Agro em Janeiro de 2019 - Por Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Agro em Janeiro de 2019 - Por Prof. Dr. Marcos Fava Neves

Na análise da economia, segundo o FMI, o crescimento mundial em 2019 e 2020 será de 3,5% e 3,6%, respectivamente, quedas de 0,2% e 0,1% ante sua última previsão. O crescimento da Europa caiu 0,3% (para 1,8%), EUA mantém em 2,5% (mas cai para 1,8% em 2020), China manteve 6,2%, e emergentes caem de 4,7 para 4,5%. O Banco Mundial é mais pessimista, estimando o crescimento mundial em 3% para 2018, 2,9% para 2019 e 2,8% para 2020, com crescimentos ligeiramente menores para todos os países e regiões listadas acima.

Preocupa o mundo as tensões comerciais e desaceleração da taxa de crescimento da China. A meta do Governo Chinês é de um crescimento entre 6 a 6,5% para 2019 e já está tomando providências para reaquecer sua economia. Em relação às tensões com os EUA, o superávit comercial dos chineses nesta relação foi de US$ 323 bilhões em 2018, realmente gigante e uma das maneiras de compensar isto seria aumentando o consumo interno e a compra de produtos do agronegócio americano, principalmente grãos, proteína vegetal e etanol, o que afetaria negativamente o agronegócio do Brasil.

No caso do Brasil, o cenário é de estabilidade nos números, com todos preocupados com a capacidade do novo Governo em aprovar as reformas necessárias, que sumiram da mídia graças ao triste episódio de Brumadinho, que arrasou todo o país moralmente. O último Relatório Focus do BC coloca o crescimento do PIB em 2019 em 2,53% e 2,60% em 2020. O câmbio em 3,75 e 3,78 respectivamente para os dois anos, a taxa de inflação em 4% para os dois anos, e a taxa Selic em 7,0 e 8,0%, respectivamente. Tanto na arena mundial como no Brasil são números um pouco piores que os anteriores, mas ainda positivos ao agro, pois tem crescimento pela frente.

A nova estimativa para o valor bruto da produção (VBP) feita pelo MAPA para 2019 é de R$ 581,6 bilhões, sendo R$ 200,3 bilhões na pecuária, valor 7,7% maior que 2018, puxado por bovinos (4,4%, R$ 79,7 bilhões), frango (18,6%, R$ 63,1 bilhões), leite (3,6%, R$ 33,1 bilhões) e suínos (4,5%, R$ 14,6 bilhões). Apenas o setor de ovos deve cair 6,8%, para R$ 9,8 bilhões. Já o VBP da agricultura será de R$ 381,3 bilhões, valor 0,7% menor). Reforçando os benefícios do agronegócio, a análise de dados feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em mais de 5 mil cidades indicou que o PIB das 100 cidades maiores produtoras do agro nos anos de 2014 e 2016 cresceu 9,81%, muito mais que o Brasil.

Fechamos os números das exportações do agro em 2018 e estas realmente deram show, mesmo com a greve dos caminhoneiros e tiveram recorde de US$ 101,7 bilhões, com crescimento de 5,9% sobre 2017. As vendas para a China aumentaram US$ 9 bilhões em apenas um ano, e para lá são direcionados 20% da carne brasileira, quase 30% do algodão, 40% da celulose e pouco mais de 80% da soja.

Isto mesmo com o ano de 2018 judiando dos preços das commodities. O índice da FAO caiu 3,5% e fecha o ano com 168,4 pontos. Quase 30% menor que o recorde visto em 2011. Os cereais subiram 9%, óleos caíram 15%, carnes caíram 2,2%, lácteos caíram 4,3% e o açúcar impressionante queda de 22%, derrubando o índice geral. Em 2018 quem voltou a sorrir foi o setor de máquinas agrícolas, que cresceu 12%. Para 2019 a Anfavea espera 10% de crescimento. Boas notícias!

A balança comercial total brasileira (incluindo o agronegócio) fechou 2018 com superávit de US$ 58,3 bilhões, 13,3% menor que em 2017. Exportamos US$ 239,5 bilhões (9,6% a mais) e importamos US$ 181,2 bilhões (19,7% a mais). Chega próximo a 28% a participação da China nas exportações do Brasil, um crescimento de 32% em apenas um ano. Para os EUA vendemos quase US$ 29 bilhões, aumento de 6,6%. Perdemos vendas para a Argentina, fechando o ano 15% menores, em US$ 15 bilhões. A nossa sua participação nas importações chinesas ainda é de apenas 2,7%, contra 0,7% em 2002.

