Na cultura canavieira, o manejo regenerativo vem conquistando cada vez mais espaço na produção em larga escala, em função dos seus benefícios relacionados ao aumento do rendimento agrícola, à redução de custos e à capacidade de potencializar a economia circular dentro de um sistema produtivo.
Diferentemente do manejo convencional, que condiciona o solo apenas em suas características físicas e químicas, no manejo regenerativo, além de se considerar todos esses fatores, as características biológicas ganham protagonismo através da utilização de fertilizantes organominerais, biológicos nutricionais, biodefensivos e bioestimulantes naturais.
A utilização destes bioinsumos vem aumentando a biodiversidade e, por consequência, trazendo impactos notórios no que se refere ao aumento da saúde e resiliência do sistema solo-planta. Dentro das práticas realizadas no manejo regenerativo, algumas são de fato disruptivas no setor sucroenergético, como os biológicos fixadores de nitrogênio, os solubilizadores de fósforo, as cepas de bactérias e os fungos que controlam pragas e doenças.
Outras, no entanto, são práticas antigas que vinham sendo deixadas de lado, mas que voltaram à tona e hoje acontecem de forma atualizada, em meio a novidades que incluem a utilização de compostagem e a rotação de culturas. Do lado da compostagem, temos uma utilização forte de subprodutos industriais, como torta de filtro e fuligem, que são enriquecidas com esterco, fosfatos naturais, entre outras fontes voltadas ao complemento nutricional, além de produtos biológicos que auxiliam no processo de preparo da compostagem e atuam como inoculantes.
Esta prática, além de fornecer nutrientes, também é uma excelente fonte de carbono natural, fazendo com que ele se torne fértil para aumento da microbiota do solo. Na BP Bunge Bioenergia, já aumentamos em 800% a utilização de compostagem no plantio e, para próxima safra, estamos posicionados para fechar 100% de nossas lavouras com o uso desse recurso. Além de reduzir em 7% o custo de insumos na formação das plantações, essa prática proporciona acréscimos de, aproximadamente, 15 a 20 toneladas na produtividade de cana-planta, gerando ainda efeitos residuais bem positivos nos demais cortes.
Já o conceito da rotação de cultura – que é uma outra antiga prática utilizada para cobertura e proteção dos solos, formação de vazios sanitários e aporte nutricional, principalmente com uso de leguminosas com habilidade nodular -, vem-se expandindo atualmente. Além dos benefícios já mencionados, a rotação de culturas com mix de sementes, com foco em aumento da biodiversidade do microbioma e utilização de gramíneas como Brachiaria ruziziensis, vem ganhando espaço por conta do volume de massa verde incorporada ao solo, além do aumento expressivo da quantidade de carbono na forma de ácidos orgânicos, que é um excelente insumo para proliferação de microrganismos.
Os resultados são tão positivos que já projetamos um aumento de 150% das áreas em que utilizamos essa prática para o próximo ano, além do investimento em inovações, como a utilização de inoculantes nas sementes de rotação. Também estamos explorando todas as modalidades ao tema sempre com foco em aumento de biodiversidade e fornecimento de matéria orgânica.
Desde a sua fundação, a BP Bunge já investiu mais de R$ 300 milhões em soluções de manejo regenerativo, gerando ganhos expressivos em seu rendimento agrícola, além de reduções de custos. A agricultura regenerativa, tema em que a empresa é hoje reconhecida como referência no setor bioenergético brasileiro, consolidou-se como nossa principal estratégica agronômica, sendo um manejo facilitador para alavancarmos a produtividade de forma sustentável e com baixo custo. Dessa forma, a companhia segue investindo em aquisição de conhecimento técnico, gerado através de pesquisas internas sobre o assunto, sempre em busca de novas soluções agronômicas.
Além disso, o processo de experimentação relacionado a essa temática também tem desempenhado um papel importante no avanço da agricultura sustentável na companhia. Todas as nossas experimentações são feitas em larga escala, para que haja uma boa representatividade, uma vez que temos uma ampla estrutura que abrange 11 unidades, em cinco estados diferentes.
Além disso, os campos experimentais são sempre acompanhados por consultores e pesquisadores de universidades, visando garantir respaldo e segurança na implementação de processos. Hoje, contamos com uma equipe dedicada para este trabalho que acompanha desde a ideação até o resultado, a partir do qual definimos a possibilidade de entrada de novos procedimentos no nosso protocolo técnico.
O sucesso que estamos tendo neste processo de experimentação está relacionado a dois pontos específicos: seleção dos protocolos a serem estudados e capacidade de implementação em larga escala. A seleção dos protocolos tem início no processo de ideação, que obrigatoriamente precisa estar diretamente ligado à nossa estratégia de negócio.
A motivação para iniciar uma experimentação não pode ser exclusivamente técnica, mas parte de uma análise criteriosa de custos, pois, afinal, nosso objetivo é garantir o maior rendimento de açúcar por hectare com o menor custo, sempre respeitando o nosso principal valor, que é a segurança das pessoas.
Após o término de todo o processo de experimentação e confirmados os ganhos, partimos para a rápida implementação, pois temos como premissa não negligenciar os resultados. Para isso, contamos uma estrutura técnica que hoje é centralizada para garantir a padronização e a velocidade do processo.
Além disso, destaca-se como um dos diferenciais da empresa nossa capacidade de execução, fator sem o qual não seria possível a expansão destas práticas da forma significativa com a qual temos atuado e que nos coloca na posição de maior referência de manejo regenerativo do setor.
Mesmo com todo esse avanço dos últimos anos e dos excelentes resultados que colhemos na empresa, penso que o setor sucroenergético como um todo ainda tem questões a evoluir quando o assunto é o manejo regenerativo. O desafio de aumento de produtividade e custos, em meio à nossa longa cadeia de valor e ao alto número de variáveis que interferem no nosso negócio, continua muito grande, além da necessidade de ampliar investimentos em questões como os estudos para controle de doenças de rizoma e folha, por exemplo, que hoje ainda são baixos.
Sobre esses temas mencionados, há hoje na agricultura regenerativa muitas coisas que já estão em estágio experimental, outras em fase de construção de ideia e escopo. Na BP Bunge, além de caminharmos firmes para zerar as dependências de fertilizantes químicos nos próximos três anos, vamos continuar priorizando fortemente a utilização de biológicos no controle de pragas e doenças.
Para o manejo de pragas, a nossa ambição é fazer o controle das principais delas com 100% de produtos biológicos nos próximos cinco anos. Neste ano, especialmente, as nossas intervenções com bioinseticidas são maiores do que com produtos químicos; além disso, 100% do nosso canavial já está sendo tratado com fungicidas que são 50% químicos e 50% biológicos.
Hoje, a disponibilidade de soluções biológicas para esse controle aumentou significativamente e estamos testando várias opções com resultados preliminares que se mostram muito promissores, levando-me inclusive a projetar que, em breve, teremos quase 100% de controle biológico para fungos para folha e raiz.
Diante de tudo isso, é notório que vivemos um momento pujante na agricultura bioenergética, com inúmeras possibilidades e inovações que contribuem para que nossas operações estejam cada vez mais alinhadas com os compromissos de sustentabilidade, que hoje são prioritários em todo o mundo. Na BP Bunge Bioenergia essa é uma questão central do negócio, por isso, seguiremos firmes no avanço do manejo regenerativo, buscando novas tecnologias para melhorar cada vez mais a performance de nossas operações.
*Mário Dias da Costa Filho - Gerente Corporativo de Desenvolvimento Agronômico da BPBunge Bioenergia
Revista Opiniões (Mai-Jul 2024 - OpAA80)