O Brasil tem perdido a batalha de comunicação contra o lobby protecionista de concorrentes estrangeiros.
No mesmo dia em que 29 instituições financeiras de todo o mundo responsáveis por US$ 3,75 trilhões em ativos oficializavam a ameaça de cortar investimentos no Brasil se “o desmantelamento de políticas ambientais” não for revertido, o Ministério da Agricultura lançava em parceria com a Climate Bonds Initiative (CBI) o Plano de Investimento para a Agricultura Sustentável.
A CBI é uma das certificadoras de títulos verdes mais reputadas do mundo. Após consultas com o setor agropecuário, foi desenvolvido um protocolo específico para o Brasil. Empresas e produtores rurais que comprovarem boas práticas ambientais, sociais e de governança poderão emitir títulos de dívida a serem adquiridos por investidores.
As emissões de títulos verdes estão em franco crescimento no mundo, chegando a US$ 260 bilhões em 2019. O Brasil é o segundo maior mercado da América Latina, somando quase US$ 6 bilhões em títulos. Ainda assim, é um mercado incipiente, levando em conta que o capital de giro para movimentar atividades agropecuárias se aproxima de US$ 100 bilhões por ano, fora a produção de insumos, logística, industrialização e comercialização, que também podem ser contempladas pelo programa.
A agropecuária brasileira, além de ser a segunda maior exportadora do mundo, em vias de se tornar o primeira, é uma das mais sustentáveis. Dois terços do território nacional são de vegetação nativa, e tecnologias de integração lavoura-pecuária-floresta vêm viabilizando a utilização de áreas degradadas para aumentar a produtividade sem novos desmates.
O Brasil tem perdido a batalha de comunicação contra o lobby protecionista de concorrentes estrangeiros. Pior: dia sim e outro também, o próprio Planalto marca gols contra, não só pelo descaso com os desmatamentos, mas pela insistência em hostilizar a causa ambiental para agraciar sua militância ideológica.
Esta esquizofrenia na administração federal precisa acabar - se a obrigação legal e moral de proteger o bioma nacional não fosse suficiente, o pragmatismo econômico o exige. Não é tolerável que enquanto seus protagonistas mais responsáveis, como a ministra da Agricultura, se mobilizem para apagar incêndios - literal e figurativamente -, outros - a começar por ninguém menos que o próprio presidente e seu ministro do Meio Ambiente - sigam riscando fósforos.