São Martinho ‘varre’ 70 anos de dados para ver seu futuro

São Martinho ‘varre’ 70 anos de dados para ver seu futuro

Em mais uma tacada tecnológica, a São Martinho fechou um acordo com a Qualcomm Brasil para o desenvolvimento conjunto de aplicações, com implementação de inteligência artificial e apoio da infraestrutura de conexão 5G que a empresa está levando para suas lavouras. O objetivo é resolver gargalos das operações agrícolas e industriais da companhia sucroalcooleira e desenvolver soluções inclusive para “o que a vista ainda não alcança”, diz Fábio Venturelli, CEO da São Martinho.

Por dois anos, as equipes da sucroalcooleira e da empresa de tecnologia vão se debruçar sobre os tipos de dados existentes no repertório da São Martinho, de mais de 70 anos, e desenvolver soluções com inteligência artificial aplicada a processos nos canaviais, nas operações industriais e na logística interna da cana, que vai da colheita à entrega da matéria-prima nas quatro usinas do grupo. A colaboração deve explorar “possibilidades de modelos de negócios baseadas em conectividade, inteligência artificial e aplicações para uso no agronegócio”, Luiz Tonizi, presidente da Qualcomm para a América Latina.

Para treinar a inteligência artificial, o Centro de Inovação que São Martinho criou no ano passado reuniu e digitalizou dados das operações agroindustriais dos mais diversos tipos, como fotografias de lavouras, registrados e armazenados desde os primórdios da companhia. “A inteligência artificial precisa aprender com a experiência. Na maioria dos processos, olha-se para a frente, mas, em um centro que traz dados do passado, pode-se avançar mais no desenvolvimento. Isso vai ser de fundamental importância”, afirma Venturelli.

Algumas possibilidades de desenvolvimento já estão sendo aventadas, principalmente na área de segurança do trabalho. Hoje, os trabalhadores destacados para atuar na manutenção de equipamentos passam por um treinamento em salas com realidade virtual em que ele simula os movimentos da intervenção antes de executá-los na prática. Com soluções em inteligência artificial, esse treinamento pode ser aprimorado. “Talvez dê para fazer com um óculos de noção precisa”, cogita Venturelli.

A própria rede de 5G implantada até agora já permitiu avanços em segurança do trabalho. Com a baixa latência e alto grau de granularidade da rede, as câmeras que hoje estão dentro das colhedoras de cana em campo já captam o comportamento das pupilas dos operadores das máquinas, identificando se o trabalhador está começando a entrar em sonolência. Se isso ocorre, um motorista virtual entra em ação e mantém o operador acordado até que ele volte à base e passe por uma “reenergização”, conta o executivo. “No 4G, conseguíamos ver os dados da câmera da cabine, mas não pegaríamos a granularidade da imagem da íris da pessoa, que permitiria uma ação que prevenisse contra o risco de acidente”, compara.

Análise de imagens

Com inteligência artificial, até a análise de imagens poderá ser automatizada. “Estamos buscando como trazer uma visão computacional para dentro da fazenda. A São Martinho tem áreas enormes. Podemos ter câmeras inteligentes, que podem estar em um drone, um rover [veículo espacial] ou um avião, que captem imagem em tempo real com inteligência artificial, sem ter alguém lendo, mas [com a tecnologia] por si só tomando decisões”, afirma Tonizi.

As câmeras associadas à inteligência artificial poderão, em algum momento, não apenas identificar e atuar sobre problemas localizados de pragas, por exemplo, mas também podem identificar princípios de incêndio e mobilizar equipes brigadistas. “Tem um tempo de reação que vai ser muito menor para ativar qualquer sistema de segurança. Pode ter um olho no caminhão que está fazendo o combate ao incêndio”, exemplifica Venturelli.

Esse nível de detalhamento e agilidade será crucial para melhorar o controle sobre uma operação que hoje cobre 300 mil hectares e que movimenta cana por 11 mil quilômetros de estradas de terra, carregando 22 milhões de toneladas de cana por safra. O plano, com a São Martinho, é criar uma espécie de “Big Brother” em toda essa extensão, com apoio da inteligência artificial, diz Tonizi.

O desenvolvimento de novas aplicações também permitirá à São Martinho reduzir custos de produção correntes e até otimizar a avaliação de risco para contratar seguros. “Em algumas fazendas que acompanhamos, o produtor faz seguro baseado em dados de 30 a 40 anos, com dados registrados nos bancos, mas colocam câmeras sem capacidade de intervenções ou usam imagem de satélite sem tempo de atualização”.

 

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