Os jornais desta terça-feira (26) estamparam um informe publicitário de página inteira afirmando que “No meio ambiente, a burocracia também devasta”.
Apesar de a lista estar encabeçada por uma entidade agrícola, a manifestação pouco tem a ver com a agricultura. A lista saiu da construção civil.
Das 87 entidades (uma assinou duas vezes) que constam desse manifesto a favor do ministro do Meio Ambiente, apenas 30 se referem ao agronegócio. Destas, 13 são do setor de cana-de-açúcar.
As demais estão ligadas às áreas de comércio, da indústria, da construção e de administração imóveis urbanos.
A assinatura dessa lista causou intensas discussões dentro das diretorias de algumas associações do agronegócio. Em outras, mesmo após a aprovação pela participação, a assinatura foi retirada.
Das entidades do agronegócio participantes da lista, poucas são do IPA (Instituto Pensar Agro), um instituto que reúne 45 associações e discute políticas públicas para dar suporte técnico e legal para a Frente Parlamentar da Agropecuária.
Na lista desta terça-feira (26), poucas entidades são do setor de exportação. O assunto meio ambiente é muito sensível para o comércio exterior e tem colocado o país na mira de importadores.
A discussão sobre alguns assuntos de interesse nacional costuma passar pelo IPA. O instituto não assina nada, mas, muitas vezes, dá um posicionamento sobre determinados temas. Neste caso, o assunto não foi discutido por lá.
Um dos diretores de uma entidade que não assinou a lista diz que a função das associações é defender seus associados. Ela não deve entrar na defesa tanto de situação como de oposição.
Toda essa discussão ocorre devido ao vídeo da reunião de ministros de 22 de abril, quando o ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, disse que, enquanto a imprensa só falava de Covid-19, era hora de ir passando a boiada e mudando o regramento e simplificando normas.
Após a divulgação do vídeo, Salles disse que se referia a diminuir as burocracias nos ministérios, o tema do informe publicitário desta terça-feira.
A nota dessas organizações traz o seguinte título: “No meio ambiente, a burocracia também devasta”. Após falarem em desenvolvimento sustentável e condenarem “os infratores”, aqueles que praticam concorrência desleal com as empresas “regulares e responsáveis”, os signatários vão ao ponto principal:
— As ações do Ministério do Meio Meio Ambiente, na defesa da legislação e dos interesses ambientais com sensibilidade ao desenvolvimento do país de forma sustentável e legítima, contam com nosso total apoio.
São estas as instituições que assinaram o anúncio de página inteira (ao lado, uma reprodução bem menor) nos jornais.
Confira a nota assinada por essas organizações:
“As entidades abaixo reafirmam seu compromisso com a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável, condenando os infratores que, além de causarem prejuízos ambientais e à imagem do país, praticam concorrência desleal às empresas regulares e responsáveis. Condenamos, também, a agenda burocrática que utiliza a bandeira ambiental como instrumento para o travamento ideológico e irrazoável de atividades econômicas cumpridoras das leis e essenciais ao desenvolvimento econômico do país. Tal agenda afasta investimento e subtrai empregos, gerando grande pobreza em vez de respeito ao meio ambiente. As ações do Ministério do Meio Meio Ambiente, na defesa da legislação e dos interesses ambientais com sensibilidade ao desenvolvimento do país de forma sustentável e legítima, contam com nosso total apoio”. (De Olho nos Ruralistas, 26/5/20)
Fonte: Folha de S. Paulo