Caldo de galinha – Por Arnaldo Luiz Corrêa

Caldo de galinha – Por Arnaldo Luiz Corrêa

O contrato futuro de açúcar em NY fechou a sexta-feira com o vencimento março/2016 negociando a 15.30 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 26 pontos em relação à semana anterior, praticamente a mesma variação para os três vencimentos seguidos: maio, julho e outubro de 2016. Parece que uma linha paralela foi traçada acima da curva de preços da semana anterior.
A volatilidade do mercado continua subindo vigorosamente como reflexo das incertezas que rondam os fundamentos do mercado de açúcar, ou mais precisamente da já discutida dicotomia que existe entre a percepção do mercado futuro, com os fundos alimentando a alta das cotações e o mercado físico, cujos descontos invalidam a firmeza aparente originada pela participação dos futuros. Trazendo um pouco mais de instabilidade ao mercado, as notícias vindas da Índia são confusas e sujeitas a interpretações de toda sorte. Um dia tem impacto negativo e fazem o mercado despencar para no dia seguinte faze-lo subir. Um subsidio de 300 pontos equivalentes em NY é altista ou baixista? A Índia dizendo que vai exportar 3 milhões de toneladas é altista ou baixista? E se olharmos que esse número era quatro milhões há algumas semanas? E agora a SGS divulgou uma estimativa reduzindo para 23.1 milhões de toneladas a previsão de produção de açúcar naquele país, menor do que o consumo pela primeira vez em seis anos. Uau, isso vai alimentar o apetite dos fundos, não vai não? E assim, o mercado subiu no último dia de pregão da semana.
Os fundamentos do mercado de açúcar, embora construtivos no médio e longo prazo, não encontram nesse momento respaldo no mundo real. O petróleo quebrou os 40 dólares por barril negociando a um preço mais baixo desde agosto passado; o real se valorizou ligeiramente em relação ao dólar diminuindo a pressão sobre eventuais reajustes de preço da gasolina por parte da estatal brasileira de petróleo; o preço médio da gasolina no mercado internacional nesta semana foi de R$ 3.8107 por litro (gasolina A) o que coloca um teto de R$ 1.6731 por litro para o hidratado na Usina. Ou seja, estamos no limite de preço do hidratado (pelo nosso cálculo uns 4% acima do limite) que pode fazer que o consumo volte para a gasolina com a paridade acima de 70%.
A pior notícia, como não poderia deixar de ser, vem do próprio governo. Dilma e sua infinita capacidade de dizer e fazer bobagens declarou que a CIDE não vem e que vai enveredar esforços para fazer com que o Congresso aprove a malfadada CPMF. O problema com a CIDE é que reajuste no preço da gasolina, embora alivie o maltratado caixa da Petrobrás, causa inflação que já chega próximo dos 10% ao ano. A vantagem é que Dilma não precisaria se desgastar ainda mais e jogar no ralo a pouca popularidade que ainda possui (6% de lunáticos que não sabe em qual galáxia estão) tentando aprovar um imposto extremamente antipático. Para aprovar a CIDE basta uma canetada no seu gabinete.
Com a perda provável da paridade, a sinalização que isso pode trazer para um mercado ávido por notícias e reagente de maneira passional a elas é que mais açúcar estará disponível na próxima safra, mesmo que você e eu não concordemos com essa ideia.
Do lado positivo, acredito que os fundos não devem liquidar significativamente suas posições compradas até o final do ano para poder mostrar em seu portfólio um ganho substancial no açúcar. Se mantém ou não a posição depois do espocar dos champanhes no ano novo, é uma outra história. A recompra de açúcar de exportação por parte de alguns produtores sinaliza que talvez não tenha produto disponível para a entrega, ou porque acredita que os descontos vão melhorar, ou ainda que a arbitragem com o etanol é melhor direcionar mais cana para o combustível ou simples especulação. O El Niño também colabora para um mercado mais volátil. Previsões dão conta de que teremos muita chuva no final do ano e isso quer dizer que aquela quantidade de cana que muita gente aposta que ainda será moída, não parece que vai se concretizar. O mundo trabalha com o Centro-Sul moendo 595/600 milhões de toneladas. Qualquer coisa menos que isso vai trazer combustível para novas correções. Como o mercado sempre exagera na alta ou na baixa, e a volatilidade gravita acima dos 32% ao ano sem dar sinais de que vai ficar por aí, temos um espaço razoável para ver NY testando 16 centavos de dólar por libra-peso.
Do lado negativo, petróleo em baixa, a não aprovação da CIDE na virada do ano, a fraqueza do físico ainda divorciado do mercado futuro e o fato de algumas usinas ainda estarem atrasadas nas fixações para o início de 2016 e, portanto, podem fazer o papel de vilãs se forem todas ao mesmo tempo fixar preços em pânico, são questões que merecem ser analisadas com o devido cuidado.
As commodities ainda mostram um desempenho fraco ao longo do ano e o açúcar em 31 de dezembro de 2014 fechou a 14.52 centavos de dólar por libra-peso. Na visão dos fundos, se os fundamentos parecem apontar para um ano muito mais construtivo em relação ao ano passado, com aumento do déficit e produção estagnada, é natural que eles mantenham a posição pelo potencial de valorização que o açúcar parece ter.
Caldo de galinha e cautela não fazem mal a ninguém. Travar as vendas de açúcar de exportação ao longo da curva de preços de NY combinada com a curva ascendente do real em relação ao dólar, trazem um valor em reais por tonelada extremamente atraente. Oportunidades como essas não devem ser perdidas. Pelo menos a trava dos valores do orçamento deve ser observada, ou seja, a compra de puts e a trava dos reais para garantir um mínimo de rentabilidade.
Bom caldo de galinha e bom final de semana para todos.
Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting