Cofco investe no controle de seus canaviais

Cofco investe no controle de seus canaviais

O aumento dos custos de insumos, como fertilizantes, defensivos e combustíveis, e as exigências de redução da pegada ambiental, que têm se intensificado no mercado global, levaram a trading chinesa Cofco International a investir em um novo processo de controle e automação de tratos culturais, preparo e plantio da cana nos 180 mil hectares que cultiva no Estado de São Paulo.

A agtech Wolk Tecnologia desenvolveu um projeto-piloto, batizado de PlantAG, em uma das quatro usinas da Cofco para viabilizar o acompanhamento, a digitalização e a certificação dos tratos culturais. A ferramenta permite o monitoramento de cada processo da atividade, desde a disponibilidade de insumos em estoque até a formulação e o volume de produto final a ser aplicado, passando pela transferência da calda do tanque aos caminhões e destes aos implementos de aplicação.

Esse tipo de monitoramento já ocorre na fase da colheita da cana, um processo mais concentrado, mas ainda é um desafio para as ações de manejo e tratamento das lavouras, consideradas “operações rebeldes”. A Cofco gasta US$ 200 milhões por ano nesse estágio da produção no Brasil, mas com esse “vácuo” de informações, não consegue identificar se há perdas ou potenciais de melhorias nos tratos da cana. São de seis a dez aplicações de adubos e defensivos nas lavouras ao longo da safra.

A tecnologia faz, por exemplo, a medição do volume de calda abastecida no caminhão e determina a quantidade restante do produto que ficou no tanque e que foi transferida. Os sensores se comunicam e enviam dados para um aplicativo que registra cada etapa, por meio de tags e ordens de serviços, e emite alertas e recomendações em tempo real aos encarregados, via robô.

O processo é semelhante para abastecer os implementos que vão a campo, na aplicação nas plantas e no retorno ao pátio das fazendas. O equipamento registra a quantidade de insumos aplicado por hectare, zona e talhão. Assim, o dispositivo informa se a quantidade aplicada é a mesma estipulada de acordo com a dosagem especificada. Se as informações não se encaixarem, a tecnologia recomenda análises no processo, pois haverá alteração do custo.

“O cruzamento de informações sobre os insumos utilizados e o nível de calda no tanque pode acionar automaticamente a solicitação de compra desses insumos”, exemplifica Luiz Cláudio de Lima, CEO e cofundador da Wolk.

Controle de resíduos químicos
Os gastos com tratos culturais já são quase proporcionais aos de plantio e colheita da cana devido à escalada nos preços de defensivos, fertilizantes e diesel, ao envolvimento de operadores e à atenção às questões ambientais. Além da redução natural de custos, o objetivo da Cofco é controlar os resíduos químicos, também conhecidos como lodo ou vinhaça, que são comumente despejados em solo e ser referência no setor em sustentabilidade.

“Conseguimos mostrar para investidores e para a sociedade que temos domínio sobre essa operação”, afirma Rogério Nicola, gerente de automação agrícola da empresa. O projeto ajudará na gestão de risco e compliance da companhia. “É algo que hoje não temos pleno controle. A rastreabilidade tem uma pegada importante de ESG”, pontuou.

O mercado de serviços para os processos de tratos, preparo e plantio das culturas agrícolas movimenta R$ 1,2 bilhão por ano no país, segundo a agtech. No Brasil, são cerca de 400 usinas e 10 mil produtores de cana. A expansão desse tipo de controle pode gerar “efeitos colaterais interessantes”, observa o CEO da Wolk. Outras usinas já estão interessadas no sistema, disse Lima.

A prova de conceito da Wolk na primeira usina da Cofco será concluída até novembro. Como ainda é um projeto, haverá um cronograma para medir os resultados na prática. O contrato prevê a aplicação da automação nas quatro unidades da múlti, que envolvem cerca de 400 equipamentos entre implementos e autopropelidos, como tratores e caminhões. Os efeitos deverão ser sentidos a partir da safra de 2023.

 


Valor Econômico