Coleção de Boas Notícias ao Setor de Cana - Por Marcos Fava Neves

Coleção de Boas Notícias ao Setor de Cana - Por Marcos Fava Neves

Vamos aos nossos fatos relevantes do mês de janeiro e as perspectivas para fevereiro. Na primeira quinzena de fevereiro, a moagem de cana-de-açúcar foi de apenas 486,9 mil toneladas. No acumulado da safra, a moagem chegou a 598,12 milhões de toneladas, 3,22% maior que o volume registrado no mesmo período da safra anterior. Até o dia 16 de fevereiro ainda estavam em operação três usinas de cana-de-açúcar, cinco usinas full de milho e duas do modelo flex. Falta apenas este mês de março para fecharmos oficialmente a safra.

No terceiro levantamento da Conab para a cana-de-açúcar, a organização indica, no comparativo com a safra passada, um aumento de 3,5% na produção total da cultura (642,7 milhões de toneladas), em uma área 1,9% maior (8,6 milhões de hectares) e uma produtividade 1,5% superior para os canaviais (77,29 toneladas por hectare). Para os produtos do setor, a Conab estima, no açúcar, uma produção recorde de 41,84 milhões de toneladas, volume 40% maior que o registrado na safra 2019/20; e no etanol, um volume de 32,85 milhões de litros produzidos até o final da safra atual (68,4% do hidratado e 31,6% do anidro). Lembrando sempre que a Conab considera o dado de todo o Brasil.

Já o levantamento da Archer Consulting, para o Centro-Sul estima uma produção de 578 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no ciclo 2021/22, o que deve representar queda de 4% frente à safra anterior. Para o açúcar são esperadas 35,3 milhões de toneladas, 3 milhões a menos que em 2019/20; enquanto que no etanol, a produção deve ser de 27,4 bilhões de litros, 2 bilhões de litros a menos.

Na linha dos créditos verdes, a Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba, SP), conseguiu R$ 4,6 milhões para oferecer a taxas 20% menores aos produtores integrados, desde que estes tenham certificações de sustentabilidade ambiental. Valem os programas Bonsucro, RSB e o Top Cana, da própria associação. A operacionalização se dá pela cooperativa de crédito Coopecredi. Mais uma nota em direção à sustentabilidade.

Foi aprovada pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) a operação da Raízen e Biosev. Teremos um gigante com 35 usinas e mais de 100 milhões de toneladas, totalizando 1,3 milhão de hectares. A BP Bunge Bioenergia espera capturar, já no primeiro ano safra de operações após a fusão, cerca de R$ 1 bilhão face as sinergias geradas pela joint venture. Um dos grandes pontos de destaque está na comercialização do açúcar: a empresa já fixou 80% de todas as suas vendas para a safra 2021/22, e 40% para 2022/23. Com o fortalecimento também da Copersucar, estamos vendo um setor cada vez mais aglutinado e eficiente.

No açúcar, segundo a Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), a produção de açúcar na safra 2020/21 chegou ao acumulado de 38,21 milhões de toneladas; um crescimento de 44,25% frente aos 26,49 milhões de toneladas fabricadas no mesmo período do ciclo anterior. Incrível!

As vendas externas de açúcar no mês de janeiro totalizaram US$ 625,11 milhões, crescendo 31,2% em volume e alcançando 2,1 milhões de toneladas. No total acumulado da safra, para as exportações, o levantamento da Conab aponta que entre abril de 2020 e janeiro de 2021, 28,43 milhões de toneladas de açúcar foram exportados pelo Brasil, um aumento de 50% em comparação à safra 2019/20. Uma verdadeira invasão de açúcar brasileiro.

No mercado global, a OIA (Organização Mundial do Açúcar) ampliou suas projeções para o déficit de açúcar no mercado global na safra 2020/21. Na comparação com a projeção anterior, a produção global foi estimada em 169 milhões de toneladas (-1,3%) e o consumo em 173,8 milhões de toneladas (-0,4%). A redução se deu especialmente pela baixa na safra de alguns países como Irã (-29,7%), Paquistão (-8,3%) e Tailândia (-4,8%). Os três países devem produzir 1,3, 5,5 e 7,8 milhões de toneladas, respectivamente. Bom para os preços.

Na Índia, as exportações de açúcar devem totalizar 4,3 milhões de toneladas no ciclo atual, recuando 24% frente aos 5,7 milhões de toneladas da temporada 2019/20. A queda nas exportações é consequência de problemas logísticos enfrentados nos portos do país asiático, com congestionamento e ausência de contêineres para embarcação. Por outro lado, a produção indiana deve totalizar 29,9 milhões de toneladas em 2020/21, crescendo 9,12% frente ao ciclo anterior.

O aumento no déficit global de açúcar, a falta de chuva nas principais regiões produtoras, o atraso na safra e até mesmo a escassez na disponibilidade de contêineres; são alguns dos fatores que contribuíram para a elevação dos preços. Na bolsa de Nova York, os vencimentos de março/21 fecharam em 17,89 centavos de dólar por libra-peso depois de quase baterem os 18,00 centavos. O valor surpreende e não era esperado nem mesmo pelo mais otimista dos analistas e traders do mercado, mas já recuou para 16 centavos. Se permanecer aí, com o atual câmbio, será bom ao setor.

