A nova safra de cana no Brasil 2020/21 : oportunidades e desafios - Por Julio Maria M. Borges

A nova safra de cana no Brasil 2020/21 : oportunidades e desafios - Por Julio Maria M. Borges

O Brasil deve moer em 2020/21 um volume de cana de 647 mi t e no Centro-Sul 594 mi t. Na safra passada estes números foram, respectivamente, 643 e 590 mi t.

O clima no Brasil foi próximo do normal no Centro-Sul (CSUL) e Norte-Nordeste (NNE), que representa cerca de 10% da área de cana colhida no Brasil. Com isto os rendimentos agrícolas se mostram próximos do normal, alcançando 76-77 toneladas de cana/ha no Brasil. Não existe expansão de área no CSUL e já se observa uma ligeira recuperação no NNE. Os rendimentos industriais das últimas safras oscilam em torno dos valores adotados na previsão, ou seja, 137 kg de ATR/tc (açúcares totais recuperáveis/ tonelada de cana).

O Brasil deve moer em 2020/21 um volume de cana de 647 mi t e no Centro-Sul 594 mi t. Na safra passada estes números foram, respectivamente, 643 e 590 mi t.

Resumindo: não há crescimento de safra entre 2019 e 2020 no Brasil. A diferença prevista é a forte mudança do mix de produção a favor do açúcar. Estamos repetindo o que aconteceu em 2016/17, tanto em termos de produção como em termos de preços relativos do açúcar e etanol. Nesta safra 2020/21 a cana moída irá gerar como açúcar 48,4% do total produzido. Na safra passada este mix foi de 35%.

Desta vez o açúcar retoma seu papel de “salvador da pátria”, com preços e demanda melhor que o etanol. Estão previstos dois recordes neste caso no Brasil: um na produção, de 41 mi t; o outro, na exportação de açúcar próxima de 30 mi t, cerca de 10 mi t a mais que na safra passada. Sendo assim, a Índia perde seu papel de maior produtor mundial de açúcar.

Esta flexibilidade relevante que o Brasil tem na produção de açúcar terá uma consequência também relevante nos preços do açúcar no mercado internacional daqui para frente.

Sempre que houver previsão de déficit global no mercado de açúcar existirá suporte para preços relativamente altos do produto. Nestas condições, se açúcar estiver remunerando o produtor melhor que etanol, o Brasil tende a produzir mais açúcar e aumentar a oferta global do produto. O contrário também pode ocorrer, quando houver previsão de superávit de oferta. Com isto o Brasil se torna um regulador de preços no mercado internacional de açúcar, dando a estes uma maior estabilidade e eliminando a situação de preços exageradamente altos, que estimula investimentos em aumento de produção em países de custos relativamente altos. O mercado internacional de açúcar poderá ter uma concorrência mais justa.

Quanto ao etanol de cana deve ser observada no Brasil uma produção mínima de 26,8 bi litros, necessária para viabilizar o processo de produção na usina. Na safra passada a produção alcançou 34 bi litros. O etanol mais uma vez se posiciona como produto de ajuste da safra. Convém ressaltar que esta flexibilidade na produção das usinas brasileiras tem sido de grande valia para a viabilidade econômica do negócio de cana-de-açúcar. Esperamos que o Renovabio não seja um entrave a esta flexibilidade e seja realmente um meio de melhorar o negócio.

O etanol de milho deve alcançar em 2020/21 uma produção de 2 bi litros, cerca de 22% a mais que na safra passada.

Estamos prevendo que o consumo de ciclo Otto caia nesta safra atual em 12% + 2,5%. A queda prevista na demanda de etanol combustível é de 16%. O abastecimento do mercado de ciclo Otto pelo etanol será mínimo e comparável àquele observado em 2016/2017. Cerca de 25% do potencial de mercado do etanol será abastecido nesta safra 2020/21. Exportações e importações em 2020/21 serão próximas daquelas da safra passada e devem atingir, respectivamente, 2,10 e 1,5 bi litros.

Julio Maria M. Borges é Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento e Conselheiro de Administração