Queda na demanda por etanol afeta lucro e receita da São Martinho

Queda na demanda por etanol afeta lucro e receita da São Martinho

Resultado líquido ficou em R$ 220,3 milhões

A São Martinho, uma das principais indústrias produtoras de açúcar e etanol do Brasil, fechou o primeiro trimestre da safra 2023/24 (abril a junho), com um lucro líquido de R$ 220,3 milhões, retração de 0,6% se comparado com o resultado em igual período da safra passada.

A receita líquida da companhia caiu 20,7% no período, para 1,353 bilhão, e o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado foi 36,4% menor, somando R$ 557,2 milhões. A margem Ebitda ajustada caiu para 41,2% no primeiro trimestre do atual ciclo.

“Após cinco anos sem chuvas relevantes, a safra começou com um volume de precipitação que foi uma surpresa. Com isso, produzimos menos e reduzimos também o volume de vendas ", disse à reportagem Fábio Venturelli, CEO da São Martinho.
Os resultados da empresa foram afetados negativamente pelas vendas no segmento de etanol. A receita líquida com as vendas registrou queda 58,4% nos três primeiros meses da safra 2023/24 em relação ao mesmo período da temporada anterior, somando R$ 434,6 milhões, reflexo dos menores preços (-19,7%) e volumes (-48,2%) de comercialização no período.
“A defasagem no preço da gasolina acabou impactando o resultado do etanol, que também está muito barato e hoje tem vantagem sobre a gasolina com uma grande economia para o consumidor, mas ele ainda não se atentou a isso”, pontua Venturelli.

Nem mesmo as mudanças tributárias promovidas pelo governo no final de março, com uma alíquota fixa de ICMS para a gasolina em todos os Estados acima da carga de impostos, foi capaz de beneficiar as vendas do biocombustível na São Martinho.
“Esse ganho tributário que poderia beneficiar o etanol foi consumido pela defasagem no preço da gasolina. O cenário fortaleceu a demanda retraída por etanol e impactou a nossa receita”, destacou Felipe Vicchiato, diretor financeiro da empresa.
Em relação ao açúcar, a receita líquida com as vendas somou R$ 766,5 milhões nos três primeiros meses do atual ciclo, crescimento de 49,2%, motivado pela combinação de melhores preços (+22,6%) e maior volume (+21,7%) no período.
Contribuiu para esse resultado a valorização do açúcar na bolsa de Nova York, que neste ano acumula alta de 29,6%, segundo cálculos do Valor Data.
“100% do nosso açúcar é destinado para exportação e aproveitamos essa alta do preço [em Nova York] para fazer um hedge antecipado de nove meses, mas o valor hoje está melhor se comparado com aquele negociado à época”, lembrou Vicchiato.

Dados operacionais
De abril até o fim de junho, a moagem de cana na São Martinho totalizou 7,5 milhões de toneladas, 2,8% menos que o processado no mesmo período da safra anterior, devido principalmente ao atraso de 15 dias no início das operações, afetadas pelas fortes chuvas. A produção de açúcar cresceu 1,9%, para 423,4 mil toneladas, enquanto a fabricação de etanol teve incremento de 3,2%, com 335,8 mil metros cúbicos.
“Para esta safra esperamos uma moagem de 21,5 milhões de toneladas de cana, que é menor que a nossa capacidade de 24 milhões, dado que apesar das chuvas no verão, tivemos o impacto da seca no interior. Apesar do ritmo de moagem abaixo do normal do início, devemos tirar essa diferença agora em agosto”, disse Felipe Vicchiato.


Etanol de milho
Em seu balanço financeiro dos três primeiros meses da safra 2023/24, a São Martinho apresentou pela primeira vez os resultados da planta de etanol de milho, instalada em Quirinópolis (GO).
No primeiro trimestre de operação foram processadas 104 mil toneladas de milho, produzindo aproximadamente 37 mil m3 de etanol e 26 mil toneladas de DDGS (farelo de milho) – dos quais 21 mil m3 e 25 mil toneladas foram, respectivamente, comercializados no período.
A receita líquida gerada com o processamento foi de R$ 97,3 bilhões, e o Ebitda negativo em R$ 6,1 milhões, resultado abaixo do esperado, impactado por uma soma de fatores, de acordo com o diretor financeiro da São Martinho.
“A planta demorou para estabilizar a produção. Além disso, tivemos uma produção de DDG de qualidade inferior, que foi negociada a um preço menor. Por fim, fechamos os contratos de milho a um preço muito alto, R$ 74 a saca e vendemos etanol a um valor menor do que se esperava”.
Para o segundo trimestre, Vicchiato espera uma operação mais robusta da unidade que produz etanol a partir de milho, que pode refletir em uma melhora na qualidade do farelo processado.

 

Globo Rural