Cana de açúcar em SP – O risco da monocultura (Parte II) – Por Paulo Costa
A Notícia - “Em recuperação judicial há quase seis anos, a tradicional Companhia Albertina, de Sertãozinho (SP), teve sua falência decretada pela Justiça. No despacho, datado de 5 de junho, a juíza Daniela Regina de Souza argumenta que não lhe restou outra alternativa, dado o laudo do administrador judicial que atesta a impossibilidade de a Albertina cumprir seu plano de pagamento. Outra tradicional empresa do setor, a Usina Carolo, que segue em recuperação judicial, terá parte de seus ativos leiloados neste mês.
Juntos, os dois grupos sucroalcooleiros têm dívidas sujeitas à recuperação judicial de R$ 1 bilhão (em torno de R$ 200 milhões da Albertina) e seus problemas são anteriores à crise de 2008.” (Valor, 11jun2015)
O Comentário - No final dos anos 90 e início do século, com a queda da citricultura, um certo equilíbrio voltou a reinar no mundo agrícola de São Paulo. Os cereais e oleaginosas recuperaram espaço na Paulista, Alta Paulista, Alta Mogiana e norte de SP mas não tivemos em grande escala a volta da pecuária de corte ou leite, principalmente no Noroeste. Aí, com a chegada dos motores flex (2003) capazes de utilizar etanol hidratado como combustível independente, sem deixar a alternativa do uso da gasolina, a febre pela produção de cana ganhou força total. E foi uma avalanche, agora sim e mais que a citricultura. transformando rapidamente o Estado de São Paulo em um imenso canavial. A indústria de base prosperou e nos meados da década investimentos em novas usinas, particularmente em destilarias voltadas para a produção do etanol, espalharam-se pelos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás, inflados pela perspectiva do Brasil se tornar o grande produtor mundial da energia verde e renovável.
Curiosamente, o mesmo lastro político dado pelo Governo Federal para sustentar este crescimento, foi retirado com a descoberta do pré-sal, a não regulação adequada pela Agencia responsável por tal, e ainda uma política de preços para a gasolina, ditada pela Petrobras, que aniquilou as margens de lucro do segmento, com consequências diretas para o produtor de cana. O resto da história já sabemos, mas o final ainda não. Provavelmente, assim como na citricultura, um ponto de equilíbrio vai ser encontrado, mas o dano já foi feito. Toda esta história aqui contada para alertar nosso produtor agrícola sobre o risco de apoiar-se em uma perspectiva de crescimento de um segmento que pode não se sustentar.
A divisão dos ovos em vários cestos continua o melhor ditado a ser seguido.