Mesmo em meio à alta da taxa básica de juros do país, às incertezas que cercam o montante de recursos e as taxas das linhas do próximo Plano Safra (2022/23) e ao aumento dos custos no campo, particularmente dos fertilizantes, o Santander projeta que sua carteira de crédito formada por produtores rurais voltará a crescer 25% em 2022 - como no ano passado, quando alcançou R$ 27 bilhões.
Isso não significa, porém, que está sendo um ano tranquilo. “Nos últimos dois anos, os produtores brasileiros semearam suas lavouras com uma expectativa, mas os resultados obtidos, em geral, foram superiores. Agora, não. Os preços das commodities e o dólar já estão elevados, e margens que chegaram a 40% na última safra de grãos, por exemplo, estão caindo e voltando a níveis históricos”, afirma Carlos Aguiar, diretor de Agronegócios do Santander Brasil.
Por outro lado, observa, custos e preços elevados exigem mais caixa, e o banco tem ampliado o volume de recursos disponíveis para empréstimos ao setor. Assim, diz Aguiar, deverão ser financiamentos este ano para a mesma área de produção, com ticket médio maior. “Em um ano difícil como este, é melhor não arriscar e fazer o básico, independentemente do Plano Safra e da taxa Selic”, avalia.
Independência
Essa “independência” vem de uma postura estratégia que ganhou ainda mais força nesta temporada 2021/22, que começou em julho do ano passado, e contempla a redução da dependência dos recursos obrigatórios destinados ao crédito rural e das linhas subsidiadas com recursos do Tesouro - principal problema para a estruturação do Plano Safra 2022/23.
Atualmente, segundo Aguiar, apenas um terço da carteira de produtores rurais do Santander é formada por crédito alimentado com recursos obrigatórios - com destaque para operações com verba do Funcafé -, e dois terços já vêm de recursos livres e títulos do agro. Do crescimento de 25% previsto para este ano, 90% virá dessas frentes.
De olho no aprofundamento dessa tendência, o Santander é uma das instituições que pedem mudanças nas regras de aplicação de recursos obtidos com Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs). Hoje, 35% dos valores captados com esses títulos têm que virar crédito rural com recursos livres, mas o negócio perdeu atratividade com a nova lei das CPRs (Cédulas de Produto Rural), que já movimentam mais de R$ 100 bilhões na B3.
“Da nossa carteira atual, as LCAs representam R$ 17 bilhões. Mas poderiam ser até R$ 23 bilhões”, afirma Aguiar. De qualquer forma, o caminho escolhido pelo banco para crescer no agro está definido e fica ainda mais consolidado em meio às dificuldades que cercam as discussões em torno do próximo Plano Safra - o ponto principal é justamente o montante que poderá ser destinado à equalização dos juros.
Aumento dos juros
“Se forem R$ 13 bilhões, como o anunciado para o Plano Safra 2021/22, serão subsidiados menos financiamentos, já que a taxa Selic já está em 12,75% e poderá subir mais”, afirma Aguiar. Para reduzir a necessidade de recursos para equalização, o executivo acredita que o governo inevitavelmente elevará as taxas de juros nas linhas do próximo plano, inclusive naquelas voltadas à agricultura familiar.
Em geral, lembra Aguiar, a taxa média das linhas de crédito rural ficaram em 7,5% na atual temporada, que terminará em junho. Para a próxima, ele prevê entre 9,5% e 10%. “Os subsídios deverão ficar mais concentrados em linhas estratégicas que o governo quer fomentar, como a ABC [agricultura de baixo carbono]”, diz. “Haverá recursos, mas não serão baratos”.
Para garantir o crescimento de 28% ao ano de sua carteira de crédito para produtores rurais nos últimos anos, o Santander vem, gradativamente, ampliando sua equipe voltada ao segmento. Atualmente são cerca de 300 pessoas em todo o país, entre gerentes e gestores regionais.
VALOR ECONÔMICO