A frágil democracia brasileira - por Dib Nunes Junior

A frágil democracia brasileira - por Dib Nunes Junior

Quando eu tinha 13 anos participei, como inocente útil que era, de uma série de manifestações de rua sufocadas por tropas militares, tive inclusive uma bicicleta esmagada por um tanque de guerra, imagem que nunca mais me saiu da cabeça, pois tive que num segundo decidir entre eu e a “magrela” para não ser pisoteado. Me lembro de estudantes da faculdade de direito da UNAERP, onde eu fazia o ginásio, jogando bolinhas de gude no asfalto para os cavalos da tropa de cavalaria do exército escorregarem e, em seguida os soldados eram atacados com pedaços de pau pelos manifestantes. Lembro-me também da convocação nas salas de aula para passeatas de protesto contra o golpe militar. Íamos para a praça XV de Novembro, lá em Ribeirão Preto, protestar até a polícia chegar com os cassetetes e as bombas que nos faziam chorar. Não demorou muito para as aulas serem suspensas, pois João Goulart fora deposto e a sociedade estava feliz, o perigo do comunismo que escravizava as pessoas havia sido afastado. O país retornava à ordem e rumávamos ao progresso. Lembro-me que após a renúncia do Jânio Quadros e ascensão do Jango, os movimentos sociais  explodiram e colocaram este país de joelhos por tantas greves e manifestações. Não mais que quinze dias depois, participei, sem saber porque, da “Marcha da Família com Deus para a Liberdade”, a maior manifestação anticomunistas já vista neste país, até as manifestações de junho de 2014.  Naquela época, as rádios faziam campanhas de horas seguidas para que as pessoas doassem “Ouro para o bem do Brasil”, cujo resultado nunca ficamos sabendo.

Tivemos 21 anos de governo militar onde muitos conhecidos fugiram do Brasil com suas famílias, tudo era controlado pelo governo e havia um sentimento nacionalista em tudo que se fazia, desde o futebol até a realização de grandes obras como a fatídica rodovia Transamazônica e a enorme barragem de Itaipu. Chegamos a ter períodos de grande desenvolvimento econômico no país, com crescimento superior a 7% ao ano. O governo era duro com movimentos sociais, grevistas, pessoas desocupadas e raramente havia desrespeito às leis. Existia uma grande normalidade política e econômica e muitas grandes empresas multinacionais se instalaram no país. O Brasil começava a ter educação de qualidade na escola pública, atendimento de saúde razoável, correios que funcionavam, comunicações e canais de TV aberta, embora nossa infraestrutura urbana carecia de melhorias. A segurança era algo exemplar, podia-se sentar à noite nas calçadas com amigos e vizinhos para conversar até altas horas, sem sermos importunados ou assaltados.

Em 1985, a ditadura caiu e em 1988 grandes juristas elaboraram uma constituição democrática que impera até hoje em um regime presidencialista. Depois de duas décadas de isolamento, se respirava maior liberdade de expressão, pluripartidarismo, sonhos de melhoria de vida e mais conforto para as famílias. "Viva a democracia, conquistamos a democracia", todos comemoravam. Porém, o governo militar deixou o país afundar novamente, pois entregou o país em frangalhos com enormes discrepâncias sociais, baixo nível de emprego para os jovens que chegavam ao mercado de trabalho e um desemprego geral brutal. Tínhamos baixo grau de investimento, inflação explodindo, crescimento econômico pífio, mas tínhamos esperanças, pois poderíamos, em breve, escolher o nosso futuro presidente pelo voto direto.

Depois da catástrofe da hiperinflação do governo Sarney (vice de Tancredo Neves, eleito de forma indireta), em eleição pelo voto direto, escolhemos o Fernando Collor de Mello. As esperanças se reacenderam, quatro planos econômicos foram editados para dar estabilidade ao país e acabou por piorar as coisas, empobreceu ainda mais a população e o Collor sofreu “impeachment” por que queria governar e roubar sozinho. Logo que saiu, entrou o cinzento Itamar Franco, mas com ajuda da oposição conseguiu segurar as pontas da alta inflação. Criou-se o Plano Real através de seu ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso, o FHC, que depois viria a se tornar presidente por dois mandatos. Tivemos pela primeira vez um gostinho de estabilidade, o crescimento parecia ser sustentável e caminhávamos para recuperar o tempo perdido. O segundo mandato do FHC foi ruim e abriu espaço para o PT assumir o poder. Veio o Lula e o país continuou a crescer movido pelas circunstâncias internacionais e pelo plano de estabilidade do FHC, que ainda apresentava efeito positivo.

