Adiar meta de CBios premia ineficiência e não valoriza ambiente, diz Abiogás

Adiar meta de CBios premia ineficiência e não valoriza ambiente, diz Abiogás

O adiamento da comprovação das metas de compra de Créditos de Descarbonização (CBios), regulamentada na sexta-feira por decreto do governo, premia produtores de biocombustível ineficientes, sem tecnologia e que não valorizam o meio ambiente, afirmou Gabriel Kropsch, vice-presidente da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás), ao Valor.

Ele afirmou que o programa RenovaBio, quando foi criado, corrigiu uma “distorção” existente no mercado de biocombutíveis, por meio da qual os biocombustíveis de origem com tecnologia e com origem sustentável competiam igualmente com os biocombustíveis sem tecnologia e antiecológicos.

Com o programa, os produtores cuja produção têm menor intensidade de carbono podem emitir mais Créditos de Descarbonização (CBios) por unidade produzida, enquanto os que têm maior pegada de carbono precisam produzir mais para emitir a mesma quantidade de CBios.

Uma das formas de reduzir as emissões da produção de biocombustíveis e melhorar a capacidade de emissão de CBios é a produção de biometano a partir de rejeitos da produção industrial de outros biocombustíveis. O biometano pode ser usado nas frotas agrícolas em substituição ao diesel fóssil e ter impacto significativo na intensidade de carbono de um biocombustível.

“O objetivo do RenovaBio é premiar e precificar a produção com tecnologia, com respeito ao meio ambiente e com eficiência energética. E isso está sendo desmontado. Estamos retroagindo para uma situação em que os biocombustíveis eram produzidos de qualquer forma e tudo bem”, lamentou.

Ele não acredita, porém, que a revisão das metas do RenovaBio inviabilize ou desincentive investimentos em biometano no país. Para Kropsh, hoje as vendas de CBios são consideradas uma receita adicional para os produtores.

“Mas desestimula a produção de biocombustíveis de modo geral, e isso é muito prejudicial”, defendeu. O dirigente da Abiogás afirmou, ainda, que o RenovaBio tem como proposta estimular as distribuidoras a aumentarem as vendas de biocombustíveis em seu mix de produtos e que o estímulo aos biocombustíveis poderia reduzir a dependência do Brasil de importações de diesel.

Kropsch ressaltou que não é contra, em tese, de alterações nas regras do RenovaBio, mas realçou que elas precisam ser discutidas com o mercado e justificada com base em elementos de mercado. “Não é que o governo não possa tomar essa medida, mas ela tem consequências para a reputação do programa”, sustentou.

 

Valor Econômico