Esta é a era da narrativa. Como diz o presidente Clinton, a era das notícias “fact free”. Paradoxalmente, a Lei Rouanet e o agronegócio - uma à esquerda, o outro, à direita - sofrem da mesma generalização injusta.
A Lei Rouanet é fundamental para a cultura, que é fundamental para o Brasil. Tirando os Estados Unidos, não tem cultura sem subsídio no mundo. Já a agricultura, a nossa indústria global, é altamente sustentável.
A generalização vinda dos dois lados dominantes da disputa política hoje tenta reduzir ambas aos seus piores denominadores comuns, o que é uma injustiça, uma inverdade e uma grande perda de “soft” e “hard power” do Brasil.
Há recriminações ao agro e à cultura que são também verdades, mas meias verdades. Pilantras, que existem em todas as profissões e em todos os setores, se aproveitam da Lei Rouanet: estes, na verdade, estão fora da lei. Já a nossa agricultura, como mostra o livro “Feeding the World” (de Herbert Klein e Francisco Vidal Luna), é altamente sustentável.
Mas também é fato que existe uma minoria do agro que faz parte do que eu chamo de ogro negócio. Esses produtores também estão fora da lei.
Ambos, cultura e agro, são vítimas das narrativas “fact free”, criadas e disseminadas por seus inimigos. O agro toma tiro da esquerda e a Lei Rouanet, da direita, por motivos políticos, vítimas da polarização e do seu indispensável companheiro, o discurso de ódio.
Caetano Veloso diz, de maneira muito equilibrada e bela, em sua música “Vamos Comer”: “E quem vai equacionar as pressões do PT, da UDR, e fazer dessa vergonha uma nação?”
Enquanto essas narrativas forem espalhadas por motivos políticos, essas duas indústrias globais brasileiras vão sofrer economicamente. E, com elas, o Brasil. O agro é um pilar da economia brasileira. Com safras recordes sucessivas, ele traz bilhões e bilhões de dólares de países lá fora e espalha riqueza país adentro. Já a cultura é uma atividade econômica capilar, geradora de muitos empregos e conhecimento, e é também um pilar do “soft power” brasileiro: a música de João Gilberto, o traço de Niemeyer e nossas novelas encantam o mundo.
Mas o que você, meu querido ou querida CEO, CFO e CMO, tem a ver com tudo isso? Primeiro, não existe mais nada B2B. Essa é a era do consumidor ativista. Que não vai comprar o seu produto se não aprovar a forma como você o produz. E o consumidor é paradoxal. Ele quer ESG, mas não quer pagar mais caro por isso. Ele quer o etanol verde, mas desde que desde que seja mais barato do que o preço da gasolina.
Mesmos as indústrias que não fazem propaganda porque dizem que não vendem nada diretamente ao público estão equivocadas. Elas vendem sim. Chegam, inclusive, a vender parte delas mesmas, quando abrem o seu capital no mercado.
Nas minhas palestras, eu digo brincando que é preciso lembrar que a palavra “reputação” contém “puta ação” (me desculpem o palavrão).
Esta coluna usa dois exemplos inequívocos para chamar à atenção que estratégia de comunicação é cuidar de todas as peças que constroem ou desconstroem o seu negócio.
Na era da narrativa, a percepção é a verdade.
*Nizan Guanaes é estrategista da N Ideias Consultoria
Valor Econômico