Aos poucos os rumos mudaram e, em vez de entrarmos para o primeiro mundo, o Brasil foi perdendo espaço para uma política populista, demagógica e voltada para estabelecer o regime de comunismo bolivariano no país, com um projeto ditatorial sob o manto da democracia, com objetivo dominar todas as instituições, a partir do judiciário, passando pelo congresso, o senado, os bancos e as empresas estatais, os governos dos principais estados, prefeituras das maiores cidades. Enfim, era a busca de um poder totalitário voltado para se perpetuar no poder e enviar recursos aos países da américa latina que estavam adotando a mesma política. Através de uma cortina de fumaça que dava quireras aos pobres, escravizando o povo humilde com pequenas doações em dinheiro, as bolsas gratuitas, que não pedem nada em troca (processo de vagabundização), em vez de conduzir o país pela educação.

O governo montou uma estrutura para o clientelismo cada vez mais crescente, programas demagógicos com slogans chamativos, propaganda pesada do governo na mídia, majoração de impostos, empreguismo e fisiologismo para os apaniguados de sindicatos e líderes de movimentos sociais. Os amigos do poder se aproveitaram da política bolivariana para dominar todos os setores e a montagem do maior esquema de corrupção da história do mundo, com a parceria de empreiteiras para construção de obras no Brasil e no exterior. Construção de campos de futebol em vez de hospitais e escolas. Era o caminho para o “propinoduto” e a opção pelos ricos que o PT fez para lavar dinheiro e enriquecer os donos do poder às custas do estado. Com isso, conseguiram aplicar um golpe nos crédulos que acreditaram e neles votaram na última eleição, contribuindo para permanência do poder nas mãos do PT. Mentiram demasiadamente e enganaram a população, mas não puderam suportar o rombo financeiro que causaram ao estado brasileiro, que se encontra no estado pré-falimentar. Desrespeitaram a constituição, meteram a mão no dinheiro dos trabalhadores (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e nos bancos estatais (Caixa, Banco do Brasil e BNDES) para vender a idéia de que tudo corria bem. Com isso, comprometeram as contas e o desenvolvimento do Brasil para os próximos anos, pelos déficits sucessivos de bilhões de reais, além de conduzir o país a uma recessão violentíssima que já levou o desemprego a 11 milhões de pessoas (ou se quiserem: famílias), enfim, destruíram as esperanças do povo brasileiro que enfrenta a carestia.

Vejam só como são as coisas, voltamos a protestar contra uma ditadura e à tese do “impeachment”, agora da presidente Dilma Rousseff, a artífice do golpe do bilhete premiado. Vamos tentar dar uma nova chance ao nosso país, para começar tudo de novo. Temos que tentar recuperar a credibilidade e a confiança dos investidores brasileiros e estrangeiros para voltar a crescer, gerar renda, fazer girar a economia, criar empregos e melhorar a qualidade de vida do povo brasileiro. Este povo que hoje não tem atendimento médico hospitalar, não tem segurança, não tem estradas, não tem educação e o pior: continua com fome.

Não vai ser fácil e nem será rápido conseguir sair desta situação, mas de uma coisa sabemos, voltamos ao mesmo lugar que estávamos no final da ditadura de direita implantada neste país em 1964. Esperamos que as instituições se fortaleçam com a troca de cadeiras amparadas pela constituição e principalmente, com a ação firme da Operação Lava Jato para levar à prisão as pessoas que nos conduziram a este enorme abismo, muito mais profundo do que aquele que levou o país ao golpe militar. Por isso tudo, quero afirmar aqui: não há nenhum golpe, golpe mesmo foi tentado pelo PT e felizmente não deu certo. Se Deus quiser, vamos começar uma nova fase, mais ética e, aos poucos vamos ficar livres destes corruptos que destruíram o Brasil.       

Dib Nunes Junior é Presidente do Grupo Idea.