A produção industrial brasileira caiu 0,6% em junho deste ano comparada a maio. Nosso nível de produção industrial está hoje 20% abaixo do nível observado em 2014 e a apenas 20% acima do registrado anos 1980, uma tragédia.
A indústria brasileira passou por um boom de produção a partir de 2003.
A primeira fase do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi caracterizada por forte expansão e exportação de manufaturas graças ao câmbio ultradeslavorizado de 2002 a 2003 e ao forte impulso de demanda interna que veio com a expansão do crédito.
A segunda fase do governo Lula e o governo Dilma Rousseff (PT) se caracterizaram por forte expansão do crédito e pela retração das manufaturas na pauta de exportação.
A crise mundial de 2008 interrompeu a bonança de crescimento externo e cortou a demanda mundial por manufaturas.
A reposta da China à crise causou explosão do preço de commodities e reforçou a trajetória de apreciação da moeda brasileira, que já vinha com força desde 2006.
Até 2007, a indústria brasileira conseguiu acompanhar o boom de demanda aumentando a produção, ainda na esteira da desvalorização cambial de 2002.
A partir da crise de 2008, nossa indústria sucumbiu à concorrência internacional, aos aumentos de custos de produção em reais (principalmente aumento de salários acima da produtividade) e à forte apreciação do câmbio nominal e real.
A expansão de PIB observada no pós-2008 foi toda baseada em serviços. A demanda interna por bens industriais passou a ser suprida por importações.
Sem estímulos para produzir domesticamente por causa do câmbio muito apreciado e sem condições de se lançar na competição mundial, o empresário industrial brasileiro passou a ser importador, montador ou simplesmente encerrou seu negócio.
Houve enorme perda de complexidade produtiva da economia brasileira pós-2010, com desindustrialização e reprimarização da pauta exportadora e avanço das commodities.
Em 2014, por exemplo, cinco produtos responderam por quase 50% das exportações brasileiras: ferro, soja, açúcar, petróleo e carnes.
Hoje, a taxa de câmbio brasileira está em um nível bem mais desvalorizado do que a média histórica.
As exportações de manufaturados brasileiros estão mais baratas no exterior e mais lucrativas internamente.
Os produtos estrangeiros estão mais caros aqui, facilitando a concorrência com nacionais.
Nossa indústria deveria ter reagido, mas por que isso não ocorreu?
Desde a abertura comercial dos anos 1990, as indústrias brasileiras ficaram viciadas em nosso mercado interno.
O que deveria ter sido uma catapulta para conquistar o mercado mundial, como fizeram os asiáticos, virou fim em si mesmo.
As apreciações câmbios da era FHC e da era Lula reforçaram o sinal da produção para abastecer o mercado nacional e tiraram o ímpeto exportador de nossas empresas.
A implosão da economia brasileira em 2014 e 2015 arrastou nossa indústria, que já vinha se arrastando, para o buraco.
O desaparecimento do crédito e da demanda interna tiveram efeitos diretos e violentos na produção doméstica de carros, motos, caminhões, móveis, eletrodomésticos, bens de consumo em geral, matérias da construção civil, aço, entre outros.
Nossa produção industrial colapsou com queda de 20%, de 2014 a 2016, e por lá ficou até hoje. Nossa retomada econômica desde então foi muito tênue, se é que houve.
O pouco que crescemos foi baseado em serviços de baixa qualidade; novos empregos com salários menores e mais precários foram gerados.
O pouco nível de proteção que ainda existe para a nossa indústria nacional também não resolveu o problema. Hoje, a única salvação para nossa indústria seria uma injeção maciça de demanda, interna ou externa. De fora não virá, pois o comércio mundial se estagnou graças à guerra comercial.
Para vir de dentro, uma nova onda de estímulos seria necessária, algo que também não parece estar no horizonte.
Se nossa indústria conseguir crescer a 2% ao ano, levaremos quase 10 anos para recuperar o nível de produção de 2014. Isso para não mencionar nosso cada vez maior atraso tecnológico em relação aos países emergentes dinâmicos e aos ricos.
As notícias não são boas. Nenhum país hoje rico se desenvolveu sem indústria.
*Paulo Gala é economista e diretor-geral da FAR (Fator Administração de Recursos).