Presidente da Fecombustíveis aponta principais preocupações do mercado com aumento da mistura do biodiesel no diesel

Presidente da Fecombustíveis aponta principais preocupações do mercado com aumento da mistura do biodiesel no diesel

O aumento da mistura de biodiesel no diesel está deixando o mercado de combustíveis em alerta. Em entrevista exclusiva ao site do Instituto Combustível Legal (ICL), James Thorp Neto, presidente da Fecombustíveis, revela que desde a implementação da obrigatoriedade da mistura de biodiesel no diesel já era possível constatar alguns problemas, e isso está sendo potencializado com o aumento da mistura mínima de 10% para 12%.

“Essa mudança está implicando aumento de custos com manutenção e limpeza de tanques, por conta da formação da chamada borra. O aumento de teor também pode afetar a qualidade do combustível e também impacta no preço, já que o biodiesel é mais caro do que diesel fóssil”, aponta o presidente da Fecombustíveis.

Confira a entrevista completa:

ICL: Desde o dia 01 de abril, a mistura mínima de biodiesel no diesel passou de 10% para 12%, conforme aprovado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em 17 de fevereiro. O cronograma de aumentos graduais do conselho prevê que a mistura deve chegar a 15% até 2026. Nesse contexto, quais as preocupações da revenda com relação à qualidade do combustível?
James Thorp Neto: Essa mudança está implicando aumento de custos com manutenção e limpeza de tanques, por conta da formação da chamada borra. Os postos observam claramente [esse problema] desde o começo da implementação do biodiesel. E com o aumento de teor, isso vai ficando mais sério.

Temos relatos dos revendedores, tudo documentado com fotos… Com a formação da borra, é preciso parar a operação do posto para fazer a limpeza do tanque e o descarte correto. Isso tem um custo elevadíssimo. A borra começa a travar o cabeçote das bombas de abastecimento. Além disso, ela fica retida nos elementos filtrantes. Dessa forma, temos que fazer uma troca mais corriqueira dos elementos filtrantes.

Estamos começando a orientar os sindicatos para, quando chegarem caminhões com esse tipo de reclamação, documentarem com fotos e notas fiscais das manutenções que esses veículos estão precisando fazer. Caminhões que precisam ficar um tempo parados, e têm resíduos de diesel no tanque, estão sujeitos à formação de borra, ocasionando em entupimento dos bicos injetores. Parados, os veículos estão mais propensos à umidade, alimentando as bactérias que formam a borra.

O posto é o último elo da cadeia, antes da entrega do produto ao consumidor final. Quando o consumidor final tem algum problema, é ao posto que ele recorre para poder reclamar.

ICL: A partir dessa mudança, haverá, na sua opinião, mais fiscalização para mitigar possíveis problemas de qualidade?
James Thorp Neto: A gente tem uma grande preocupação com isso. No que diz respeito à fiscalização, a Fecombustíveis não fiscaliza os postos. Mas acreditamos que, com essa mudança no regramento da ANP, a fiscalização vai aumentar para tentar minimizar esses problemas que estão acontecendo.

ICL: O senhor acha que existe possibilidade de distribuidoras oportunistas burlarem a regulamentação e venderem o diesel sem o biodiesel, utilizando desse artifício para reduzir artificialmente o preço de custo do produto?
James Thorp Neto: Não acredito que uma distribuidora séria vai querer burlar para fazer errado. Fraudes existem no mercado como um todo, mas uma distribuidora séria não vai fazer isso.

ICL: O custo do produto pode aumentar com essa mudança?
James Thorp Neto: Já aumentou. No dia 01 de abril, quando houve a mudança de 10% para 12%, como o biodiesel hoje está mais caro do que o diesel fóssil, já houve aumento de custo do produto, algo em torno de três centavos. Isso preocupa, principalmente o consumidor. E quando acontecem essas mudanças, o posto que é crucificado, porque compra mais caro e, teoricamente, vai vender mais caro. É uma decisão individual de cada empresário. Aí, a população acha que é uma elevação de margem por parte do posto, quando, na verdade, é apenas um repasse, pois o posto foi onerado na questão do custo.

ICL: A Fecombustíveis tem levado essas questões e preocupações às autoridades?
James Thorp Neto: Sim, quando temos oportunidade de falar em audiência pública, ou fazer nota conjunta com outras entidades, a gente relata as preocupações. Não somos contra o programa de biodiesel, contra a agricultura familiar… Somos favoráveis. O que a gente quer é um controle maior de qualidade, para que os postos não sejam crucificados injustamente. Como eu disse anteriormente, o posto é o último elo da cadeia, ele que tem o contato com o consumidor. Quando o consumidor tem algum problema com o veículo, ele vai cobrar a quem? Ao produtor de biodiesel? À distribuidora? Não. Ele vai cobrar do posto, que entregou o produto a ele.

 

ICL