A economia sem fôlego – Editorial O Estado de S.Paulo

A economia sem fôlego – Editorial O Estado de S.Paulo

Sete anos depois do início da crise, a economia global se recupera e retoma o crescimento, mas com menor expansão de sua capacidade produtiva. Ruim para todos, a notícia é pior para a maior parte dos países emergentes, incluído o Brasil. Nas economias avançadas, o crescimento potencial deve continuar menor do que antes da crise, apesar de algum aumento nos próximos anos. Nas economias emergentes, deve diminuir um pouco mais, por causa do envelhecimento das populações (com oferta mais apertada de mão de obra), investimento baixo e menores ganhos de produtividade. Este cenário, recém-desenhado por economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI), aparece nos dois capítulos finais do Panorama Econômico Mundial, divulgado a cada semestre.
 
Os dois primeiros capítulos desse relatório, a mais importante publicação periódica da instituição, sairão na próxima semana e apresentarão de modo mais detalhado as perspectivas econômicas de 2015 e 2016.

Nesse quadro, Estados Unidos e Reino Unido provavelmente ainda aparecerão liderando o crescimento no mundo desenvolvido. A Índia deverá surgir disputando com a China o primeiro posto entre os países com maior expansão neste ano e no próximo. O Brasil certamente estará, mais uma vez, entre os menos dinâmicos. Se houver alguma referência positiva à economia brasileira, será, provavelmente, algum comentário sobre os ajustes iniciados pelo governo federal.


Mesmo nas economias em firme recuperação, o principal desafio será o fortalecimento da capacidade produtiva. Só assim será possível aumentar o produto potencial. Esse conceito indica um limite - a produção máxima sem geração de pressões inflacionárias.
Vários fatores podem elevar esse limite - o investimento em máquinas, equipamentos e infraestrutura, a disponibilidade de trabalhadores, a capacitação de mão de obra, a oferta de recursos naturais, as mudanças tecnológicas e a inovação.


A simples enumeração desses fatores basta para evidenciar as principais dificuldades do Brasil. A economia brasileira é perdedora em vários desses quesitos. A maior parte de suas empresas pouco inova. Tanto no setor privado quanto no público tem sido muito baixo o investimento em ativos físicos. A educação continua muito ruim e a oferta de mão de obra capacitada permanece bem abaixo da necessária. Por esses e por outros fatores, os ganhos de produtividade têm sido escassos e a produção nacional - exceto em alguns segmentos industriais e no agronegócio - é pouco competitiva.


Nas economias avançadas, o crescimento potencial poderá passar de cerca de 1,3% ao ano entre 2008 e 2014 para cerca de 1,6% entre 2015 e 2020, de acordo com o relatório. Entre 2001 e 2007, a média havia sido 2,25%. No caso dos emergentes, a perspectiva é de uma redução de 6,5% (média de 2008 a 2014) para 5,2% no período seguinte. Esse declínio deve resultar da menor expansão da força de trabalho, de limites estruturais à expansão do capital e de um crescimento menor da produtividade total dos fatores.


Essas médias obviamente refletem o peso de economias bem mais dinâmicas que a brasileira. A experiência recente do Brasil foi bem menos brilhante que a da maior parte dos emergentes, mesmo quando a economia foi favorecida pela expansão dos mercados para as exportações de suas matérias-primas. Quando se trata de explicar as causas da redução dos investimentos nos últimos anos, é preciso ir além das causas mais amplas - redução dos preços das commodities, menor expectativa de lucros e condições financeiras menos favoráveis. É preciso identificar problemas especiais de cada país, como incertezas regulatórias na Índia e sanções econômicas impostas à Rússia.


No caso do Brasil, a baixa competitividade e a baixa confiança afetaram, segundo o relatório, a disposição dos empresários. Isso é visível, poderiam ter acrescentado seus autores, no mau desempenho da indústria de máquinas e equipamentos e na queda da importação de bens de capital - no fracasso, em suma, da política industrial baseada no protecionismo e nos favores seletivos