A crise é de energia e não de petróleo - Por Celso Ming

A crise é de energia e não de petróleo - Por Celso Ming

Guerra na Ucrânia apenas intensificou movimento que já vinha ganhando forma com diversos países decidindo apressar o processo de transição energética para cumprir os acordos de redução de emissões de gases do efeito estufa

Certas narrativas desta guerra na Ucrânia passam a falsa impressão de que a atual crise do petróleo e do gás foi criada pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Não se trata de novo choque do petróleo, mas de uma crise global de energia. Os preços do petróleo começaram a decolar dos então US$ 60 por barril já em abril de 2021. A guerra apenas exacerbou o que já estava aí.

Um dos fatores que começaram a puxar os preços do petróleo e do gás foram as decisões de diversos governo de apressar a transição da energia fóssil para a energia limpa. Como os investimentos em petróleo e gás têm prazo longo de maturação (entre sete a dez anos da descoberta até o início da produção), as empresas de petróleo desaceleraram seus investimentos, porque levaram a sério as decisões de substituição de motores a gasolina e diesel por motores elétricos e os novos compromissos ambientais.

A Europa, por sua vez, descuidou de investir em energia renovável (especialmente solar e eólica), seja porque vem enfrentando baixa incidência de ventos, seja porque ainda não descobriu como armazenar essa energia intermitente. Preferiu apostar no fornecimento de gás da Rússia e afundou nesta dependência.

No último ano, a China aumentou em 20% suas importações de gás, sobre as de 2020, porque seu consumo de energia cresceu. Em parte por falta de insumos, a produção de gás de xisto nos Estados Unidos se mantém estagnada, apesar dos apelos do presidente Joe Biden para que as empresas aumentem seus investimentos no setor.

Mas há outros impeditivos de natureza geopolítica que vêm segurando a produção de petróleo e gás. O Irã é um dos maiores produtores mundiais de petróleo, mas a falta de um acordo nuclear com os Estados Unidos colocou em marcha o boicote às exportações iranianas. A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, mas também enfrenta tanto sanções comerciais como degradação de suas instalações.

Certo, a dependência de suprimento do gás da Rússia pela Europa é excessiva. Mas, também, é excessiva a dependência do petróleo fornecido pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (cerca de 30% do mercado mundial), bloco que não sofre sanções, embora não se notabilize pela defesa dos ideais democráticos.

Nesse ambiente, o novo ponto de estabilização dos preços do petróleo é tema controverso. Questão mais relevante é a de que a crise mais ampla é de energia. Não há sincronia entre os prazos de cumprimento das metas ambientais e a oferta de energia limpa. Em boa medida, essa crise está sendo precipitada pela necessidade de garantir as metas de redução de carbono.

*Celso Ming é colunista diário da área econômica do jornal O Estado de S. Paulo, ele também é comentarista diário da Rede TV e da Rádio Eldorado

 

O ESTADO DE S. PAULO

 

Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores. As opiniões neles emitidas não exprimem, necessariamente, o ponto de vista do Grupo IDEA.O nosso papel é apenas a veiculação do conteúdo.

A crise é de energia e não de petróleo - Por Celso Ming

Guerra na Ucrânia apenas intensificou movimento que já vinha ganhando forma com diversos países decidindo apressar o processo de transição energética para cumprir os acordos de redução de emissões de gases do efeito estufa

Certas narrativas desta guerra na Ucrânia passam a falsa impressão de que a atual crise do petróleo e do gás foi criada pelo presidente russo, Vladimir Putin.

Não se trata de novo choque do petróleo, mas de uma crise global de energia. Os preços do petróleo começaram a decolar dos então US$ 60 por barril já em abril de 2021. A guerra apenas exacerbou o que já estava aí.

Um dos fatores que começaram a puxar os preços do petróleo e do gás foram as decisões de diversos governo de apressar a transição da energia fóssil para a energia limpa. Como os investimentos em petróleo e gás têm prazo longo de maturação (entre sete a dez anos da descoberta até o início da produção), as empresas de petróleo desaceleraram seus investimentos, porque levaram a sério as decisões de substituição de motores a gasolina e diesel por motores elétricos e os novos compromissos ambientais.

A Europa, por sua vez, descuidou de investir em energia renovável (especialmente solar e eólica), seja porque vem enfrentando baixa incidência de ventos, seja porque ainda não descobriu como armazenar essa energia intermitente. Preferiu apostar no fornecimento de gás da Rússia e afundou nesta dependência.

No último ano, a China aumentou em 20% suas importações de gás, sobre as de 2020, porque seu consumo de energia cresceu. Em parte por falta de insumos, a produção de gás de xisto nos Estados Unidos se mantém estagnada, apesar dos apelos do presidente Joe Biden para que as empresas aumentem seus investimentos no setor.

Mas há outros impeditivos de natureza geopolítica que vêm segurando a produção de petróleo e gás. O Irã é um dos maiores produtores mundiais de petróleo, mas a falta de um acordo nuclear com os Estados Unidos colocou em marcha o boicote às exportações iranianas. A Venezuela tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo, mas também enfrenta tanto sanções comerciais como degradação de suas instalações.

Certo, a dependência de suprimento do gás da Rússia pela Europa é excessiva. Mas, também, é excessiva a dependência do petróleo fornecido pelo cartel da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (cerca de 30% do mercado mundial), bloco que não sofre sanções, embora não se notabilize pela defesa dos ideais democráticos.

Nesse ambiente, o novo ponto de estabilização dos preços do petróleo é tema controverso. Questão mais relevante é a de que a crise mais ampla é de energia. Não há sincronia entre os prazos de cumprimento das metas ambientais e a oferta de energia limpa. Em boa medida, essa crise está sendo precipitada pela necessidade de garantir as metas de redução de carbono.

*Celso Ming é colunista diário da área econômica do jornal O Estado de S. Paulo, ele também é comentarista diário da Rede TV e da Rádio Eldorado

 

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