A cana bisada poderá voltar a ocorrer no Centro-Sul nesta safra. Conheça os cuidados e as recomendações para tirar o melhor proveito deste fato.
As últimas pesquisas do Grupo IDEA, que acompanha a safra de cana, açúcar e etanol da região Centro-Sul do Brasil, mostraram que haverá um ganho médio de 4% na produtividade agrícola. Ao contrário dos últimos anos, o clima nesta safra se mostra mais chuvoso, sendo responsável por frequentes paralizações na moagem, principalmente no sul do Estado de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde a incidência de precipitação está sendo maior. Se mantidos, esses índices representarão um adicional de cerca de 20 milhões de toneladas de cana, que estarão disponíveis para serem moídas. A produção de cana do Centro Sul poderá atingir mais de 600 milhões de toneladas.
As boas médias de produtividade agrícola é resultado das condições climáticas favoráveis na maioria das regiões produtoras, mesmo nos canaviais em declínio ou que receberam menos tratos culturais.
O Centro Sul possui cerca de 8 milhões de hectares com cana comercial destinada à moagem. Com o fechamento de várias usinas, as empresas vizinhas estão adquirindo e moendo a cana disponível, porém ocorrerão limitações físicas e climáticas para moer toda a cana, a não ser que a safra se estenda até os primeiros meses de 2016. Isto não é recomendável dado aos enormes problemas que acarreta principalmente à lavoura.
Muitos são os fatores que indicam uma provável sobra de cana sem cortar para a próxima safra, dentre os quais podemos destacar os seguintes:
O que se contrapõe à sobra de cana em pé?
Como escolher a cana para bisar?
Nem todas as variedades servem para ser bisadas, uma vez que não brotam bem após o corte ou apresentam florescimento que interrompe o desenvolvimento vegetativo. Esta é uma importante questão a ser analisada, pois as variedades brasileiras são de ciclo curto ou crescimento determinado, sendo que o seu sistema radicular não é vigorosamente renovado quando os rizomas “envelhecem”, ou seja, quando permanecem no solo por períodos superiores a 14 meses. É o mesmo que plantar uma muda velha: sua brotação será comprometida. A falta d’água logo após o corte numa cana bis pode levar o canavial a um “stand” muito fraco no corte seguinte.
O florescimento neste ano está intenso nas regiões norte, noroeste e oeste do Estado de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Entretanto, antes da maior isoporização dos colmos, parte desta cana já será colhida, minimizando as perdas.
A cana que floresce é porque encerrou o seu ciclo de desenvolvimento vegetativo e, quando não é colhida e é bisada, apresenta problemas com secamento, apodrecimento, brotação lateral e brotos chupões, comprometendo a produtividade e a qualidade da matéria prima.
A ocorrência de florescimento depende da latitude da região e da condição climática. Quando chove muito nos meses de fevereiro e março e as temperaturas mínimas noturnas se mostram mais elevadas, acima de 18°C por vários dias consecutivos, favorecendo o fenômeno. Quanto menores as latitudes, maior é a propensão ao florescimento.
As variedades mais indicadas para bisar são as menos propensas ao florescimento. Entretanto dependendo do ano agrícola climático e da localidade, algumas variedades mudam seu comportamento em relação ao florescimento.
Assim, a RB86 7515 que é variedade mais plantada no Centro Sul pode chegar a florescer em Goiás e Minas Gerais, porém será relutante nas regiões mais ao sul.
Por outro lado, a SP83-2847, RB85 5453, RB96 6928 e CTC 2 que são muito cultivadas, podem florescer em quase todos os lugares e todos os anos.
As variedades RB92 579, CTC 9001, CTC 9003, CTC 6, CTC14, IAC91-1099, por exemplo, são mais relutantes ao florescimento e por isso, recomendáveis a serem bisadas. Antes de decidir qual canavial bisar, deve-se fazer uma avaliação do estado vegetativo. Recomenda-se ir ao campo a partir de agosto e abrir longitudinalmente os ponteiros da cana. Algumas podem não ter emitido a inflorescência, mas podem estar induzidas, demonstrando a diferenciação da gema apical. Se ocorrer este fato em mais de 30% dos colmos, esta cana não deve ser bisada.
A escolha do canavial para ser bisado
Deve haver muito critério e, sobretudo, bom senso na escolha dos canaviais que deverão permanecer “em pé” para a próxima safra. Várias características desejáveis devem ser consideradas para escolha dos canaviais a serem bisados:
Desvantagens da cana bis
Há inúmeros problemas e inconvenientes no uso de cana bis, tais como:
Outras desvantagens da cana bis, principalmente quando deixada no campo sem critérios, são:
Nem todas as variedades apresentam estes problemas, mas faltam pesquisas e maiores informações a respeito. Um exemplo disto é o comportamento da SP79-1011 que se dava bem como cana bis no Estado de São Paulo. Esta variedade além de apresentar ganhos significativos de produtividade, sua matéria prima era de muito boa qualidade, mesmo quando bisada. Entretanto, esta variedade não tem sido cultivada devido a problemas com a ferrugem marrom.
Quais são as possíveis vantagens da cana bis?
Tudo isso é possível desde que a escolha da cana para bisar siga as recomendações técnicas deste artigo.
Numa análise mais simplista de fluxo de caixa, pode-se até admitir que a cana bis seja uma alternativa de redução de gastos de curto prazo, pois diminui o desembolso com colheita, tratos culturais e reforma. Entretanto, tendo em vista a necessidade das empresas de fazer caixa, a cana bis pelo menos na atual conjuntura, não é um bom negócio. Se não tiver outra alternativa, recomenda-se escolher bem a cana adequada para ficar para a próxima safra.