A. A PRODUÇÃO DE CANA NO BRASIL
A cana-de-açúcar é tão velha quanto ao Brasil. Foi introduzida no Brasil em 1532, destinada principalmente a produção de açúcar. Entretanto, a produção comercial de etanol iniciou se com o Programa Proálcool em 1975. Naquela época, a produção de cana, açúcar e etanol era controlada pelo Instituto de Açúcar e Álcool, que foi extinto pelo Governo Collor em 1990.
Nos dias atuais, a Tabela 1 mostra o retrato da cana no Brasil de 2012 a 2022. Na média geral, a área de cana, no Brasil, recuou 0,66%. Em alguns estados, houve um aumento na área de cana: Bahia (38%), TO (93%), PI (53%), MS (31%), GO (40%) e MG (18%).
O estado de São Paulo, o maior de cana, representando 50% da produção nacional, a área decresceu 5%, no período de 2012 a 2022. Os dados mostram baixíssima previsibilidade da área e da produção de cana para os próximos 5 e 10 anos. A produção pode ficar entre 340 e 350 milhões de toneladas, no estado de São Paulo.
A produção de cana no Brasil, na safra 2021/22, foi de 578.768,1 mil toneladas, sendo 11% na região do Nordeste e 89% na região Centro-Sul. A produtividade de cana na safra passada foi de 69,35 t/h
O Figura 1 mostra os dados históricos da produção de cana no Brasil de 2011 a 2022. Em 2011, houve uma queda substancial na produção de cana, subiu para 665 milhões de t, em 2015/16, e caiu novamente para 568 milhões em 2021/22. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2010), no decênio 2010-2020, fez uma previsão de 1,0 bilhão de t de cana em 2020.
B. A PRODUTIVIDADE DE CANA NO BRASIL
O Figura 2 mostra a produtividade da cana nas regiões Nordeste, Centro-Sul e Brasil, no período de 2010 a 2022. No período, houve uma queda significativa na produtividade da cana, atribuída a vários fatores, principalmente: o clima e a mecanização da colheita.
A produtividade de cana caiu de 90 t por hectare, na década de 2010 para 70 t, em 2022, uma queda significativa de 22,2%. A previsão é que haja um pequeno aumento nos próximos 5 anos, atingindo 75 t/ha.
C. A PRODUÇÃO DE CANA NO ESTADO DE SÃO PAULO
A produção de cana no estado de São Paulo segue o mesmo perfil da produção nacional. Uma queda substancial em 2011/12, se manteve na faixa de 350 milhões de t até 2020 e uma queda brusca na safra 2021/22 (Figura 3.)
D. O PREÇO DO PETRÓLEO E O PREÇO DO ETANOL
No Brasil temos dois tipos de gasolina: a gasolina A com PCI de 36 MJ/L e a gasolina C (com 27% de etanol anidro e PCI de 32,32 MJ/L). O etanol hidratado tem 21,34 MJ/L (dados da ANP). Portanto, a paridade energética entre o etanol hidratado e a gasolina C é 66%. Entretanto, as entidades de classe e a mídia divulgam a paridade de preço do etanol e da gasolina de 70%.
Historicamente, o preço do etanol sempre foi ancorado no preço do petróleo e dos combustíveis fósseis e ainda nas altas taxas de impostos federais e estaduais. Recentemente, o governo retirou os impostos e as taxas da gasolina e, consequentemente, houve uma diminuição nos preços dos combustíveis nos postos. Uma perda significativa para o setor energético, mostrando a vulnerabilidade e a dependência do programa de etanol no Brasil. Isto mostra que o programa de etanol no Brasil, desde a sua criação em 1975, não tem sustentabilidade própria.
Além disso, o Parlamento Europeu anunciou e aprovou a suspensão o uso de combustível fóssil nos motores a combustão, em 2030. Certamente, outros países acompanharão esta decisão da Comunidade Europeia. No Brasil, as montadoras são todas estrangeiras e, com certeza, vão acompanhar as decisões das matrizes de origem. Com isso, haverá uma redução na produção e no consumo de petróleo para transporte, reduzindo significativamente o preço do petróleo no mercado internacional que pode variar de U$ 15,00 a U$20,00 o barril, o que tornará o programa nacional de etanol inviável.
Com estes cenários, a cana-de-açúcar volta ao seu ponto de origem de 1532, e toda a produção será destinada a produção de açúcar. Consequentemente, em 2030-2035, haverá um excesso na produção e nos estoques, reduzindo o preço do açúcar nas Bolsas que pode chegar a U$0,10 por libra. Isto seria o fim do ciclo da cana-de-açúcar e o futuro da cana e do etanol no Brasil na próxima década.
*Claudinei Andreoli, PhD
Presidente da Techbio Consultoria
Pós Doutor em Bioenergia pela Cornell University, Ithaca, NY
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