O preço do açúcar em NY sofreu enorme queda nos contratos futuros com vencimentos mais curtos, indicando que os fundos realizaram lucros liquidando uma parcela das posições compradas, e que – pela pressão observada também no spread outubro/21-março/22 – os detentores de posições compradas de açúcar no mercado físico não têm interesse em ficar com o açúcar (sem destino?) e devem contribuir para uma entrega volumosa do produto na expiração do contrato outubro/21 que ocorre em 3 semanas. Dependendo do volume, a contaminação nas cotações que vencem em seguida é inevitável.
O contrato com vencimento para outubro/21 encerrou a semana cotado a 18.84 centavos de dólar por libra-peso, uma queda 78 pontos na semana de quatro dias reduzida pelo feriado americano da segunda-feira. Um encolhimento de 17 dólares por tonelada foi acompanhado igualmente pelo vencimento março/22 (que encerrou a 19.56 centavos de dólar por libra-peso) e pelo maio/22 (14 dólares por tonelada de queda, encerrando a semana a 19.11 centavos de dólar por libra-peso).
Os fundos, pelos números publicados pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na terça-feira, reduziram a posição em 7,150 lotes, mas com a queda de sexta-feira, esse número certamente foi bem maior.
A UNICA publicou a moagem acumulada no Centro-Sul até 01 de setembro. Foram 392.6 milhões de toneladas de cana. Nos últimos cinco anos, o acumulado nesse período acabou representando na média 66.9% de toda a cana moída no respectivo ano, variando entre 64 e 69%. Se usarmos a média histórica e assumirmos que a quebra este ano estará em torno de 8%, então é razoável supor que a produção máxima será de 540 milhões de toneladas de cana. É o que parece deva ser o número final.
Não há mais influência dos números de safra a serem publicados pela UNICA. O mercado já absorveu e apreçou uma safra de cana reduzida e mesmo que esse número afunde para 525 milhões de toneladas de cana, dificilmente NY prestará muita atenção a ele. Está dado. O mercado já absorveu. Para manter o mercado em níveis mais altos outras histórias precisarão ser contadas para que mantenham a narrativa altista. No entanto, caso o número melhore até o final da safra para – digamos – acima dos 540 milhões de toneladas, aí a reação adversa poderá ser maior. Na nossa visão, o mercado começa a pesar.
Não nos enganemos: os fundamentos do mercado para o médio e longo prazo são positivos como temos falado aqui há muitas semanas. No entanto, há uma clara dicotomia entre o que ocorre no mercado futuro, alimentado pelos fundos, pela impossibilidade de novas fixações de preços por parte das usinas e pela paralisação – ainda que de maneira sutil – por parte das casas comerciais provocada pelas chamadas de margem, e a realidade do mercado físico que é de estagnação.
Outro ponto que vai reverberar com muito peso nos próximos meses é a confirmação de que a economia brasileira patina e devemos ter um 2022 de crescimento muito pífio. As previsões de PIB para o próximo ano começam a sofrer correções para níveis abaixo de 2%. Estamos convivendo com a perspectiva de inflação crescente, crise hídrica, crise energética com razoável probabilidade de apagão, juros altos, inoperância total do governo federal e um ano de eleições cujo resultado tende a ser catastrófico. Portanto, a recuperação do consumo interno seja de combustíveis (ciclo Otto) ou de alimentação e bebidas tem tudo para ser adiada.
Por outro lado, o Brasil colocou para fora nos últimos doze meses, um adicional de 8.5 milhões de toneladas de açúcar comparativamente ao mesmo período do ano passado, perfazendo um total de exportação de 31.5 milhões de toneladas. A Índia se prepara para exportar no ano safra que se inicia no mês que vem, mais seis milhões de toneladas de açúcar. Não vai faltar açúcar no planeta.
Na nossa visão os mercados estressaram em centavos de dólar por libra-peso deixando pouco espaço para a continuação de uma alta, pelo menos até o final da safra 22/23. Com o preço médio entre os contratos maio/22 até março/23 tendo chegado a 19.50 centavos de dólar por libra-peso, seria muito inocente da nossa parte achar que todos os demais produtores de açúcar que concorrem com o Brasil vão ficar olhando e aplaudindo o sol. Nesse nível qualquer país é capaz de produzir e exportar com margem.
Nossa recomendação de fixar preços em reais por tonelada se fundamenta em dados simples: o preço médio convertido em reais por tonelada aplicando a curva futura de dólar chega a R$ 2,398 por tonelada FOB equivalente. De janeiro de 2000 até hoje, portanto mais de 21 anos, convertendo os fechamentos diários do açúcar em NY para reais por tonelada pela taxa do Banco Central e ajustando-os pela inflação, em apenas 6.2% dos eventos observados o preço ajustado foi maior do R$ 2,398 por tonelada. Para a safra 23/24, o valor médio chega a R$ 2,316 por tonelada. Preço que foi maior em apenas 8.5%.
Entendemos que o potencial de subida em centavos de dólar por libra-peso para 22/23 já se exauriu. Portanto, fixar preços em reais por tonelada e comprar uma call (opção de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro) com preço de exercício 150/200 pontos acima do nível de fixação do mercado pode não ser uma estratégia tão valiosa como fora há algumas semanas/meses.
Já para a 23/24, ainda vemos um potencial de valorização em centavos de dólar por libra-peso em especial pelo que ainda nos aguarda adiante, como o programa indiano de etanol que deve enxugar a disponibilidade de açúcar em 2-3 anos e a estagnação do setor que vai continuar produzindo a mesma quantidade de sacarose diante de um potencial de consumo de açúcar crescente nos próximos anos e na retomada do consumo de combustíveis internamente.
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