Cana de açúcar em SP – o risco da monocultura (Parte I) – Por Paulo Costa
A Notícia 1: Um seleto grupo de dez empresas foge à regra quase geral de crise no setor sucroalcooleiro, que já levou mais de 80 usinas a fechar as portas nos últimos cinco anos. O grupo das bem sucedidas responde por 15% da moagem de cana-de-açúcar no Centro-Sul, segundo estimativas do mercado, e seu desempenho reforça a tese de que boa parte do desequilíbrio no setor é resultado de problemas de gestão.
A Notícia 2: Apesar das frustrações, a presença estrangeira no segmento de etanol e açúcar no Brasil tem crescido de forma expressiva. Levantamento feito pelo Valor Econômico mostra que, juntas, as 14 principais multinacionais que investiram em usinas de cana ampliaram a moagem em 60% nas últimas cinco safras. O maior dinamismo estrangeiro nesse segmento não está diretamente relacionado à satisfação com o negócio. Grande parte dessas companhias está entregando prejuízos consecutivos a seus acionistas. A questão é que, depois que se compra uma usina, é praticamente obrigatório continuar investindo no ativo, seja para ganhar escala ou para otimizar o uso da capacidade. Algumas companhias, tais como a americana Bunge e a espanhola Abengoa, até tentaram volta a se desfazer de suas unidades, após perdas sucessivas. Mas não encontraram interessados.” (Valor Econômico, 10jun2015)
O Comentário Parte I: Pois é! A bendita síndrome que ataca os agricultores, paulistas em particular, de mergulharem em culturas perenes ou semi-perenes porque estão dando muito retorno e os preços/lucros não vão parar de subir. Nem vamos voltar ao ciclo do café, pois esta é outra história em umBrasil econômico e social que não mais existe. Vamos ficar aqui apenas nos recentes ciclos da citricultura e ainda mais recente da cana-de-açúcar. Entre 1965 e meados de 1990, importante parte do Estado de São Paulo agrícola transformou-se paulatinamente em um grande pomar, na trilha aberta por dois industriais empreendedores natos, Cutrale e Fischer. A agravante de que com um pé de laranja o agricultor namora, noiva, casa e ainda comemora bodas de prata. Ou seja, pode ficar agarrado a ele por trinta anos produtivos e sem muita alternativa em eliminá-lo face aos investimentos já feitos. Pois bem, vieram vários contratempos, de mercado, de pragas, de qualidade, de excesso de oferta e somente hoje a situação volta a estar relativamente controlada, passados quase vinte anos e muitas quebras pelo caminho, de industriais e produtores.
A alternativa de muitos agricultores foi mover-se para outra cultura, agora semi-perene, que é a tradicional cana de açúcar e que já estava estabelecida em algumas regiões citrícolas.
Esta será o tema da Parte II deste artigo.