Brasil precisa do Marco Legal dos combustíveis - Por Juan Diego Ferrés e Marcelo Rodrigues de Oliveira

Brasil precisa do Marco Legal dos combustíveis - Por Juan Diego Ferrés e Marcelo Rodrigues de Oliveira

Avenda anunciada pela Petrobras das oito refinarias da estatal, ainda este ano, traz um risco real de formação de monopólios privados. Ao realizar seu programa de desinvestimento, a companhia vai vender não apenas as plantas e equipamentos, mas o “cluster” de refino e logística, com significativo impacto no mercado consumidor na área de influência de cada parque de refino. Como proposto até agora, o novo modelo não trará renda nem competição ou concorrência. Se concretizada, a venda das refinarias significará um pedágio caro ao consumidor, que não será beneficiado pela tão sonhada e salutar concorrência de mercado. A nova configuração do setor não prevê investimentos, mas apenas a mudança de propriedade das empresas, além de não acarretar ganhos de eficiência nem ampliação do parque de refino.

A decisão de vender as refinarias criou a esperança de novos investimentos em infraestrutura logística, tanto públicos quanto privados, e um sentimento positivo com o novo cenário pós-venda das indústrias. Ao mesmo tempo, no entanto, esta situação causa incertezas, principalmente quanto aos aspectos concorrenciais e à capacidade de atuação dos órgãos de controle, apesar do bom preparo técnico dessa área do governo. Mesmo com tantas incertezas, não se recomenda qualquer intervenção econômica no mercado.
A situação exige pressa. Câmara e Senado precisam entregar à sociedade brasileira uma legislação completa com regras de produção, refino, comercialização, transporte e venda de combustíveis, após sancionada pela Presidência da República e regulamentada pelo ministério de Minas e Energia, Conselho Nacional de Política Energética e Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANP). É surpreendente que ainda não exista este marco legal em um setor imprescindível, do megaindustrial ao pequeno posto de combustível.

Com a mudança no controle empresarial da principal estrutura de refino de derivados de petróleo do país, o marco legal passou a ser ainda mais urgente. O Brasil tem o sétimo mercado de combustíveis do mundo, e o segmento representa entre 10% e 12% do Produto Interno Bruto (PIB), incluindo os biocombustíveis.
Essas privatizações repassarão cerca de 50% do mercado de refino de petróleo à iniciativa privada, nacional ou não. A nova situação exige informação adequada para que a sociedade brasileira entenda como funcionará o mercado de combustíveis em cada estado ou região na nova configuração empresarial. E sua relação com produtores, importadores, distribuidores, postos de venda e consumidores, além de conhecer as vantagens comparativas que as novas indústrias terão.

Somente uma robusta legislação específica poderá garantir que as atividades das novas empresas, focadas na produção de combustíveis fósseis, o façam estritamente em ambiente regulado que garanta os preceitos de sustentabilidade, controle ambiental, responsabilidades econômicas e concorrências inerentes à atividade, compatíveis com legislação específica para tal atividade, no sentido amplo.

O entendimento deveria orientar o arcabouço legal, considerando o entrelaçamento do setor de refino do petróleo fóssil com os demais segmentos, como a produção de biocombustíveis e a distribuição. A nova legislação também deve tratar das obrigações recíprocas de reduzir as emissões de CO2 e outros gases que provocam o efeito estufa para atender aos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil de descarbonizar a sua matriz econômica, política prevista no Programa Renovabio.

De tão importante, o tema não deve ser tratado como de interesse exclusivo ou restrito da Petrobras — estatal que funciona como braço forte do governo no setor. Trata-se da segurança do abastecimento geral do país, do transporte, e não apenas das regras para o refino de petróleo e o abastecimento de combustíveis. Tudo isso com reflexos no consumidor.

O país necessita de critérios mais específicos para evitar a desorganização de um segmento capaz de comprometer toda a economia. Os produtores e distribuidores de biocombustíveis apoiam e se comprometem com iniciativas que ressaltem a importância que tem esse planejamento. O Congresso precisa debater e definir o modelo de produção, distribuição e venda de combustíveis e suas implicações no dia a dia do país no futuro.

*Juan Diego Ferrés - Presidente da União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio)

**Marcelo Rodrigues de Oliveira - CEO da Ciapetro Distribuidora de Combustíveis