Durante anos, o presidente Jair Bolsonaro atraiu críticas globais por sua abordagem de questões ambientais no Brasil. Mas isso não impediu que um grupo de fazendeiros ricos financiasse sua campanha de reeleição.
Seus maiores doadores eleitorais vêm principalmente da endinheirada comunidade do agronegócio do país. Alguns, como o responsável por uma das maiores doações, Oscar Luiz Cervi, possuem fazendas do tamanho de Austin, no Texas. Outros vendem máquinas agrícolas, sementes ou carne.
Juntos, eles respondem pela maior parte dos R$ 22,2 milhões que o presidente recebeu em mais de 250.000 doações, na maioria pequenas quantias de pessoas físicas, segundo uma análise da Bloomberg das contas eleitorais.
Em comparação, Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera nas pesquisas, arrecadou menos de R$ 1 milhão.
“Os agricultores apoiam Bolsonaro em massa porque foram quase perseguidos historicamente por causa da questão ambiental no Brasil”, disse José Carlos Hausknecht, sócio da consultoria MB Agro. “Mesmo quando queriam fazer a coisa certa, sempre acabavam ligados ao desmatamento.”
Individualmente, o maior apoiador de Bolsonaro entre os produtores agrícolas é Cervi, que doou R$ 1 milhão. Sua empresa, a Cervi Agro, foi criada em 1983 na cidade de Coxim, Mato Grosso do Sul, estado que hoje é um dos principais produtores de grãos do país, mas que teve uma disparada no desmatamento.
Em 2013, ele e seu irmão plantaram cerca de 80.000 hectares de soja e milho, de acordo com um documento apresentado por um político local.
Outros doadores incluem Odilio Balbinotti, dono do Grupo ATTO, empresa que vende sementes para mais de 1,5 milhão de hectares de soja por ano, Celso Gomes do Santos, pecuarista conhecido como “Celso Bala” que em setembro deu de presente a Bolsonaro óleo abençoado e previu uma vitória no primeiro turno, e Gilson Berneck, dono de uma empresa que vende painéis de madeira em mais de 60 países.
Cervi, Balbinotti, Gomes dos Santos e um representante da campanha de Bolsonaro não responderam a pedidos de comentários. Um representante de Berneck disse por e-mail que as doações são legais e transparentes.
Bolsonaro provocou protestos globais de governos a celebridades de Hollywood por sua atuação em questões ambientais, principalmente quando se trata da Amazônia.
Sua postura desafiadora levou a Noruega e a Alemanha a suspenderem doações para um fundo dedicado à preservação da floresta tropical.
A União Europeia também interrompeu a reabertura de importações de produtos da BRF, maior exportadora de frango do Brasil, por causa das preocupações, disseram pessoas familiarizadas com o assunto. As negociações só serão retomadas após as eleições presidenciais, dizem.
Mas o dano à reputação não prejudicou o comércio. As exportações agrícolas estão a caminho de atingir um recorde de US$ 140 bilhões este ano e as receitas dos produtores estão em alta em meio a fortes preços de commodities.
O agronegócio também é um segmento historicamente conservador da população brasileira, que ecoa a retórica de Bolsonaro de defender os valores familiares e a fé religiosa. “O perfil deles é muito semelhante ao dos agricultores do Meio-Oeste americano”, disse Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper.
Nenhum dos ricos apoiadores de Bolsonaro do agronegócio é presença frequente nos círculos empresariais do Brasil. Mas eles fazem parte de um setor que, ao todo, responde por mais de um quarto da economia do país, segundo o Cepea, braço de pesquisa da Universidade de São Paulo.
As doações corporativas foram proibidas em 2015 depois que a Operação Lava Jato descobriu contribuições, legais e ilegais, em troca de favores políticos. A maior parte do financiamento de campanha agora é feito por meio de fundos públicos, embora as doações de indivíduos estejam crescendo.
Bolsonaro e suas propostas “são a melhor opção para o Brasil”, disse o representante de Gilson Berneck, que doou R$ 150.000.
Bloomberg