As ideias do BNDES para ser um “banco verde”

As ideias do BNDES para ser um “banco verde”

Sob nova direção, banco de desenvolvimento planeja voltar ao patamar de desembolsos que já chegou a 2% do PIB

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, disse esta semana que a instituição financeira do futuro é verde, digital, inclusiva, tecnológica e “reindustrializante”.

Em um evento sobre desenvolvimento sustentável organizado pelo banco, Mercadante afirmou que é preciso, guardadas as devidas proporções, aprender com as recentes políticas dos Estados Unidos e União Europeia para alavancar a indústria por trás da economia de baixo carbono.

“Essas economias estão fazendo política industrial, repensando a relação Estado/mercado, buscando novos padrões de regulação, especialmente marcos de regularidade fiscal pós-pandemia, e o Brasil precisa olhar para essas experiências”.

Em 2022, a instituição financeira registrou lucro recorrente de R$ 12,5 bilhões, alcançando R$ 41,7 bilhões de lucro líquido.

Sob nova direção, quer voltar ao patamar de desembolsos que já chegou a 2% do PIB, e planeja dobrar o tamanho do banco até 2026.

Segundo Mercadante, o BNDES será um centro de formulação — para dar suporte à estratégia brasileira de “reindustrialização”.

Uma das frentes é a energia renovável
Na corrida tecnológica, EUA e UE estão adiantados com seus programas de incentivos bilionários para disputar o mercado de baterias, entre outras tecnologias de transição energética.

“Precisamos entender esse desafio e tentar recolocar o Brasil para atrair investimentos e disputar essas possibilidades. É um horizonte bastante complexo e nós estamos atrasados”.

O banco já tem uma carteira de renováveis com 10% dos financiamentos no Brasil para energia eólica e 2% da solar, mas quer ir além. Com cerca de R$ 8,6 bilhões de investimentos projetados para 2023, Mercadante afirma que há “grandes possibilidades na área da energia solar fotovoltaica”.

Mas a grande oportunidade — e desafio — está no hidrogênio verde (H2V).

O presidente do BNDES avalia que, embora o Brasil tenha uma matriz energética e um potencial de geração renovável que viabilizam o H2V, o custo de capital é um problema.

“A Alemanha, por exemplo, está financiando todas as plantas nesse setor a juro zero. E nós estamos com uma taxa de custo muito elevada e pouco competitiva”.

Emergência climática e combate ao desmatamento também estão no horizonte
Uma das iniciativas pretende fortalecer o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN) e apoiar a reorganização da defesa civil.

Reconhecendo o custo elevado dos desastres naturais — causados pela emergência climática — o BNDES planeja um edital específico para aprimorar tecnologias na área de prevenção.

No combate ao desmatamento, o banco começou um programa em fevereiro que usa imagens de satélite para bloquear empréstimos a propriedades rurais desmatadas ilegalmente.

A ideia é bloquear o financiamento “antes de entrar no banco”.

O controle ocorre por meio de uma parceria com o MapBiomas, que monitora em tempo real todos os biomas brasileiros usando satélites de alta resolução e gera alertas e laudos com imagens antes e depois de desmatamentos.

Desde o dia 9 de fevereiro, as informações geradas pela plataforma serviram como base para negar 58 pedidos de empréstimos que somavam R$ 24,8 milhões e eram destinados a imóveis rurais com desmatamentos em 14 estados, no total de 948 hectares — equivalente a cerca de 1.300 campos de futebol.

Para Mercadante, a pauta de rastreabilidade virá e é preciso modernizar a agenda. O banco também quer começar a financiar programas de produção de mudas, reflorestamento, e produtos brasileiros que se apresentem como desmatamento zero na pauta de exportação.

Indústria quer investir em hidrogênio, mas falta política
O discurso de reindustrialização verdee compromisso com sustentabilidade ambiental do governo Lula (PT) tem agradado segmentos da indústria que querem investir em novas energias no país. A bola da vez é o hidrogênio.

“O Brasil tem uma escolha a fazer. Ele não é o único que pode fornecer hidrogênio verde para o resto do mundo. Pelo custo marginal baixo, temos uma vantagem no momento zero, mas essa vantagem tem que ser encorajada”, defende Henrique Paiva, head de Relações Governamentais e ESG da Siemens Energy para a América Latina.

Em entrevista à Diálogos da Transição, ele defendeu uma política industrial direcionada para incentivar as rotas de baixo carbono, a exemplo do que ocorreu para eólica no início dos anos 2000, ou para o etanol na década de 1970.

Olhando para os possíveis parceiros comerciais e investidores, o Brasil também precisa melhorar sua mensagem, de forma a dar segurança sobre qual será sua estratégia para o novo energético.

Paiva participou na semana passada de uma reunião da comissão mista do Encontro Econômico Brasil-Alemanha, fechada a alguns agentes do mercado e governos dos dois países.

Ele conta que o encontro mostrou representatividade e consistência de agendas, com diversas oportunidades de parcerias. Um desafio do país, no entanto, é dar garantia sobre as informações que são repassadas ao mercado.

“Dar confiança para o tipo de informação que mandamos lá para fora é algo que também vai nos abrir portas”.

A Siemens Energy está desenvolvendo plantas de hidrogênio verde na América Latina, e Paiva afirma que grandes projetos estão previstos para o Brasil em 2024-2025.

“Cada vez mais os projetos se mostram mais maduros. Tem uma fase do entendimento dos atores da cadeia de valor, o papel do financiamento governamental também começa ficar um pouco mais claro. É uma evolução natural de aprendizado que esse novo mercado terá”, completa.

 

Agência epbr