A força do campo – Por Arnaldo Jardim

Do campo ao supermercado, a agropecuária é formada por gente compromissada em fazer deste o mais pujante setor da economia brasileira. É a atividade que tem salvado os índices econômicos, em meio a um cenário nebuloso, conta com pessoas que sabem o valor de sua profissão, conscientes de sua atuação e com a certeza de que sem suor não há frutos a serem colhidos.
O profissional do campo há muito deixou de ser apenas o dono da terra, que plantava e colhia para sua subsistência. A cada vez maior demanda mundial por alimentos fez com que dele fosse exigida maior profissionalização, conhecimento e ampla visão da realidade - "ver além da porteira".
Hoje em dia esse profissional não pode estar desconectado do que acontece no mundo, dos fatos que influem diretamente no preço da commodity que ele planta, que alteram o clima responsável pela chuva que sua terra molha. Não se furta a participar da política que define quanto será investido no campo onde ele trabalha.
Em tempos de agricultura de precisão, com máquinas operadas via satélite, tecnologia avançada em cada pequeno grão de milho e pesquisas capazes de aumentar a produtividade, não há espaço para amadorismo. O agronegócio é um mercado mundial, rápido, competitivo, especializado.
É preciso oferecer o produto de mais qualidade com o menor preço sem deixar de cuidar da preservação ambiental, não ignorando os reflexos sociais de cada cadeia produtiva. O profissional da agropecuária vai muito além do campo, ultrapassa porteiras, passa por estradas e chega à cidade.
É o pesquisador que inova, é o vendedor de insumos, o caminhoneiro que transporta a produção a ser carregada para o navio pelos braços do estivador. É o médico veterinário, o zootecnista e o engenheiro agrônomo, é o peão da fazenda e o professor das universidades. Está representado pelos 4.416 colaboradores de nossa Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Mas infelizmente não são animadores os dados quando se fala em emprego no campo. De acordo com o mais recente levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), de 2004 para 2014, o número de empregados do setor caiu 20% no Brasil todo. O número de empregadores diminuiu 51,9%.
O total de empregos na agricultura familiar, que considera a soma de quem trabalha por conta própria, para o próprio consumo ou não remunerado, teve queda de 18,2%. Em média, a retração do mercado de trabalho nos últimos 10 anos foi de 19,8%.
É preocupante a projeção do Dieese de que, em 2050, este total será de 8,2 milhões. É pouco diante do desafio de dobrar nossa produção de alimentos para o mundo em 34 anos, conforme projeção da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). Precisamos ser competentes para sermos líderes na segurança alimentar.
Obviamente que não podemos olhar esses dados ignorando a mecanização nas atividades no campo, que diminui a necessidade do esforço físico individual. Em 1970, por exemplo, havia pouco mais de 160 mil tratores em operação no meio rural. Número que saltou para 1,2 milhão em 2013. Projeta-se em 1,7 milhão o total dessas máquinas no campo até 2050.
Portanto, os dados sobre número de postos de trabalho devem ser vistos mais amplamente. Contemplam os diretamente empregados, mas não a cadeia produtiva (setor de fabricantes de insumos, defensivos e equipamentos) mais todo o componente da logística (armazenamento e transporte), assim como a cadeia de vendas e/ou administração. Afinal, neste período de decréscimo da mão de obra diretamente empregada tivemos um grande aumento da produção.
Buscar manter a diversidade da estrutura fundiária e de produção (conviverem o pequeno, o médio e o grande), aumentar a produtividade agrícola, a eficiência da logística e diminuir o desperdício são desafios deste vibrante setor. Esta faceta dinâmica e inovadora é a nossa marca, do agro brasileiro!
Por isso é preciso valorizar o profissional da agropecuária. Valorizar não apenas quem tem conhecimento, quem se especializa em universidades, mas também os responsáveis pelo primordial trabalho braçal. É preciso uma política trabalhista para o campo mais justa do que a que se faz hoje.
Profissionais tão importantes devem estar legalmente amparados ao receber os frutos de seu trabalho. Entre 2004 e 2013, a taxa de informalidade/ilegalidade diminuiu 13,16%.
O potencial carregado pelo agronegócio nacional, especialmente nos atuais tempos de crise econômica e política, tem estado limitado pelo pouco trabalho de sua divulgação e fortalecimento não só internamente, mas principalmente fora do Brasil. Temos que estar em todos os eventos mundiais, em todos os fóruns pelo mundo para reforçar a imagem de que Brasil é igual à alimentação e segurança alimentar é igual a Brasil.
Arnaldo Jardim - Deputado Federal licenciado e atual Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo