Cenário macro extremamente deteriorado - Por Arnaldo Luiz Corrêa

Cenário macro extremamente deteriorado - Por Arnaldo Luiz Corrêa

O cenário macro global se deteriorou fortemente durante a semana com o Banco Central americano (FED) aumentando a taxa de juros básica em 75 pontos e com a perspectiva de ajustes futuros objetivando controlar a inflação americana que em maio apontava 8.6%.

O mercado parece não acreditar que os EUA conseguirão escapar da recessão que, dizem, pode se estender até 2024, e os ativos de risco experimentaram enormes quedas por isso. Apenas no acumulado da semana, o algodão lidera a queda com 18%, depois o gás natural 17%, gasolina RBOB 10%, petróleo tipo WTI 7% e o Brent 4%. A queda generalizada alimenta o pânico e – como se sabe – os mercados em pânico exageram na alta e na baixa.

Apesar do mau humor, os números da atividade industrial na China vieram melhores do que a expectativa (esperava-se uma queda 0,7% e veio uma alta pequena de 0.7%), mas as vendas no varejo amargaram uma retração de 6.7%. O Banco Central do Brasil aumentou a taxa dos juros básicos para 13.25%. Uma semana horrorosa.

O açúcar encerrou a sexta-feira com o vencimento julho/22 cotado a 18.58 centavos de dólar por libra-peso, um encolhimento de 71 pontos comparativamente à sexta-feira anterior. Foram quase 16 dólares por tonelada de perda na semana. Os vencimentos outubro/22 e março/23 também amargaram perdas de 17 e 18 dólares por tonelada, respectivamente. Curiosamente, o açúcar convertido em reais por tonelada teve ligeira alta devido à desvalorização da moeda brasileira em mais de 3% frente ao dólar. Com isso, os valores do açúcar convertidos tiveram uma melhora entre 30-40 reais por tonelada na semana.

Os fundos liquidaram 50,000 contratos o que não deixa de ser positivo, pois imaginávamos que uma liquidação dessa magnitude provocaria uma queda mais acentuada.

O Congresso aprovou o limite de 17% no ICMS para os combustíveis. PIS/Cofins e CIDE sobre o etanol anidro e hidratado foram zerados até 31 de dezembro. Como é impossível tapar o sol com a peneira, a Petrobras reajustou os preços da gasolina e do diesel represados há várias semanas. O efeito de todas essas mudanças capitaneadas pelo presidente da republica e seus aliados pode ser neutralizado em função do aumento da Petrobras e a perspectiva de subida no preço do petróleo combinada coma desvalorização do real frente à moeda americana. Medida populista, inócua e com fins eleitoreiros. A conta dessa insanidade certamente virá em 2023 para nós contribuintes pagarmos.

Se tem algo de bom que vale a pena mencionar como resultado desse imbróglio é a garantia constitucional de que os combustíveis renováveis terão um diferencial tributário favorável em relação aos combustíveis fósseis. E, também, como disse o jornalista Celso Ming, em sua coluna no Estadão nesta sexta-feira, a limitação do ICMS reduz a possibilidade de fraude na movimentação do etanol de um estado para outro, cuja disparidade entre alíquotas incentivava o crime de sonegação. É o caso de movimentações do produto no Rio de Janeiro (cujo ICMS era de 35%) para os estados vizinhos com carga menor. Paradoxalmente, pode ser que a arrecadação aumente com a redução da fraude.

Depois do ajuste de preços da Petrobras, os políticos gritaram e acusaram a empresa de ser contra o Brasil. Essa súcia de farsistas que domina a política brasileira e mama com volúpia nas tetas do país sem dar nada em troca, só quer mesmo aparecer em época de eleição. E pioram ainda mais o clima insuportável que nós brasileiros – que acordamos todo dia para trabalhar ao contrário dessa horda de abana-moscas – enfrentamos diuturnamente com crises após crises num país sem direção. Toda o dia é um estresse. As ações da petroleira afundaram mais de 10% no meio desse tiroteio causado por Brasília. Ah, você acreditou no mote “Mais Brasil e Menos Brasília” lançado pelo atual presidente na campanha de 2018? Eu também. Ou seja, o cidadão brasileiro continua sendo tratado como palhaço nesse circo (ou será um hospício) que se transformou o Brasil. E não há nada no horizonte que possa nos deixar minimamente otimistas.

Os rumores no final da sexta-feira davam conta que o congresso quer sobretaxar a Petrobras em represália ao aumento dado pela empresa. O presidente da república quer abrir uma CPI para investigar o CEO da Petrobras pelo aumento. Há necessidade de encontrar um culpado, urgente. Atitudes de um Donald Trump das Selvas que só encontra congênere nos países mais atrasados do mundo. Pelo menos em termos de despreparo e baixeza das pessoas que ocupam os poderes, não deixamos ninguém nos superar. Essa gritaria toda serve como cortina de fumaça para os verdadeiros e reais problemas que afligem o país: 13 milhões de desempregados e 33 milhões de famintos, para mencionar apenas dois. O resto é politicagem do mais baixo nível.

A gasolina nos EUA tem expectativa de alcançar R$ 9,50 o litro nesse verão. Em Hong Kong, custa R$ 15,20, França R$ 11,60, Itália R$ 10,80 e Canadá R$ 9,20. Com o aumento da Petrobras e as reduções tarifárias implantadas, vamos pagar menos de R$ 7,00 o litro.

Algumas usinas notaram melhora na produtividade nos canaviais nas últimas semanas, mas a queda da ATR continua preocupante. Tem usineiro que acredita que dificilmente teremos uma recuperação da ATR planejada. Dependendo da região, fala-se em quedas de 4 kg de ATR por tonelada de cana até 15. Realmente preocupante.

Para cada 1 kg de perda na ATR, considerando os mix de produção atuais, significa uma redução de aproximadamente 225,000 toneladas de açúcar e 180 milhões de litros de etanol. Se pensarmos no setor como um todo, 1 kg de ATR a menos representa mais de R$ 1.1 bilhão de receita a menos. Pense nisso!

Segunda-feira é feriado nos EUA e não tem mercado.

 


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