O elefante é o animal terrestre mais pesado do nosso planeta. Pesa, em média, cinco toneladas. Imagine agora 100 milhões deles, acomodados em uma gigantesca balança, cujo prato teria um tamanho equivalente a toda a área do município de São Paulo. O resultado dessa hipotética pesagem seria ainda menor do que a quantidade de dióxido de carbono (CO2) que o uso do etanol nos automóveis no Brasil evitou nos últimos 17 anos.
De fato, cerca de 515 milhões de toneladas de gases de efeito estufa deixaram de ser despejadas na atmosfera desde o início dos carros flex no Brasil em 2003, por conta do nosso etanol. Esse biocombustível, produzido a partir da cana-de-açúcar, é capaz de reduzir as emissões em até 90% quando comparado com a gasolina, além de zerar a dispersão poluentes nocivos à saúde.
Temos uma rica história na área de mobilidade sustentável. O Brasil, desde meados dos anos 1970, adotou a mistura do etanol na gasolina e já naquele período lançou o carro 100% movido a álcool, como resposta à crise do petróleo. Tornamos, assim, sustentáveis os carros com motores a combustão. No início deste século, fomos novamente pioneiros na produção e uso dos automóveis com motores flex em larga escala e, em menos de 20 anos, essa tecnologia já está presente em 80% da frota. No ano passado, o Brasil saiu novamente na frente, com o lançamento mundial do primeiro carro híbrido-flex e já estão no forno novas tecnologias a exemplo da motorização via célula de combustível que retira do etanol o hidrogênio para alimentar suas baterias.
O etanol faz também uma diferença fundamental para a nossa saúde. A combustão limpa desse biocombustível evita a dispersão de diversas substâncias prejudiciais à saúde emitidas por combustíveis fósseis, como o material particulado fino (MP 2.5). Esse poluente é capaz de penetrar em pontos mais profundos dos pulmões e o uso do etanol tem evitado milhares de mortes e internações por doenças respiratórias e cardiovasculares no Brasil. Cabe ainda destacar estudo recente de Harvard que concluiu que o aumento de apenas 1% na concentração desses materiais particulados no ar resulta em um incremento de 8% das mortes pela COVID-19.
Por conta do nosso biocombustível, se compararmos São Paulo com outras megalópoles globais do mesmo porte, a diferença é abismal. Em Nova Déli, na Índia, por exemplo, a média do MP 2.5 em 2019 foi de 99 µg/m³, segundo o iQAir. Na Região Metropolitana de São Paulo, por sua vez, a média naquele ano foi cinco vezes inferior (17 µg/m³) e dentro dos limites recomendados pela Organização Mundial de Saúde, de 20 µg/m³ de MP 2.5.
A partir desse ano, o Brasil cristaliza os benefícios ambientais e socioeconômicos dessa indústria verde ao lançar uma moderna política pública, reconhecida como exemplo até pela Agência Internacional de Energia (IEA). Trata-se do RenovaBio, o maior programa de descarbonização da matriz de transportes do mundo, que entrou em operação este ano e estabelece metas anuais de redução da intensidade de carbono, seja por meio da maior participação de biocombustíveis ou pela compensação das emissões com créditos de carbono (CBIOs). Uma resposta efetiva ao Acordo de Paris, na Conferência do Clima.
É preciso avançar. No horizonte de uma década, o RenovaBio tem como objetivo, por meio dos CBIOs, retirar quase 700 milhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera, possibilitando que o País cumpra seus compromissos ambientais, um peso equivalente a 150 milhões de elefantes. E se a antiga cantiga infantil já nos dizia que “um elefante incomoda muita gente”, imaginem centenas de milhões desses paquidermes, sob a forma de gases de efeito estufa, despejados em nossa atmosfera.
Eduardo Leão de Sousa é diretor executivo da UNICA.