Amadurecimento na gestão de risco - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Amadurecimento na gestão de risco - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O mercado futuro de açúcar em NY terminou a semana com o vencimento maio/21 cotado a 16.38 centavos de dólar por libra-peso, ligeira queda em relação à sexta-feira passada, após ter visitado brevemente o território dos 15 centavos. Continuamos acreditando que o mercado de açúcar terá dificuldades para se sustentar acima dos 16 centavos de dólar por libra-peso.

As premissas são as mesmas: incertezas quanto à recuperação da economia mundial; diminuição da renda; trabalho de casa, menor mobilidade e consequente menor consumo fora de casa; Brasil suprindo o mundo de açúcar, adequadamente (derramou um adicional de 13 milhões de toneladas de açúcar nos últimos doze meses em relação a fevereiro de 2020); e, a Índia devendo exportar até 5.5 milhões de toneladas (3.2 milhões já contratadas). Essas, pelo menos, são as mais importantes.

Muitas usinas que fixaram seus açúcares de exportação para a safra 21/22 olham para trás, quiçá arrependidas, e pensam que se tivessem esperado mais tempo para fixar teriam obtido melhores preços. Esse é e sempre será o dilema do hedge: você nunca vai acertar o olho da mosca voando e, uma vez escolhido o nível de fixação, a conta está encerrada. Mas, existem alternativas para participar na alta.

É importante lembrar que a valorização de 35% do dólar em relação ao real, no período compreendido entre janeiro e maio do ano passado, mudou a curva do açúcar em reais por tonelada. O que temos sugerido a todo o momento é que a fixação em reais por tonelada seja acompanhada com a compra simultânea de uma call (opção de compra) out-of-the-money (opções fora-do-dinheiro) com 200/250 pontos acima do mercado no momento da fixação, no respectivo contrato futuro. Quem optou por essa estratégia, recuperou metade da diferença entre o valor fixado em reais por tonelada e o valor atual de mercado.

De qualquer forma, as fixações em centavos de real por libra-peso são as mais altas dos últimos dez anos: média de 67.12, pelo último levantamento da Archer. Não podemos deixar de ressaltar que o amadurecimento do setor em relação à gestão de risco profissional tem sido admirável. Ousaria afirmar que do agronegócio, o setor sucroalcooleiro é o mais conectado com o hedge. No passado, quando havia oportunidades de fixar açúcar a preços altamente remuneradores, muitas empresas eram impedidas pela política de risco interna de fixar açúcar para uma safra que ainda não começara a ser produzida. Isso mudou muito. Hoje tem empresas que estão muito bem fixadas para 22/23 e até 23/24. É, sem dúvida, uma mudança de paradigma.

No etanol, preocupa-me o que pode ocorrer com a Petrobras a partir do dia 20 de março, com a saída de seu competente presidente Roberto Castello Branco após entregar um lucro espetacular que R$ 60 bilhões, tirando a empresa do poço em que se encontrava. Como Bolsonaro parece ter predileção para o que há de pior, deverá colocar em seu lugar um desses generais de pijamas, que certamente não sabe a diferença entre um barril de petróleo e um de pólvora. A intervenção insensata do presidente foi um tiro no pé, afugentando investidores e engrossando as suspeitas por parte deles que a insegurança jurídica do Brasil está longe de ser superada.

Esse ponto é uma questão de alerta importante para o setor, pois o real continua se desvalorizando, o preço da gasolina e do petróleo estão em alta no mercado internacional e a temporada de viagens (driving season) nos EUA provoca um salto no consumo de combustíveis. Ou seja: os preços vão continuar subindo em reais. Quem sabe o ministro Guedes sopre no ouvido do chefe o que está pra acontecer.

E o que vocês acham, caros leitores e estimadas leitoras, que o presidente vai fazer? Ele vai ter que achar um culpado já que não se responsabiliza por fracassos em seu governo. Meu sentimento é que o setor sucroalcooleiro vai pagar essa conta, assim como pagou nos 6 anos da igualmente desastrosa administração de Dilma Rousseff. Naquele período, o setor perdeu R$ 70 bilhões entre preços administrados e a redução da participação do etanol no consumo dos veículos leves. Bolsonaro é um evento de cauda o tempo todo, podem esperar o pior. Espero estar errado.

Mudando de assunto, os números mais recentes do consumo global de açúcar publicados pelo USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) mostram, ano sobre ano, o consumo estimado para a safra 20/21 comparativamente às cinco safras anteriores subiu apenas 0.53% ao ano. Se suavizarmos a curva, usando uma média móvel de cinco anos, o número muda para 0.74% ao ano.

A boa notícia é que analisando o comportamento do consumo per-capita dos maiores países consumidores e a expectativa de crescimento populacional, pelos dados do Banco Mundial, nosso modelo indica um aumento no consumo mundial para as próximas cinco safras da ordem de 1.15% ao ano. Metade desse crescimento vem da Ásia. O consumo total vai passar dos atuais 174 milhões de toneladas para 184 milhões de toneladas. China, Índia, Indonésia, Paquistão e Egito, juntos, somam 5 milhões de toneladas.

No curto prazo, um assunto que merece atenção: os fundos reduziram suas posições compradas em 16,850 lotes, segundo o CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, e o mercado recuou 110 pontos. Pareceu-me uma queda grande para um número pequeno na redução da posição deles (estão agora quase 220,000 lotes comprados). E se, por alguma razão aleatória, eles decidissem reduzir a posição em 50%?

O Brasil vive uma tragédia todo dia. O número de mortos pela pandemia cresce em ritmo acelerado e de maneira assustadora, seguimos sem vacina suficiente. O macabro ocupante do Palácio do Planalto, que pouco se importa com a saúde da população continua governando com o fígado. A cada momento que abre a boca provoca crises e prejuízos para o País. Até quando nós, os pagadores de impostos que votamos nesse cidadão para nos livrarmos do PT, vamos aguentar ter no poder uma pessoa completamente irresponsável, desequilibrada e despreparada para governar o País? O Brasil civilizado já está nos estertores. 

Não há a menor esperança de dias melhores. Cercado por ministros de desconhecem suas próprias áreas de atuação, com raras exceções, e temeroso de qualquer pessoa que possa lhe fazer sombra dada sua inegável disfunção cognitiva, o ocupante do Planalto só vai piorar a situação do Brasil e levar-nos ao abismo nos agonizantes 22 meses que ainda lhe faltam de mandato. Não se pode descartar que se aventure a atos inconstitucionais para permanecer no poder, como alertaram renomados juristas e analistas políticos. Quem tem coragem de dizer para as mais de 260.000 famílias que perderam seus entes queridos: “Chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”. Um pesadelo.