ACP capta R$ 150 milhões e investirá em canaviais

ACP capta R$ 150 milhões e investirá em canaviais

Uma das maiores fornecedoras independentes de cana para usinas do país, a ACP Bioenergia concluiu ontem a captação de R$ 150 milhões no mercado de capitais com a emissão de certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) para apoiar o plano da companhia de investir na ampliação de seu cultivo de cana. A operação contou com assessoria financeira da Czarnikow.

No ano passado, a ACP iniciou uma trajetória de crescimento que foi destravada com a entrada do empresário Dimitrius Markakis como sócio minoritário, passou pela criação de uma estrutura de governança já própria de empresas de capital aberto e resultou até agora no acerto de dois novos contratos de fornecimento de cana: com a Usina Eldorado, da Atvos, localizada em Rio Brilhante (MS), e com a Usina Caeté, em Pauliceia (SP), do grupo Carlos Lyra.

Os recursos recém-captados devem apoiar os investimentos necessários para a formação dos canaviais que servirão aos dois novos clientes, explica Alexandre Cândido de Paula, presidente da ACP e sócio majoritário, junto com seu irmão André Cândido de Paula.

Na região de Nova Alvorada do Sul, a companhia já iniciou os trabalhos. Em 2021, ela plantou 7 mil hectares com cana, em uma área já apta para o cultivo, e as entregas começarão ainda nesta safra 2022/23. Neste ano, o plano é iniciar o plantio de cana em 2,5 mil hectares na região de Brasilândia (MS) para começar a fornecer para a Caeté na próxima temporada. Neste caso, os gastos deverão ser maiores, já que a região até então era destinada a pastagens (70%) e cultivo de eucalipto (30%).

Ao todo, a ACP planeja cultivar 13 mil hectares de cana em cada um desses polos para atender os contratos firmados com as duas usinas, que preveem entrega de 1 milhão de toneladas de cana por ano ao longo de dois ciclos de produção da cana - ou seja, em torno de 14 anos. Os custos serão basicamente operacionais, já que a empresa prefere arrendar terras, e não comprar. “Somos ‘asset light’. Não temos terras, mas operamos terras de terceiros”, diz o CEO.

Atualmente, o custo para o plantio de cana nesses dois polos está em torno de R$ 13 mil por hectare, valor que subiu de forma considerável nos últimos dois anos, com a disparada dos gastos com fertilizantes, diesel e agrotóxicos. Alexandre Cândido de Paula lembra que, em 2021, o custo era de R$ 11 mil por hectare, e dois anos atrás estava em torno de R$ 9 mil.

Em contrapartida, os preços de açúcar e etanol, que balizam o valor que as usinas pagam aos fornecedores, têm se mantido firmes, o que abre um cenário favorável para as margens do negócio, garante Fernando Soares, da Czarnikow.

Segundo o CEO da ACP, a empresa optou pela emissão para marcar presença no mercado e ser conhecida “no médio prazo, quando as janelas abrirem”. A busca pelo mercado de capitais para financiar esta etapa de crescimento não é inédita. A ACP Bioenergia já havia emitido CRAs duas vezes, captando R$ 40,7 milhões na primeira, em 2013, e R$ 68 milhões na segunda, em 2021.

“ACP está em um programa de crescimento muito grande e de construção de uma história no mercado de capitais, que vai permitir financiar seu crescimento”, reforça Tiago Medeiros, executivo da Czarnikow e conselheiro independente da companhia agrícola.

A nova emissão garantiu à ACP um prazo semelhante ao que se conseguiria no sistema financeiro tradicional, de cinco anos, e com um custo de CDI + 5,5% ao ano. Os CRAs são lastreados em Cédulas do Produtor Rural Financeiras (CPR-Fs), que por sua vez têm como garantias recebíveis de fornecimento de cana com a Atvos, alienação fiduciária de cana e de soqueiras, cessão fiduciária de cotas de um fundo de debêntures de R$ 25 milhões, além de aval dos acionistas.

 

 

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