Combustíveis: 'Não acompanhar preço internacional pode gerar desabastecimento'

Combustíveis: 'Não acompanhar preço internacional pode gerar desabastecimento'

Professor do Instituto de Energia da PUC-RJ, Edmar de Almeida, diz que Argentina já está sofrendo impactos da escassez e o mesmo pode acontecer com o Brasil

Antes de a Petrobras anunciar o reajuste nos preços dos combustíveis na última sexta-feira (17), dados da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) apontavam que os valores já estavam defasados em comparação com o mercado internacional.

Segundo o professor do Instituto de Energia da PUC-RJ, Edmar de Almeida, essa disparidade leva as empresas privadas a não participarem do mercado de importação.

“O Brasil importa entre 20% e 25% do diesel que consome, além de também importar gasolina e GLP. Então se os preços praticados no Brasil não acompanharem os preços internacionais significa que só a Petrobras vai poder importar e vender no Brasil esses produtos”, afirma.

Risco de desabastecimento
O professor alerta que tal cenário pode gerar risco de desabastecimento de combustíveis, ainda mais porque que nos últimos tempos tem sido mais difícil de encontrar diesel para compra por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“Há uma instabilidade no mercado internacional de derivados [do petróleo] e uma disputa grande pelo diesel exportado por países como Índia e Arábia Saudita porque muitos países deixaram de comprar diesel da Rússia por causa das sanções [sofridas pelo país] e estão disputando o combustível que é disponibilizado em outros países”, explica.

Almeida afirma que o desabastecimento de diesel já está afetando a Argentina justamente porque o país não acompanha o preço internacional. “Só a IPF, empresa estatal, importa e ela não está conseguindo comprar”.

Medidas com contraindicações
O especialista afirma que ao longo de mais de três anos de governo Bolsonaro, várias medidas para a política de preços da Petrobras foram pensadas, mas nenhuma implementada. “Todas as medidas que podem, eventualmente, contribuir para baixar os preços têm contraindicações e, algumas delas, são difíceis de serem superadas”, constata.

Para ele, não será no calor das eleições que se encontrará soluções mágicas para um problema tão complexo. “Acredito que por trás disso tem muito mais uma questão de se posicionar politicamente perante ao eleitor, querendo se desvincilhar da política de preços atual do que, realmente, encontrar uma solução que seja sustentável”.

Combustíveis: melhor alternativa
Segundo o professor, a alternativa mais viável e natural para conter o aumento dos combustíveis é abaixar os impostos. “O governo federal já baixou parte dos impostos e tem ainda os impostos estaduais, mas existe uma grande oposição por parte dos estados em cortar os impostos. Esse é um debate legítimo que o governo deveria perseguir”, afirma.

Almeida lembra que, no caso da gasolina, mais de 50% do preço são os impostos, “não o preço da Petrobras lá na refinaria, que está, sim, muito alto, mas é porque a Petrobras não tem uma política de preços, ela segue o preço do mercado internacional porque, por lei, o mercado de derivados no Brasil é de livre concorrência. Não há uma política pública de tabelamento de preços”, conclui.


CANAL RURAL