O ataque que atingiu o campo petrolífero de Khurais, na Arábia Saudita no sábado passado pode ter mudado o patamar de preços no mercado futuro do petróleo. Menos pelo efeito imediato no abastecimento, já devidamente controlado, mas mais pela possibilidade de acirramento do conflito geopolítico com consequências ainda não totalmente conclusivas. O especulador ciente de que existe um risco anteriormente não imaginado eleva o nível de preço que estaria disposto a vender a descoberto, mudando sob efeito psicológico o intervalo de preços que estávamos acostumados. Efeito cachorro-mordido-por-cobra-tem-medo-de-linguiça.
O futuro de petróleo reagiu fortemente ao atentado na reabertura do mercado, que começa a operar já no domingo às 17:00 horas, e na segunda o mercado de açúcar começou em queda. Os fundos aumentaram suas posições vendidas em quase 15,000 lotes, elevando para o total para 245,634 contratos o total da posição que representa um valor nocional de US$ 3.3 bilhões. Ou seja, saíram comprando energia e vendendo outras commodities menos suscetíveis de alta, incluindo o açúcar.
Diz-se que política de um fundo é deixar os lucros fluírem e limitar suas perdas. Em outras palavras, nos mercados que estão ganhando dinheiro não existe urgência em liquidar a posição. E assim eles estão fazendo com as commodities de energia, as quais estão comprados e o mercado sobe, e com as soft commodities, que eles estão vendidos e o mercado cai. A liquidação de qualquer das pontas só virá numa ruptura dos fundamentos ou algum evento de cisne negro, como o que quase ocorreu no evento da Arábia Saudita.
Aqui no Brasil, a preocupação de alguns setores do mercado era saber qual a reação da Petrobras após o ataque e se haveria continuidade na política de formação de preços instituída há dois anos pelo então presidente Pedro Parente. O mercado queria saber se a estatal do petróleo iria continuar na política de transparência de preços refletindo o mercado internacional ou sofreria interferência dos humores de Bolsonaro. A Petrobras desfez essa preocupação e aumentou o preço da gasolina aliviando o setor.
Um alívio, pois se lá fora os preços tendem a mudar de patamar, mas aqui dentro existe fumaça de um retorno aos preços administrados, para o setor sucroalcooleiro isso soa como ter que pagar a conta novamente do controle de preços. Só para lembrar que apenas na desastrosa administração de Dilma Rousseff, criatura do presidiário Lula da Silva, o setor perdeu R$ 68 bilhões em arrecadação e encolhimento de market share.
É natural que a empresa não aja sob impulso e pânico instaurado no mercado repassando imediatamente a volatilidade da commodity e do câmbio para o preço na refinaria, no entanto, pelos nossos cálculos, tomando a média de 20 dias, o preço de formação da Petrobras está 5-6 % abaixo do mercado internacional.
O mercado estima que 35% das vendas de açúcar para exportação do Brasil para a corrente safra não estão fixadas. Se o Brasil vai exportar 18 milhões de toneladas de açúcar no período de abril de 2019 até março de 2020, em tese cerca de 124 mil lotes de futuros deverão ser vendidos para fixar os contratos comerciais pendentes. Se os fundos possuem 245,6 isso mostra que para cada lote que a usina tem para fixar, os fundos tem 1.65 para comprar. A vulnerabilidade está com os fundos, não com as usinas. Isso é correto se não fosse apenas um detalhe: o timing. As usinas precisam fixar (e consequentemente vender futuros) antes do embarque do açúcar enquanto os fundos não estão premidos pelo tempo.
Do ponto de vista dos fundamentos algumas notícias são alvissareiras e terão enorme efeito no médio e longo prazo. Depois de muito tempo, o consumo de combustíveis ciclo Otto cresceu 1.25% no acumulado de doze meses (agosto de 2018 até julho de 2019). O etanol continua quebrando recorde de vendas e consumo e tudo indica que no próximo ano a cana será destinada ao combustível renovável repetindo a disponibilidade reduzida de açúcar. Se isso ocorrer, o Brasil terá exportado num espaço de dois anos 36 milhões de toneladas de açúcar comparativamente à média de 51 milhões de toneladas de açúcar (num período de 24 meses) nesta década. Um enxugamento de 15 milhões de toneladas de açúcar brasileiro. Quem o substitui e por quanto tempo será capaz de fazê-lo?
Teremos um espaço de 151 longos dias separando o contrato de açúcar para outubro, que expira no final de setembro e o contrato de março, que expira no final de fevereiro. A nossa recomendação clara e cristalina é a rolagem. São 100 pontos de custo para serem buscados ao longo desse período. As coisas precisam dar muito errado para que essa estratégia não funcione, como petróleo abaixo de 50 dólares por barril, real se valorizando fortemente em relação ao real, por exemplo.
NY fechou a sexta-feira cotado a 11.09 centavos de dólar por libra-peso, mas ninguém se importa. Quem tinha que fazer rolagem já fez. E para quem fez, resta aguardar que os fundamentos prevaleçam na longa e sinuosa estrada que vamos percorrer.