À procura de R$ 1 tri para o clima – Editorial O Estado de S.Paulo

À procura de R$ 1 tri para o clima – Editorial O Estado de S.Paulo

Investimento necessário para País cumprir metas ambientais demanda compromisso do poder público e da sociedade.

Para cumprir as metas de combate às mudanças climáticas firmadas no Acordo de Paris, o Brasil precisará investir R$ 1 trilhão nos próximos sete anos. Calculada em estudo do Fórum Econômico Mundial (FEM) com a consultoria Oliver Wyman, a cifra dá a medida do esforço necessário para o País chegar a 2030 dentro de um novo patamar de responsabilidade ambiental, com emissões de gases causadores do efeito estufa reduzidas à metade.

Não é pouca coisa. Mas é factível, desde que o empenho seja efetivo, tanto por parte do Estado quanto da sociedade. O relatório do FEM cita o recente Plano de Transformação Ecológica (PTE) como uma evidência de que o compromisso brasileiro com a descarbonização está se fortalecendo.

De fato, o Brasil tem emitido sinais de que a busca por soluções sustentáveis é uma prioridade na lista de políticas públicas. Ao governo cabe viabilizar políticas que deem ao setor privado o caminho para o investimento. Com este planejamento, os setores produtivos podem também traçar estratégias para alcançar metas individuais de descarbonização.

Um exemplo é a elaboração de regras para tirar do papel projetos de produção de hidrogênio verde, uma das principais apostas como fonte de energia limpa no mundo. No Brasil, o hidrogênio verde pode ser produzido por meio de fontes limpas, com numerosos parques de geração eólica e solar, o que é mais uma vantagem.

Mas há que ser estruturada uma política que envolva todos os elos da cadeia, que inclui demanda, garantias para contratos, definição de uma rota tecnológica. Especialistas garantem que o País tem potencial para não apenas abastecer o mercado interno – nas indústrias siderúrgica e de fertilizantes, por exemplo –, como para exportar hidrogênio de baixo carbono.

Principal vilão brasileiro em relação à emissão de carbono, o desmatamento registrou recorde em 2022. A queda de quase 34% do desmate na Amazônia no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, como revelou o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), sinaliza uma importante mudança de postura, sem conivência com atividades ilegais que degradam o bioma.

Na busca pelos recursos necessários para frear o aquecimento global, todos os esforços são bem-vindos. Por exemplo, o presidente Lula da Silva vem falando do compromisso firmado pelos países desenvolvidos, em 2009, na Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), de investir US$ 100 bilhões no Fundo Amazônia. O pedido é razoável. Se a região de maior biodiversidade do planeta é hoje o centro da preocupação ambiental do mundo, deve poder contar com a ajuda financeira dos países ricos.

Mas a ajuda internacional é apenas um dos caminhos. Há muito a ser feito dentro de casa. Com regras claras e estímulo aos investimentos e incentivos a soluções tecnológicas, além de repressão às infrações ambientais. A soma de R$ 1 trilhão em investimentos intimida à primeira vista. Mas é uma questão de prioridade e engajamento do poder público e da sociedade

 

Estadão Conteúdo