Como a cana-de-açúcar pode salvar milhares de tubarões? - Por Andréa Nunes

Como a cana-de-açúcar pode salvar milhares de tubarões? - Por Andréa Nunes

Você já deve ter ouvido falar em óleo de fígado de tubarão, o chamado esqualeno. Eu certamente já ouvi e, se não me engano, também já cheguei a tomar algumas cápsulas desse composto orgânico. Não me julgue, era moda há duas décadas.

O que eu não sabia é que o esqualeno é usado como adjuvante em vacinas – como a da H1N1 - para melhorar sua eficácia, uma vez que adjuvantes aumentam a resposta do nosso sistema imunológico. Por este motivo, o composto vem sendo utilizado em pelo menos 5 ensaios de vacinas contra Covid-19, segundo a ONG Shark Allies, que luta em prol da proteção dos tubarões.

Uma das vacinas em desenvolvimento, a da Universidade de Queensland, na Austrália, leva em sua composição cerca de 9,75 mililitros de esqualeno por dose. Como estamos falando aqui de uma corrida para vacinar a população mundial e, considerando que talvez sejam necessárias 2 doses para imunização de cada indivíduo, a Shark Allies estima que para ter esqualeno suficiente, será necessário abater cerca de meio milhão de tubarões. Além da crueldade (que já é ruim por si só), imagine o desequilíbrio que isso causa na vida marinha.

Você agora deve estar pensando: “tá, mas o que isso tem a ver com a cana-de-açúcar?”.

Vamos lá! O esqualeno também pode ser oriundo de vegetais, o problema é que o processo para conseguí-lo é mais demorado e mais custoso. Porém, recentemente, a empresa Amyris, pioneira em biotecnologia sintética, anunciou que está entregando amostras para empresas farmacêuticas de uma alternativa sustentável e escalonável aos adjuvantes de vacinas à base de tubarões. A matéria-prima utilizada é, nada mais e nada menos que a nossa tão conhecida cana-de-açúcar.

É isso aí! A Amyris desenvolveu um processo para produzir naturalmente esqualeno derivado da cana-de-açúcar como uma alternativa eficaz ao composto derivado de tubarão. Trata-se de uma tecnologia patenteada, que permite que a empresa atenda às necessidades mundiais de esqualeno, de maneira sustentável, com alto desempenho e baixo custo, segundo seu CEO, John Melo.

Essa é mais uma versatilidade dessa matéria-prima poderosa que é a cana-de-açúcar. Agora nos resta observar as cenas do próximo capítulo, esperar com otimismo pela vacina e, quem sabe, ver a cana-de-açúcar ser uma das protagonistas desse capítulo na história.

 *Andrea Nunes é CMO do Grupo IDEA e uma entusiasta de novas tecnologias.