Açúcar: o vilão do momento - Por Arnaldo Luiz Corrêa
O mercado fechou a semana com o vencimento outubro de 2017 cotado a 14,06 centavos de dólar por libra-peso, uma apreciação de 65 pontos na semana, ou 14 dólares por tonelada. Os valores de NY convertidos pela taxa do dólar usando NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) estão ligeiramente acima dos 1,000 reais por tonelada. O custo de carrego do outubro 2017 para outubro 2018 mostra mais de 10% a.a. Interessante notar que o spread março/maio de 2019 negocia a zero.
Até que o mercado futuro de açúcar em NY tem resistido bem à falta de vigor do mercado físico e a ausência completa de notícias que poderiam elevar preços. Nada muito interessante acontecendo do lado da produção. A moagem continua em bom ritmo e a ATR tem sido supreendentemente alta elevando a previsão de produção de açúcar mesmo com a mudança de mix para etanol anunciada pelos quatro cantos.
A vantagem de acumular aniversários é que muitas vezes vemos o mesmo enredo de um filme em que apenas os personagens mudam. O açúcar hoje é o grande vilão da saúde assim como o café o ovo já ocuparam esse posto no passado. Depende muito, claro, de quem patrocina as “pesquisas científicas”, entre aspas mesmo. É só seguir o dinheiro que a gente encontra. Para sensibilizar as pessoas, uma empresa no ramo alimentício despejou uma montanha de açúcar em pleno Time Square em Nova Iorque informando que aquela quantidade enorme de açúcar era consumida a cada cinco minutos por crianças nos Estados Unidos. Pronto, o açúcar continua sendo o grande vilão. E o que faz a Organização Internacional do Açúcar (ISO) ? Não sei dizer.
O fato é que – como mostram os números – o consumo de açúcar continuará subindo nos próximos anos alimentado pela Ásia. Certamente vamos crescer menos. E também abaixo do que a produção será capaz de atender.
Veja o caso do Brasil, por exemplo. Nas últimas quatro safras a produção de ATR cresceu 2.30% ao ano. Se tomarmos as últimas sete safras, na média, crescemos 1.51% ao ano. Abaixo, portanto, do crescimento do consumo na Ásia (acima de 2.6%), em linha com o crescimento estimado da ISO se olharmos a curva de quatro anos, mas menor se usarmos a curva de sete anos.
Nada disso, no entanto, vai mudar no curto prazo a trajetória de preços do açúcar. Embora tenhamos vivido e tempestade perfeita abordada no nosso comentário de 23 de junho passado, acreditamos já ter visto o menor nível do ano (12.53 centavos de dólar por libra-peso) e os preços deverão se recuperar lentamente somente a partir do último trimestre de 2017.
Para além desta safra acreditamos em produção de cana muito estreita para atender a demanda de etanol e açúcar (exportação e mercado interno). Mesmo admitindo a importação de etanol limitada a um teto de 600 milhões de litros por ano, o atual ritmo de crescimento anual da cana no Brasil (sem investimento) mostra um déficit acumulado de 127 milhões de toneladas de cana entre 18/19 e 21/22, que representam – mantido o mix de 48% de açúcar – uma falta de 11 bilhões de litros de etanol.
Hoje, cerca de 35% dos proprietários de veículos no país escolhem o etanol na hora de abastecer. Se aumentar para 40%, o déficit de etanol em bases anuais é de 1,4 bilhão de litros. Se voltássemos ao nível de dezembro de 2009, quando 54,5% do consumo era de etanol, o déficit pularia para 5.4 bilhões de litros. Essa conta, certamente o mercado não faz.