados às cotações internacionais, que estão em seu maior patamar em sete anos.
Já a produção de etanol deverá diminuir 6%, para 96 milhões de litros, dos quais 90% deverão ser de anidro (aditivo à gasolina). “O prêmio do anidro [sobre o etanol hidratado] pode não estar tão interessante como na safra passada, mas ainda é um prêmio que nos interessa”, afirma Lambiasi.
Valor Econômico