Chuvas atrasam conclusão do processamento de cana

Chuvas atrasam conclusão do processamento de cana

As chuvas que têm caído de maneira recorrente em diversas áreas de cana no Centro-Sul nos últimos dois meses estão atrasando a colheita e devem adiar para novembro ou dezembro a conclusão da moagem da atual safra. Em relação ao período em que cada unidade costuma encerrar suas operações, o atraso será de uma quinzena a até dois meses.

No interior de São Paulo, o atraso médio deverá ser de 15 dias, estima Roberto Perosa, CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana). “O atraso não deve ser grande porque a safra começou atrasada, e agora, com as chuvas, [o andamento] equilibrou um pouco”, afirmou o dirigente, que participou da 22ª Conferência Internacional Datagro sobre Açúcar e Etanol. Ele acredita que, até a primeira quinzena de novembro, boa parte das usinas da região terá encerrado o processamento de matéria-prima.

Fora de São Paulo, no entanto, o atraso deve ser maior. No Paraná, a colheita está em torno de 70% do volume esperado até o fim da safra, segundo Miguel Tranin, presidente da Associação de Produtores de Bioenergia do Estado do Paraná (Alcopar), que congrega 15 das 17 usinas sucroalcooleiras do Estado. Nesta época do ano, o ritmo costuma estar entre 80% e 85%.

Adiamento dos trabalhos
Ele não descarta a possibilidade de algumas usinas deixarem para processar parte da cana apenas em março. O adiamento deve ocorrer principalmente entre as usinas que são abastecidas com cana de terrenos argilosos, onde a colheita está mais penosa por causa das chuvas das últimas semanas, explica Tranin.

Na Usina Jacarezinho, localizada no município de mesmo nome no norte do Paraná, a moagem deve se estender até 21 de dezembro, três semanas além do previsto, diz Condurme Aizzo, diretor de operações da companhia. “Tem possibilidade de bisar cana (fazer a colheita apenas na safra seguinte), mas vamos tentar antecipar. Ainda não decidimos”, afirmou.

Também devem ocorrer atrasos em Mato Grosso do Sul. Na Alcoolvale, em Aparecida do Taboado, o processamento deve se estender até dezembro. O plano é garantir o plantio de renovação de canaviais entre fevereiro e abril, diz Claudio Nunes, diretor comercial da companhia.

Nem toda usina, porém, deve estender o processamento. “Em Minas, devemos acabar a moagem no período normal, em novembro”, diz Renato Junqueira, vice-presidente de açúcar, etanol e energia da Adecoagro, que possui duas usinas em Mato Grosso do Sul e uma em Minas Gerais.

As empresas vão tentar evitar cana bisada para não atrapalhar o calendário de plantio, já que o atraso na colheita pode manter ocupadas terras em que se renovaria o cultivo, explica Antonio Cesar Salibe, presidente da União Nacional de Bioenergia (Udop).

Etanol
A lentidão da colheita e da moagem de cana vem ajudando a oferecer algum suporte aos preços do etanol, já que o ritmo da produção está mais contido, avalia Miguel Tranin, da Alcopar. Entre o início de setembro, quando o biocombustível atingiu seu menor valor desta safra, e a semana encerrada dia 21 de outubro, o indicador Cepea/Esalq para o etanol hidratado das usinas paulistas subiu 18% (a R$ 2,7211 o litro), e a gasolina A vendida pela Petrobras ficou estável. Claudio Nunes, da Alcoolvale, avalia, porém, que a alta do etanol pode não ter muito fôlego, já que o biocombustível está limitado aos 70% do preço da gasolina.

A umidade também está favorecendo a produtividade da cana, o que pode aumentar a produção total da temporada. Perosa, da Orplana, acredita que a moagem do Centro-Sul deve se aproximar dos 550 milhões de toneladas nesta safra; as primeiras projeções eram de 530 milhões. Na Usina Jacarezinho, o rendimento agrícola médio da safra está alcançando níveis recorde, de 90 toneladas por hectare, acima da média setorial, de 75 toneladas por hectare.

Por outro lado, o alongamento da safra eleva o custo fixo das usinas, observa Roberto Perosa, da Udop. Além disso, as chuvas atuais podem ajudar, mas ainda não asseguram melhoria de produtividade na próxima safra.


Valor Econômico