Agronegócio sem medo - Por Claudio Belodi

Agronegócio sem medo - Por Claudio Belodi

Em artigo publicado no dia 24/11/2016, intitulado “Contradições da agricultura brasileira”, seus autores Luis Fernando e Luis Carlos, ambos Guedes Pinto, afirmaram que menos de 1% dos mais de 5 milhões de estabelecimentos rurais produzem 51% da renda, portanto, o restante 99% dos agricultores não chegam a 50% da renda do campo. E mais, 66% dos agricultores tem renda inferior a um salário mínimo. Por inferência sabemos quem é a grande maioria que não consegue se alimentar do campo – distribuição de terras a quem não tem nenhuma vocação para a agricultura.
Com poucas ressalvas, a agricultura familiar contou com créditos do erário público de R$ 28,9 bilhões para o ano safra 2015/16, sem o devido retorno social, uma vez que estão abaixo da linha de pobreza, à vista da renda mínima que auferem da atividade. Em duas décadas e meia a produtividade de grãos aumentou em média 5,4% ao ano, no Brasil. Em 2016, com toda desgraceira política e econômica por consequência, deve atingir um aumento de 3%. Bem diferente de outras atividades que foram beneficiadas com subsídios fiscais e benesses financeiras, sem que nenhuma se sustentasse, ao contrário da agricultura de sustentação das exportações.
 
Segundo a CNA o agronegócio tem participação de 23 % no PIB nacional. O site do MAPA informa que as exportações somaram R$ 88 bilhões, em 2015, ante R$ 191 bilhões do comercio exterior total, com um saldo líquido na balança comercial do agronegócio de R$ 75 bilhões, no mesmo período (fonte: AGROSTAT). Com esses resultados não se faz necessário enaltecer a atividade, pois por si só os números são mostra cabal da sua capacidade. Capacidade resultante da luta dos abnegados produtores agrícolas que movimentam toda a cadeia do agronegócio.
Agronegócio que tem, talvez, a menor interferência do Estado no quesito economia, onde o agricultor tem obrigações que não são exigidas dos urbanoides, mas que as exigem para o próprio bem-estar, como: as regulações ambientais, os agrotóxicos, o bom trato da seara, a qualidade dos alimentos, do bem-estar animal, tudo para satisfação da sociedade, cuja grande maioria vive longe das labutas e ardume na exploração da terra.
 
Todo o exposto é para contestar o artigo de Paulo Moutinho, com título “Do que o agronegócio tem medo?”, publicado no dia 06/12/2016, explicitando que os ruralistas realizaram o sonho de mudar o Código Florestal, aprovando uma “lei enfraquecida e recortada sob medida para atender os interesses dos terratenentes”, segundo as palavras do articulista. O nobre pesquisador e articulista esqueceu-se de algumas coisas importantes antes de opinar: a) que não interessa ao país escancarar a propriedade privada, nem suas estratégias de produção; b) que o pais tem leis a serem observadas e, na verdade, tanto os defensores ambientais como o Ministério do Meio Ambiente não se acham numa posição superior para deflagrar sua desobediência. A propósito, rogamos abrir a Lei nº 6.015/1973 que dispõe sobre os registros públicos, onde no capítulo IV trata da publicidade e o seu requerimento depende de, no mínimo, algumas formalidades, em proteção dos dados de cidadãos e suas propriedades. A Lei nº 12.527/2011 que trata da transparência o faz garantindo o acesso as informações em relação aos atos de governos, não de cidadãos.
 
Pelo visto o agronegócio e sua fonte primária a agricultura não tem nada de muito grave a esconder, porque os números de sua pujança estão abertos tanto econômica quanto ambientalmente. É preciso que os defensores ambientais se empenhem primeiro na defesa da aldeia global, e não simplesmente de o Brasil passar a ser o responsável, quase exclusivo, pela subsistência do verde no planeta. Os outros participarão com o quê: carros elétricos, energia solar e eólica, tecnologias de pontas e outras formas industriais avançadas que em nada contribuem para reciclar o carbono. Como dissemos em outra oportunidade, para o acordo do clima se emancipar são necessárias políticas com fundamentos econômicos, pois na prática a ecologia filosófica não prosperará.
 
Não se alcançará a preservação de biomas e espécies sem que haja recompensa econômica, único meio capaz de satisfazer a escalada de qualidade de vida, prescrita inclusivamente por ambientalistas. Parafraseando o discurso, do que o pessoal do clima tem medo? - que seu ativismo seja infrutífero na busca de dinheiro para, ironicamente, não faltar alimento à mesa.