Açúcar perde quase 14% no trimestre - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Açúcar perde quase 14% no trimestre - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY fechou o primeiro trimestre de 2017 com o vencimento maio/17 cotado a 16.76 centavos de dólar por libra-peso, um desempenho horroroso de 13.59% de queda acumulada no ano. São 500 pontos de queda desde meados de novembro de 2016 ou 700 pontos de queda desde o início de outubro passado. O vencimento maio/17 teve a cotação máxima de 23.10 centavos de dólar por libra-peso em 29 de setembro. A cotação hoje, usando o dólar de sexta-feira, atinge míseros R$ 1,205 por tonelada, um derretimento de mais de 550 reais por tonelada das máximas observadas.

Das commodities, no acumulado do ano, o açúcar só bateu o suco de laranja que perdeu 18.4%. Gasolina caiu 11.4%, óleo de soja 9%, petróleo 8.4%, etanol 7.2% e soja 6.9%. Trigo, milho e algodão foram exceção e fecharam o trimestre em território positivo.

Difícil agora é encontrar notícias que possam animar o mercado, cansado de esperar por números positivos da Índia, ou fortes fundamentos vindos da China ou ainda um número positivo da safra de cana do Centro-Sul (menor que 570 milhões de toneladas) que elevasse o preço. Como nada disso se materializou, os ursos (baixistas) entraram em campo.

A situação (dos preços) pode piorar ainda devido a uma série de fatores que pairam sobre nossas cabeças:

  1. a) real mais forte diminui preço interno da gasolina e piora a rentabilidade do etanol;
  2. b) a safra vai começar;
  3. c) os fundos estão aumentando a posição vendida;
  4. d) abril-maio-junho-julho são meses sazonalmente mais fracos;
  5. e) números de safra no Centro-Sul acima de 610 milhões de toneladas de cana como anunciam algumas consultorias;
  6. f) Europa produzindo mais de 20 milhões de toneladas de açúcar;
  7. g) números de superávit ao redor de 3 milhões de toneladas;
  8. h) o preço do petróleo no mercado internacional não decola!

Não está fácil, não.  
O mercado de açúcar tanto carece de notícias fundamentalistas altistas, que nem o ciclone que atingiu a Austrália conseguiu mover o mercado por um longo espaço de tempo. No Brasil, a introdução de impostos nos combustíveis que poderia elevar a curva de suporte de preços para o etanol teve o impacto de uma brisa. Para os consumidores industriais, no entanto, é um momento de grande oportunidade para fixarem o preço dos insumos, embora acredito que o açúcar em reais por tonelada ainda tem espaço para cair um pouco mais (R$ 1,075-1,100 por tonelada).

Os fundos reduziram suas posições compradas próximo dos 40,000 contratos, segundo um experiente corretor em NY e, depois, de uma semana em que os preços encolheram 95 pontos (21 dólares por tonelada) no vencimento maio/17 e 250 pontos desde a entrega de 1.2 milhão de toneladas contra o vencimento de março/17, fica difícil manter alguma chama altista.

Para piorar a situação, a bola que cantamos aqui há algumas semanas, acabou se confirmando. Usinas que possuíam hedge com operações de balcão vinculadas a determinado nível de desaparecimento (17 centavos de dólar por libra-peso), conhecidas por knock-out, foram finalmente “nocauteadas”. Ouvimos dizer que o prejuízo chega próximo de US$ 4 ou 5 milhões. Ou seja, essas usinas, num mercado descendente perderam seus hedges. O que falar sobre esses knock-outs? Com um nome sugestivo como esse, só entra quem quer, não é mesmo? Imagine você convidando um amigo para participar de um knock-out. “Vamos lá, meu irmão, vai ser bom demais, vamos subir no ringue com um cara chamado Mike Tyson”. Depois não adianta reclamar se sair com o nariz ensanguentado.

Operações de balcão são instrumentos essenciais para a gestão de risco. Existem várias empresas sérias no mercado, que oferecem seus produtos adequadamente aos clientes, respeitando o apetite deles ao risco e alertando sobre as limitações embutidas na estrutura. Todas elas ganham dinheiro e não há nada de errado nisso. No entanto, existem algumas poucas cujo foco é apenas e tão somente o lucro e os gordos bônus provenientes das estruturas suicidas que oferecem aos incautos. Com essas, o cliente é mero coadjuvante e, em situações como a da semana que se encerrou, acabam colocando todas as empresas provedoras de operações de balcão no mesmo balaio prejudicando a reputação dos profissionais sérios e pondo dúvidas na utilização de futuras estruturas. Ou seja, estão matando o mercado de derivativos de balcão.
O efeito colateral dessa situação são balanços horríveis, aversão a novas estruturas, desconfiança do setor financeiro, inadimplemento, entre outras coisas. O importante é saber separar o joio do trigo. Há culpa também por parte das usinas, que desconhecem o funcionamento dos derivativos e tratam a gestão de risco como um apêndice da área comercial quando deveria ser a protagonista. Vão aprender pelo método mais doloroso: do ringue para a UTI.