Porém, segundo a Archer, praticamente 80% do açúcar da safra 2021/22 estão vendidos e fixados a 13.13 centavos de dólar por libra-peso. A São Martinho já fixou os preços de 703 mil toneladas de açúcar, o que representa 61% de sua cana própria, a um preço médio de R$ 1.530/tonelada para a safra 2021/22. Além disso, 100 mil toneladas (ou 9% de sua cana própria) também já foram fixadas a um preço médio de R$ 1.745/tonelada para o ciclo 2022/2023. Os preços do açúcar no mercado doméstico bateram patamares recordes nos últimos meses devido a cotação do dólar e quebra de safra na Tailândia.

No etanol, segundo a Unica, a produção acumulada alcançou 29,68 bilhões de litros até a primeira quinzena de fevereiro; volume 8,54% menor que os 32,45 bilhões de litros fabricados no mesmo período da safra 2019/20. Do total produzido até aqui, 19,97 bilhões são de hidratado (61,5%) e 9,71 bilhões de litros de anidro (38,5%). As vendas de etanol chegaram a 27,21 bilhões de litros até o fechamento desta coluna; redução de 8,64%. As exportações do biocombustível somam 2,38 bilhões de litros, uma alta de 43,0% em comparação ao ciclo anterior. Segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), mesmo com estes preços atuais do etanol, as médias ainda são menores que as da safra passada, em cerca de 1,5%.

De acordo com dados fechados da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) de 2020, o consumo de combustíveis leves foi de 49,3 bilhões de litros de gasolina equivalente, queda de 8,6% em comparação a 2019. No etanol hidratado, foram consumidos 19,26 bilhões de litros, o que equivale a uma redução de 14,58%, enquanto que na gasolina a redução na demanda foi de 6,13%. Por outro lado, o diesel fechou em alta de 0,30% frente a 2019, com 57,47 bilhões de litros consumidos.

As exportações de etanol atingiram US$ 90,86 milhões em janeiro, crescimento de 110,9% frente ao mesmo mês de 2020. Os Estados Unidos e a Coreia do Sul foram os principais destinos do etanol brasileiro, respondendo por 32,8% e 27,4% do montante exportado, respectivamente.

Apesar das quedas de consumo de hidratado, o setor sucroenergético mantém as apostas elevadas no mercado do biocombustível. Segundo a ANP, há 17 usinas em construção, o que deve adicionar um volume na oferta diária de até 6,77 milhões de litros; além de outras 23 em processo de expansão (20 de cana, 2 de milho e 1 de palha da cana), sendo que estas devem incorporar outros 8,6 milhões de litros por dia.

Para o preço do etanol na safra 2021/22, a Archer Consulting espera uma média de R$ 2,7 por litro, podendo chegar a picos de R$ 3.

De acordo com a Unem (União Nacional do Etanol de Milho), a produção de etanol de milho na safra atual está estimada em 2,65 bilhões de litros, enquanto para 2021/22 são esperados 3,3 bilhões de litros. No ciclo atual, com os dados compilados até a primeira quinzena de fevereiro, a Unica aponta para uma produção acumulada de 2,20 bilhões de litros no ciclo atual. Os investimentos vêm sendo anunciados e isto será muito bom ao Brasil.

Para concluir com outra boa notícia, o Reino Unido anunciou que irá aumentar a mistura de etanol à gasolina de 5% para 10% a partir de setembro de 2021. Com isso, os britânicos buscam cumprir com suas metas de redução de emissões de gás carbônico em 68% até 2030. Com a medida, o governo estima reduzir as emissões em 750 mil toneladas por ano. Pode ser boa oportunidade de exportação ao Brasil.

Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em março na cadeia da cana:

a) Observar o consumo de etanol hidratado com estes novos preços. Ao fechar esta coluna, pelos dados da SCA, o litro do hidratado estava em R$ 3,57/l com impostos nas usinas e o anidro a R$ 3,12/l. O barril do petróleo tipo Brent estava em US$ 65, um incrível aumento nos últimos 30 dias;
b) O déficit de açúcar: ao fechar a coluna, o açúcar estava em 16 cents/libra peso na tela de maio de 2021. O consumo mundial deve aumentar com a vacinação e o crescimento econômico mundial;
c) Os efeitos do clima sobre o canavial 2021/22, que vem se recuperando após um início difícil nos meses de setembro a novembro. Porém, o mês de fevereiro já foi mais seco;
d) As exportações de açúcar do Brasil e os preços para o mercado interno;
e) Se existirá alteração na política de preços da Petrobrás e observar o que deve acontecer com o câmbio nesta recente crise política.

Valor do ATR

No início da safra tivemos algumas quedas no valor acumulado do ATR: abril com R$0,70/kg; maio com R$0,69/kg; junho em R$0,68/kg; e julho em R$0,676/kg. No entanto, de agosto para cá, temos observado um aumento do indicador: agosto em R$0,679/kg; setembro em R$0,687/kg; outubro com R$0,70/kg; novembro com R$0,71/kg e dezembro fechando com R$0,729/kg. Em janeiro de 2021 tivemos o ATR valendo R$0,86/kg e. em fevereiro, incríveis R$0,93/kg. Com isso, chegamos a um acumulado de R$0,76/kg.

*Prof. Dr. Marcos Fava Neves - Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio.

**Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.