"Risco climático é risco de investimento", esse foi o alerta que milhares de pessoas ouviram de Larry Fink, fundador e CEO da Black Rock, maior gestora de recursos do mundo. Dita por quem administra ativos de US$ 7 trilhões, quatro vezes o PIB do Brasil, esta declaração elimina qualquer incerteza de que as mudanças climáticas são um risco sistêmico real para o mercado.
É empolgante ter investidores fluindo para atividades redutoras e não emissoras de carbono, com alocação de recursos para uma nova economia. Afinal, foram necessários 23 anos, desde o Acordo de Kyoto em 1997, para que a transição rumo à a economia verde ganhasse ritmo, deixasse de ser aspiração ideológica de ambientalistas e se tornasse agenda empresarial do capitalismo consciente.
Não há um manual e o setor produtivo está acelerando a adoção de tecnologias disruptivas, métodos mais eficientes e reestruturando suas cadeias produtivas. Produzir com baixo carbono significa gerir metas e iniciativas para redução de indicadores de carbono nos processos e produtos. Vemos iniciativas ambiciosas, como as coalizões Climate Action 100 e Transform to Net Zero que reúnem empresas globais como BP e Microsoft comprometidas em reduzir as emissões em seus negócios.
Para uma diminuição efetiva de lançamentos de gases do efeito estufa na atmosfera, uma estratégia primordial é avançar na transição energética com a redução gradual do uso de combustíveis fósseis na economia.
Um retrato dos impactos da mobilidade pode ser observada no período em que vigoraram as medidas de restrição de circulação nos primeiros meses do ano. Foi registrada uma drástica redução de poluentes e uma melhoria da qualidade do ar de cidades notoriamente poluídas. Nova Déli, na Índia, por exemplo, viu o material particulado fino (MP 2.5) relacionado a problemas de saúde cair 60%. Na Região Metropolitana de São Paulo, a média de 17 µg/m³ de MP 2.5, registrada em 2019, caiu para 13 µg/m³ nos primeiros cinco meses de 2020, segundo dados da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb).
O Brasil está na vanguarda, com tecnologia já desenvolvida e instalada para manter a qualidade do ar sem prejuízo ao ritmo da economia e das atividades sociais. Hoje, 80% da frota de automóveis que circulam no país são com motores flex. No ano passado, foi lançado o primeiro carro híbrido-flex e, em breve, teremos a motorização via célula de combustível que retira do etanol o hidrogênio para alimentar suas baterias, o que estão chamando de carro mais limpo do mundo.
O uso de etanol no Brasil em dezessete anos evitou a emissão equivalente a mais de 515 milhões de toneladas de gás carbônico. Esse volume corresponde às emissões anuais somadas da Argentina, Venezuela, Chile, Colômbia, Uruguai e Paraguai. Levantamento da Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente de São Paulo mostrou que, em 2019, o estado registrou o menor índice de emissão de dióxido de carbono por habitante em vinte anos e coincide com o recorde histórico de consumo de etanol.
O Brasil figura entre os países a ter uma política nacional, o Renovabio, com efeitos práticos imediatos para reduzir suas emissões. É o maior programa de descarbonização da matriz de transporte do mundo que incentiva o aumento do uso de combustíveis renováveis e a comercialização de créditos de carbono, os chamados CBIOs. A base do programa é a comparação entre a pegada de carbono do biocombustível em todo o seu ciclo (da produção à queima no veículo) ao seu correspondente fóssil.
As mudanças por regulamentações são fundamentais para viabilizar e acelerar a transição, pois a reinvenção da indústria é incapaz de estabelecer sozinha a retomada verde. De fato, investidores, empresas e governo têm cada um seu papel, mas o real catalisador para a economia de baixo carbono é o consumidor.
Embora seja crescente o número de pessoas que consideram fatores ambientais em suas decisões de compra, a velocidade de adesão a esse conceito de consumo não corresponde à efetividade por resultados concretos. Cabe ao consumidor aumentar a demanda por produtos sustentáveis. Por outro lado, as empresas também têm sua responsabilidade em serem mais efetivas na atração de consumidores que optem por um modo de vida menos poluente. Para isso, é fundamental que as instituições sejam cada vez mais transparentes e ofereçam informações qualificadas às pessoas. Principalmente, que exista coerência entre os discursos e as operações, pois o greenwashing não é mais tolerado pela sociedade contemporânea.
Sendo este o momento de agir, figuras como a ativista Greta Thunberg representam uma nova geração conectada a uma agenda global pelo desenvolvimento sustentável. Colocam o tema em evidência, inspiram e incentivam novas gerações a questionar comportamentos e a influenciar outras gerações. "Larrys", "Gretas" e "Renovabios" não são excludentes. É essa combinação de esforços da sociedade e de estratégias simultâneas que nos impulsionará a um sistema econômico verdadeiramente menos poluente.
*Amaury Pekelman - Presidente da UDOP
Vice-presidente de relações institucionais e governamentais, sustentabilidade e comunicação do Grupo Atvos