Os preços pouco competitivos do etanol em relação à gasolina levaram a uma revisão para baixo dos preços-alvo das ações de Raízen e São Martinho por parte de UBS e BB Investimentos, mesmo com os analistas dos dois bancos apontando bons fundamentos de longo prazo para as empresas, de acordo com relatórios publicados nesta terça-feira.
O UBS BB rebaixou o preço-alvo para as ações preferenciais da Raízen (RAIZ4) de R$8,50 para R$7,50, mas manteve a recomendação de compra, com os analistas Luiz Carvalho, Matheus Enfeldt e Tasso Vasconcellos enxergando uma “inigualável escala de moagem de cana-de-açúcar” da companhia, o que contribui para sua expansão em renováveis e uma melhora das receitas da empresa ante seus pares.
“A Raízen entrega melhorias no segmento agrícola, tem acelerado os novos projetos em renováveis e captura melhores preços”, disseram os analistas do UBS, que destacaram ainda o portfólio da companhia como um diferencial, com segmentos que se complementam, “como em um cubo mágico”.
Mas no contexto geral do setor, a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, ICMS, para a gasolina e o diesel teve impacto direto nos preços do etanol.
Esse reajuste tarifário, por outro lado, também levou a uma ligeira melhora nas estimativas para o segmento de renováveis, já que reduz os custos para os produtores. Além disso, no caso da Raízen, que atua na distribuição, essa limitação do ICMS sobre gasolina e diesel também foi positiva.
“Impostos mais baixos significam menos espaço para uma potencial evasão fiscal por parte de alguns distribuidores, o que deverá contribuir para abrandar a concorrência no setor e apoiar melhores retornos para grandes empresas de distribuição”, disseram os analistas.
Boas perspectivas já precificadas
O BB Investimentos fixou novo preço-alvo para as ações ordinárias da São Martinho (SMTO3) em R$34, sem informar o patamar anterior, e manteve recomendação neutra para o papel, apesar dos “resultados robustos ao longo dos últimos trimestres, com uma estratégia bem acertada de ‘hedge’ para o açúcar e aumento nas vendas de etanol em momentos estratégicos”. De acordo com relatório assinado pelo analista Daniel Cobucci, as boas perspectivas para a empresa já foram “precificadas na cotação atual”.
O analista do BB também citou a questão dos preços do etanol pela queda na gasolina, “o que deve levar a uma safra nacional com maior direcionamento de mix para o açúcar e margens menores no biocombustível”.
Além da redução do ICMS, os recentes cortes na gasolina, em linha com os preços internacionais do petróleo, também pressionam as margens dos produtores de etanol, já que o combustível deve manter paridade de aproximadamente 70% ante a gasolina, por conta da diferença de eficiência entre os dois combustíveis.
Esse contexto setorial se soma ao aumento de gastos com expansão, anunciado no último “guidance” da companhia, que levou a uma queda de 46% nas ações da São Martinho desde junho.
Para o analista do BB, contudo, “a São Martinho está bem estruturada para lidar com algumas dessas adversidades, com a boa gestão do ‘hedge’, que já garantiu cerca de 45% do que estimamos para a safra com faixas de preços elevadas”. Além disso, os receios de recessão global devem derrubar os preços de fertilizantes e do diesel, o que é positivo para a São Martinho.
Por fim, Cobucci ressaltou a estratégia da companhia de aproveitar uma janela de oportunidade ao enviar maiores esforços para a exportação do etanol em um momento de alta nos preços do combustível na Europa.
As ações ordinárias da São Martinho fecharam o pregão desta terça-feira em queda de 4,04%, a R$27,33, enquanto as preferenciais da Raízen caíram 4,82%, a R$4,15. No ano, os papéis recuam 19,14% e 35,24%,respectivamente.
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