No cenário espinhoso da pandemia da Covid-19, o PIB do agronegócio brasileiro teve expansão de 2,4% nos dois primeiros meses de 2020. O resultado foi impulsionado pela produção primária, ou seja, dentro da porteira das propriedades rurais, cujo avanço foi de 3,86%. Esses dados, apresentados em relatório do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da ESALQ/USP, com patrocínio da CNA, demonstram que o campo está puxando a economia nacional, como já vinha ocorrendo nas últimas crises enfrentadas pelo País: conforme dados oficiais que compilamos, nos últimos 10 anos, a agropecuária cresceu 220% e os serviços, 62%, enquanto a indústria retrocedeu 23%.
Obviamente, todas as atividades são importantes e precisam ser fortalecidas, inclusive por meio de políticas públicas eficazes, mas o agronegócio tem demonstrado resiliência ímpar ante as adversidades e conseguido expandir-se, sendo também decisivo para a conquista de superávit na balança comercial brasileira. É o que se observou em abril último, quando suas exportações alcançaram US$ 10,22 bilhões, 25% acima do registrado no mesmo mês de 2019. No acumulado do quadrimestre, suas vendas externas foram de US$ 31,40 bilhões, com aumento de 5,9% em relação ao ano anterior, revelam os números do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
O resultado, que representou quase metade das exportações do País (46,6%), foi o melhor para o período de janeiro a abril em toda a série histórica. E foi conquistado no contexto de uma enfermidade que está abalando o mundo e o comércio internacional. As importações do agro somaram US$ 4,57 bilhões. Assim, o saldo positivo de sua balança comercial foi de US$ 26,83 bilhões nos primeiros quatro meses de 2020. Em 2019, o setor já havia produzido superávit comercial de US$ 83,08 bilhões, ante US$ 48,03 bilhões do total do País.
O esforço do meio rural também está se refletindo na produção de grãos, que, segundo o oitavo levantamento da safra 2019/2020 da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que acaba de ser divulgado, está estimada em 250,9 milhões de toneladas, 3,7% ou 8,8 milhões a mais do que em 2018/19. Para a área plantada, o crescimento previsto é de 3,5% ou 2,2 milhões de hectares, totalizando 65,5 milhões. Quanto ao café, a colheita deverá crescer 25,8%, devendo alcançar 62 milhões de sacas beneficiadas, e a área cultivada, 4%.
O agronegócio enfrenta a pandemia com estratégia de guerra e determinação. Além de manter a economia viva, está atuando junto com toda a cadeia produtiva do abastecimento para garantir que os alimentos cheguem à população, como se pode constatar no trabalho que vem sendo realizado pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp). Tudo tem sido feito, desde a orientação aos produtores e trabalhadores, no sentido de adotarem os cuidados necessários para evitar o contágio, até a articulação da logística, do campo à mesa das famílias, passando pelos distribuidores, transportadores, entrepostos, supermercados, feiras, quitandas e sacolões.
Um exemplo dessas ações é a plataforma digital Pertinho de Casa, que está ajudando muito os pequenos produtores e varejistas e facilitando a vida dos consumidores, todos interligados num canal eficiente de e-commerce. Ademais, numerosas pessoas desprovidas estão recebendo cestas básicas e alimentos, por meio de iniciativas do setor rural paulista, que também está fornecendo máscaras aos trabalhadores do campo e a santas casas do interior, produzidas por costureiras instrutoras do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-AR/SP), com a coordenação da Faesp e apoio dos sindicatos rurais.
O agronegócio, com as medidas de proteção adequadas à saúde dos trabalhadores de toda a cadeia produtiva, está mantendo milhões de empregos, movimentando a economia e contribuindo para que o Brasil retome de modo mais rápido o crescimento depois que for possível restabelecer as atividades normais. Quando este momento tão esperado chegar, e fazemos fé para que seja o mais breve possível, acredito que a relevância do setor ficará mais evidente para a sociedade, o poder público e todos os segmentos empresariais.
Mais do que isso, o mundo terá uma percepção ampliada sobre o significado da produção agropecuária brasileira, que tem conseguido suprir as demandas em meio a um cenário muito difícil. Somente a China, de janeiro a abril desde ano, ou seja, em plena pandemia, importou 558 mil toneladas de carnes e o volume recorde de 24,7 milhões de toneladas de soja do Brasil. Este é um exemplo indicador de que nosso país deverá consolidar sua posição no mercado global como fornecedor de comida, commodities produzidas no campo e biocombustíveis mais limpos e de fontes renováveis.
Definitivamente, a partir do que produzimos dentro de nossas porteiras, seremos um dos pilares da sustentabilidade e da segurança alimentar do Planeta.
Fábio de Salles Meirelles é empresário do setor agrícola e presidente do Sistema FAESP-SENAR A.R./SP (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo / Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, em São Paulo).