Em relação às perspectivas, a ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) estimou as exportações de soja de 2019 quase 14% menores que as de 2018, ficando em 73 milhões de toneladas. Já refletindo alguma queda na produção devido aos problemas climáticos. A Abiove estima em 70 milhões, 13,7 milhões menores que ano passado e gerando US$ 26.6 bilhões, 25% a menos que em 2017. A estimativa caiu US$ 1,5 bilhão em um mês, graças ao clima. Quando se considera também óleo e farelo, as exportações serão de US$ 32,75 bilhões, 20% menores. A ABIOVE já estima nossa safra em praticamente 118 milhões de toneladas, queda de 2,5% em relação ao estimado em dezembro. Em direção oposta, as exportações de milho devem saltar de 23 para 31 milhões de toneladas. Mais uma vez, as negociações EUA x China podem alterar este quadro.

Boa parte desta soja seguirá para a China, cujas importações são estimadas em 87 milhões de toneladas. Praticamente está fechado o fluxo de soja entre os EUA e a China. Em dezembro foram importadas apenas 70 mil toneladas, contra 6,2 milhões no ano anterior. 2018 foi o pior dos últimos 10 anos. A análise do ano mostra importações de 16,6 milhões de toneladas, menos da metade das 33 milhões de 2017. Do Brasil em dezembro apenas a China comprou 2,43 milhões de toneladas a mais que o mesmo mês de 2017. A tarifa de 25% começou em junho.

Dados da empresa Williams compilados pela Reuters mostram a concentração nas exportações de soja do Brasil. Das 84 milhões de toneladas vendidas em 2018, a Bunge lidera com 17,7 milhões de toneladas (crescimento de 9,2% sobre 2017), a Cargill está em segundo com 12,15 m.t. (1,4% a mais), a Dreyfus aparece em terceiro com 10,98 m.t. (28,6% acima de 2017), seguida da Cofco com 10,96 m.t. (18% a mais). O maior salto foi da Olam, de 225%, exportando 6,7 m.t. e ocupando a sexta posição, logo atrás da ADM que exportou 8,56 m.t., também crescendo 7,5% sobre 2017. As seis maiores empresas venderam aproximadamente 80% da soja brasileira.

No mercado de defesa vegetal, vem crescendo o uso de produtos biológicos no controle de pragas e doenças, muitas vezes feitos nas próprias fazendas. Dados da ABCBio (Associação Brasileira de Biodefensivos Agrícolas) estima um mercado de R$ 500 milhões crescendo 20% ao ano, com mais de 170 produtos registrados, contra praticamente zero na década passada.

Alguns relatos de empresas neste mês que valem destaque, começando pela Amazon: sua entrada na distribuição de alimentos tem sido vigorosa, crescendo 45% em 2018. O negócio da Amazon Go deve atingir US$ 4 bilhões, indo a 3 mil lojas em poucos anos e o conceito de sair direto da loja com débito automático no cartão deve ser licenciado. Os produtos mais vendidos são café e bebidas, e tem patinado o conceito da Amazon Fresh, de distribuição de perecíveis. Estes fazem parte da estratégia da empresa pois aumentam a frequência de visitas e compras, tanto em lojas físicas como virtuais.

A Caramuru faturou R$ 4,2 bilhões em 2018, quase 14% a mais. Além do esmagamento de soja, novos projetos estão ligados à produção de etanol com melaço de soja (em Sorriso, MT), glicerina, biodiesel e farelos com maiores teores proteicos, além de logística. Exemplo de economia circular, pois o etanol será usado para gerar energia própria e a glicerina é subproduto do biodiesel.

Segundo o Rabobank, o Blockchain será cada vez mais usado para rastreabilidade, contribuindo para a segurança alimentar e transparência. É algo que já está transformando as cadeias produtivas, nas formas de transações financeiras e de informações.

A soja no Brasil no fechamento da coluna estava em R$ 77,50 nos portos e R$ 69 entregue em cooperativas do Sul do Brasil e referência de março em Chicago foi de US$ 4,25/bushel. Já no caso do milho, No fechamento desta coluna os preços estavam em R$ 38/saca em SP, R$ 32 entregue em cooperativas do Sul do Brasil.

Fico preocupado pois estamos com problemas no clima afetando a produtividade e produção da soja e do milho, a falta de chuvas em algumas regiões está dificultando o semear da segunda safra, e quanto mais tarde for semeada, mais risco corre de geadas e secas. Podemos ter algum evento climático ainda nesta fase final no Brasil e na Argentina, e os comportamentos de plantio nos EUA mostram até agora menos soja. Eu, se tivesse, venderia apenas para quitar os investimentos (custos) e guardaria parte da produção, pois meu viés é de alta.

 

Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Confira textos, vídeos e outros materiais no site doutoragro.com