Depois da seca, Tereos prevê recuperação na safra 2022/23

Com usinas situadas em uma das regiões mais prejudicadas pela seca do ano passado no Centro-Sul, a Tereos Açúcar e Energia Brasil, do grupo francês Tereos, ainda vai ouvir neste ano alguns ecos das intempéries de 2021. Mas a companhia espera que a nova safra (2022/23), que começou em abril, seja o início de uma recuperação que ainda poderá levar mais umas duas temporadas para se completar, e conta com o mercado externo de açúcar e etanol para consolidar esse caminho.

As oito usinas da Tereos no país, muitas das quais próximas a São José do Rio Preto (SP), processaram na safra 2021/22, que terminou em março, 15,6 milhões de toneladas de cana, 25% menos cana do que na temporada anterior. Em relação à média dos últimos ciclos, o volume foi 20% inferior.

O tombo foi determinado basicamente pelos efeitos da seca e de três episódios de geadas que golpearam a produtividade das lavouras. Também houve casos de incêndio, mas proporcionalmente menores que na média do segmento na safra, segundo o CEO da Tereos Açúcar e Energia Brasil, Pierre Santoul.

A quebra de produtividade ficou em linha com a registrado na macrorregião de São José do Rio Preto (SP) - que foi de 24,5%, de acordo com dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) apresentados pela União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica) no ano passado.

Medidas atenuantes foram tomadas, como irrigação de salvamento nas áreas mais afetadas pela seca, monitoramento por satélite e uso de drones para identificar necessidades de replantio de linhas de cana afetadas, além do aumento do gerenciamento das áreas tradicionalmente mais afetadas por geadas. A companhia ainda não divulgou seus resultados financeiros na última safra.

Agora, o desafio será garantir alguma recuperação da produtividade, em meio à inflação de custos de tratos culturais e plantio de cana. A expectativa da companhia no momento é que a moagem desta safra alcance 17 milhões de toneladas - ainda abaixo da média histórica. O plano de recuperação é assentado basicamente em produtividade, já que a área de cultivo tende a permanecer a mesma dos últimos anos, em torno de 300 mil hectares.

Segundo Santoul, a pressão inflacionária está inclusive acelerando algumas medidas de “economia circular”, como o aumento do uso de vinhaça (resíduo da produção de etanol) nas lavouras em substituição a alguns fertilizantes, cujos preços dispararam.

Além disso, a companhia, que já possui uma planta de biogás em operação voltada à geração de eletricidade, também está trabalhando para conseguir, um dia, substituir o diesel usado em sua frota agrícola por biometano - mas, por enquanto, o plano está sendo testado.

O que deve apoiar a recuperação da companhia nesta nova safra são os preços favoráveis de açúcar - um cenário garantido, lembra Santoul, pelas turbulências geopolíticas. “As perspectivas de preço de açúcar continuam positivas, mas com suporte forte da crise da Ucrânia e do preço do petróleo. Já quando se olha para oferta e demanda mundial, a previsão é de superavit de produção”, diz.

O horizonte que a empresa vê para o mercado etanol é mais turvo, dada a volatilidade do mercado interno de combustíveis. Com isso, a Tereos espera, por ora, aumentar a parcela de cana direcionada à produção de açúcar - de 62%, na safra passada, para 65% nesta.

Para reduzir ainda mais sua exposição ao incerto mercado doméstico de etanol em ano eleitoral, a Tereos planeja ampliar as exportações do biocombustível, já que agora conta com nova certificação para vender à Califórnia. A empresa obteve em março a certificação com a menor nota de intensidade de carbono entre as usinas de cana brasileiras cadastradas na nova metodologia do governo do Estado americano. Outros mercados internacionais em vista são a Europa e a Ásia.

A recuperação da moagem também deve resultar em aumento da cogeração de energia a partir da queima de bagaço de cana. A expectativa é de avanço de 15,7%, para 1,4 mil gigawatts-hora (GWh). A geração a partir do biogás ainda é pequena, mas Santoul lembra que o mercado paga um valor maior por esta energia ainda mais “renovável”.

 

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