Combustível mais caro acelera gasto com importação

Categoria representa 16% das compras no 1º tri, ante 10% em igual período de 2021

Os combustíveis puxaram a alta de preços nas importações no primeiro trimestre de 2022, com avanço também na quantidade desembarcada, num movimento que reflete o aumento de cotações de petróleo intensificado pela guerra Rússia-Ucrânia e também a maior demanda pelo item, com a abertura da economia e avanço da mobilidade.

O desembarque de combustíveis avançou 11,9% em volume de janeiro a março de 2022 em relação a iguais meses do ano passado, em sentido contrário à quantidade do total das importações, que caiu 2,3%. Os preços médios dos combustíveis importados aumentaram 87,1%, em taxa bem maior que a do total importado, que avançou 30,2%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), calculados com base nos números da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/ME).

A importação de combustíveis e lubrificantes somou US$ 9,6 bilhões de janeiro a março deste ano, mais que o dobro dos US$ 4,6 bilhões comprados do exterior em iguais meses do ano passado, segundo a Secex. Com esse avanço, a fatia dessa categoria de uso avançou para 15,8% das importações de 2022, ante 9,7% no ano passado, sempre considerando os primeiros três meses do ano.

Pelos dados da Funcex, a única categoria de uso que também teve aumento de volumes desembarcados de janeiro a março foi a de bens de consumo não duráveis, com alta de 3,3%, em taxa bem menor que a de combustíveis. Bens de capital, intermediários e bens de consumo duráveis tiveram queda de volume no período. Em preços, a alta se deu em todas as categorias de uso, mas sempre em taxa menor que a dos combustíveis. Bens intermediários, categoria na qual estão mais de 60% das importações, caiu 5,7% em volume e subiu 29,8% em preços, sempre considerando o primeiro trimestre deste ano contra igual período do ano passado.

Daiane Santos, economista da Funcex, diz que o aumento de volume desembarcado de combustíveis reflete a maior demanda com o relaxamento do isolamento social, o retorno de várias atividades e o avanço da mobilidade, num movimento que deve continuar nos próximos meses.

Há uma base de comparação baixa, diz Welber Barral, sócio da BMJ Consultores. O primeiro trimestre de 2021, lembra, foi o período mais agudo da pandemia, o que impactou a mobilidade. A base de comparação vai se recuperar a partir de julho, diz. Pesa também, aponta, uma questão estrutural. Ele ressalta que, apesar de ter aumentado a exportação de petróleo bruto nos últimos anos, o Brasil ainda é dependente da importação de derivados.

José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra também que em janeiro e fevereiro parte do aumento de importações de combustíveis pode ser ainda explicada pela demanda das termelétricas em contratos de compras acertados anteriormente, algo que deve se amenizar, já que houve melhora da situação hídrica, com adoção mais recente da bandeira verde na tarifa de energia elétrica.

Segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), que acompanha a importação de petróleo e derivados em critérios diferentes dos da Secex, a quantidade de importação de derivados de petróleo caiu 10,4% de janeiro a março deste ano contra igual período de 2021, com alta de 51,5% no valor dispendido.

A alta de valores e preços médios de combustíveis, diz Barral, é reflexo direto da cotação do petróleo. Ele lembra a commodity, considerando os preços médios do barril do brent, saiu de perto de US$ 65 em abril de 2021 para cerca de US$ 115 em março deste ano, com ajuste para baixo já em abril. O comportamento das cotações, diz, depende de como vão evoluir as sanções ao petróleo russo e de como essa oferta será coberta.

Daiane lembra que os combustíveis tendem a manter a pressão na inflação doméstica, neutralizando ao menos em parte os efeitos da redução de tarifas de energia elétrica. A projeção da Funcex de inflação para 2022 é de 7,5%, com viés de alta de 0,5 ponto percentual.

 

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