Produtores de biodiesel rebatem impacto no preço final com aumento da mistura

Produtores de biodiesel rebatem impacto no preço final com aumento da mistura

Produtores de biodiesel calculam um impacto de R$ 0,01 centavo no preço final do diesel vendido nos postos brasileiros a cada ponto percentual a mais de biocombustível presente na mistura.

Hoje, os 10% de biodiesel no diesel de petróleo representam R$ 0,53 centavos do valor total. Com um eventual aumento para 12% este ano, como quer o setor, esse valor iria para R$ 0,63.

Descontando a parcela do diesel que será substituída, o impacto final seria de R$ 0,02 centavos, estima a União Brasileira do Biodiesel (Ubrabio).

A associação usa como referência o preço do diesel S10, com menor teor de enxofre, que representa mais da metade do mercado.

Embora o biocombustível experimente uma trajetória de queda – depois de atingir R$ 6,19/litro em dezembro do ano passado, iniciou fevereiro a R$ 5,29/litro, segundo a ANP – seu impacto no custo do combustível mais usado no Brasil é um dos argumentos dos transportadores para frear o aumento de mistura em discussão no governo.

Pela previsão original de 2021, o teor de adição do biocombustível ao fóssil deveria estar em 14% (B14), com previsão de chegar a 15% (B15).

O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) deve se reunir em março pela primeira vez no governo Lula (PT), com o futuro da política de biodiesel em pauta.

O novo governo precisa alinhar expectativas da indústria, que sofreu com sucessivos cortes durante a gestão de Jair Bolsonaro (PL) e aguarda uma decisão favorável para recuperar a demanda interna e a produção do combustível derivado, principalmente, do óleo de soja.

Hoje, o setor amarga mais de 50% de ociosidade e precisa de previsibilidade para planejar as compras de matéria-prima e firmar contratos com a agricultura familiar.

Pressão do setor de transportes

De outro lado, a pressão dos transportadores é pela manutenção do B10, sob o risco de que a elevação do percentual de renováveis no diesel possa encarecer o frete.

Na semana de 12 a 18 de fevereiro, o diesel B (fóssil + biodiesel) era cotado em média a R$ 6,10/litro. Desse total, R$ 3,72 corresponde à parcela da Petrobras.

Na semana passada, a Confederação Nacional do Transporte (CNT) divulgou uma nota defendendo “estudos independentes que apontem o teor mais favorável”. A organização elenca três argumentos contrários ao aumento de percentual: maior poluição, panes nos motores e custos.

“O eventual acréscimo do teor do biodiesel irá gerar custos adicionais ao valor do frete, que serão transferidos a toda população, traduzindo-se em acréscimos inflacionários e encarecendo ainda mais o transporte e, por consequência, os produtos consumidos e exportados”, diz a nota.

Em resposta, as associações de produtores Abiove (óleos vegetais), Aprobio e Ubrabio (biodiesel) afirmam que aumentar o processamento interno da soja para produzir óleo para o biodiesel eleva a oferta de farelo no mercado brasileiro, com efeitos deflacionários.

Em nota, as entidades citam relatório publicado no final de 2022 pelo Grupo Técnico da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo de transição indicando que o B15 tem um efeito deflacionário de 0,25%.

Isso porque uma das consequências da maior produção de biodiesel é o aumento da oferta de farelo de soja para a indústria de rações, reduzindo os custos para as cadeias de carnes, ovos e lácteos.

Enquanto, na bomba, aos preços atuais, o aumento de 10% para 15%, implicaria uma variação de preços do diesel ao consumidor de cinco centavos por litro – um impacto estimado no IPCA de 0,002 pontos percentuais, de acordo com o GT.

“No computo final, o biodiesel reduziria em 0,23% os preços do combustível aos consumidores”, estimam os produtores.

A indústria também alega que o aumento da participação do biocombustível no valor do diesel B tem impacto “insignificante”.

Em 2021, um estudo do setor mostrou que o biodiesel representou apenas 0,1 ponto percentual na formação do preço do diesel vendido ao consumidor, entre janeiro e outubro daquele ano, em comparação aos 8,5 pontos percentuais do óleo fóssil. Na época, com B12 vigente, a participação do biocombustível no custo final do diesel chegou a 13,7%.

MDIC, MAPA e MDA declaram voto a favor

Por enquanto, o setor conta com apoio de pelo menos três ministérios: Indústria e Comércio (MDIC), Agricultura (MAPA) e Desenvolvimento Agrário (MDA).

Nesta terça (28), em reunião com a Frente Parlamentar Mista do Biodiesel (FPBio), o ministro Luiz Paulo Teixeira (MDA), afirmou que vai defender o aumento da mistura na próxima reunião do CNPE.

O vice-presidente da República e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e o ministro Carlos Fávaro (MAPA) também se manifestaram publicamente a favor nos últimos dias.

“Nós precisamos aumentar o percentual do biodiesel no diesel. Está em 10%, já foi 13%, foi reduzido no governo passado para 10%. Isso prejudica o meio ambiente, prejudica a indústria, gera menos emprego, agrega menos valor”, afirmou o vice-presidente, escolhido pelo setor para intermediar as discussões sobre a elevação do mandato. A declaração foi feita após reunião com Fávaro na semana passada.

Fávaro foi o interlocutor do agro durante a campanha presidencial, e defendeu em diversas ocasiões o B15.

Nesta segunda (27), voltou a manifestar apoio ao avanço gradual do mandato do biocombustível, até alcançar o percentual de 15%.“Primeiro da forma gradativa de voltarmos até B15, com B12, B13 ou B14 atendendo a demanda de mercado, a capacidade da indústria e também ouvindo a ciência para que a ciência valide o B20 num futuro próximo”, disse ao Estadão.

 

Agência Epbr