Como podemos atingir médias de 100 toneladas/hectare? – Por Dib Nunes Junior
Você, produtor de cana, seja um fornecedor ou usina, já parou para pensar por que a produtividade da cana-de-açúcar estagnou? Quando chove bem, atinge 82 t/ha. Quando falta chuva, cai para algo em torno de 72 t/ha. Isso está ocorrendo há mais de vinte anos. Por que outras culturas, como a soja, a beterraba açucareira e o milho, conseguiram melhorar suas produtividades médias e mantê-las em patamares elevados, e a cana-de-açúcar continua marchando no mesmo lugar?
Numa análise rápida e objetiva, podemos apontar alguns problemas que, se forem mitigados, certamente contribuirão para atingirmos as tão desejadas médias de produtividade de três dígitos, ou seja, de 100 t/ha ou mais. Reflitam comigo sobre as perdas que ocorrem com frequência: falhas em canaviais oriundas de plantio mecanizado malfeito, arranquio de touceiras na colheita, que vai aumentando à medida que os cortes avançam; compactação de solos, que aumentaram com o número de colheitas; variedades em declínio, com produtividades muito ruins; cortes na adubação, calagem, gessagem e fosfatagem; matocompetição crescente, devido a novas espécies mais agressivas ou devido à redução dos tratos culturais; ataques de pragas de solo, que aumentam geometricamente quando não combatidas; perdas visíveis e invisíveis na colheita mecanizada; variedades mal alocadas em ambientes incompatíveis com as suas exigências; colheita antecipada de canaviais; plantio em época inadequada, etc.
Somente nesses itens, se somarmos as perdas mínimas como sendo recuperáveis, teremos um aumento de produção de 70%, o que elevaria a média brasileira de 72 t/ha para mais de 115 t/ha. Isso tudo sem citar que temos novas variedades produzindo 10% a mais, ou, se usarmos produtos estimulantes de crescimento, micronutrientes e ativadores de enraizamento, teremos, certamente, mais algum ganho. Viveiros de mudas sadias também poderão contribuir com até 10%, e, se irrigarmos parte da lavoura, poderemos ganhar até 20% nas médias de produtividade, dependendo do total da área irrigada.
É evidente que cada caso é um caso, mas várias empresas podem conseguir os ganhos totais atribuídos nessa tabela, embora, muitas vezes, gradativamente, pois alguns desses itens demandam investimentos significativos. Entretanto, muitos deles dependem apenas de mudanças de procedimentos, com pouco ou nenhum investimento. Os ganhos mínimos nas médias gerais foram estimados e considerados possíveis, com base na nossa experiência e em diversos trabalhos técnicos de pesquisa, já amplamente divulgados. Sabe-se que alguns desses itens podem proporcionar ganhos ainda maiores, mas isso depende da realização de um completo diagnóstico feito por especialistas, antes de se decidir quais itens devem atacar primeiro.
Ainda não estamos computando as significativas perdas que ocorrem em procedimentos operacionais, em má administração de recursos humanos e materiais, na baixa qualidade de serviços, nos desperdícios que ocorrem no preparo do solo, nos tratos culturais e na colheita, na distribuição de resíduos industriais na lavoura, no excesso de impurezas na matéria-prima e na manutenção da frota. Há perdas de todo tipo, por todo lado, é só procurar. Com o tempo, as empresas que entraram em crise, pararam de adubar, reduziram a aplicação de herbicidas e, sobretudo, encolheram as reformas de canaviais depauperados, contribuindo para a baixa produtividade.
A falta de gestão no que se refere à supervisão de serviços, de treinamento de pessoas, de planejamento e de controles é consequência do caos financeiro que tomou conta das empresas nos anos de governo de Dilma Rousseff, que, com sua política bolivariana de controle da inflação, congelou os preços do etanol e submeteu as empresas a perdas irreparáveis.
Nesses anos de congelamento de preços, ocorreu um significativo aumento do endividamento das empresas, e o foco da gestão saiu da produção de cana e se localizou em planilhas financeiras. Notamos também que ainda há falta de critérios e estratégias na gestão das grandes lavouras.
Tudo é voltado para não deixar faltar cana na fábrica. Se a usina não parar e moer dentro de sua máxima capacidade, ninguém cobra mais nada, fica tudo do jeito que está, e os problemas vão se somando. Tudo é deixado para trás, numa atividade que virou extrativista. Se as empresas não refletirem sobre os problemas atuais da área agrícola e não investirem na produção de cana usando as modernas tecnologias, as perdas aumentarão e a recuperação se tornará cada vez mais difícil.
Consideramos como perdas todos os recursos que são desperdiçados ou tecnologias disponíveis que agregam valor à produção que não estão sendo utilizadas. Para ganhar produtividade, é necessário, primeiro de tudo, analisar onde é possível recuperar perdas e quais são as técnicas que, se forem implantadas ou mesmo voltarem a ser aplicadas, podem melhorar muito a produtividade da cana-de-açúcar. Hoje, se gastam mais de R$ 7 mil para formar um canavial, e, depois, não o tratam como se deveria.
O resultado é a queda acentuada na produtividade. O canavial é um organismo vivo, que vai produzir de acordo com os cuidados recebidos. Não adianta só confiar no clima. É preciso produzir com racionalidade, para evitar as enormes perdas que ocorrem hoje em dia nas empresas canavieiras. Ao mitigarmos as diversas perdas, certamente teremos um volume altamente significativo de ganhos, que estão fazendo falta ao endividado setor sucroenergético nacional. Agora, pergunto: será que dá para chegar a 100 t/ha?
Dib Nunes Junior Presidente do Grupo Idea