Consertando a Petrobrás - O Estado de São Paulo
A maior empresa brasileira, a Petrobrás, continua a encolher, num esforço para se adaptar às novas condições de mercado, enquanto se recupera dos danos sofridos durante muitos anos de pilhagem e de administração irresponsável. Com o novo ajuste no plano de negócios, ficou em US$ 98,4 bilhões o investimento previsto para o período entre 2015 e 2019 - US$ 32 bilhões abaixo da programação inicial. Como resultado, a produção de petróleo esperada passou de 2,185 milhões de barris/dia para 2,145 milhões neste ano e de 2,8 milhões para 2,7 milhões em 2020. A exploração do pré-sal continua sendo prioridade, como no tempo do presidente Lula e no primeiro mandato de sua sucessora, mas a prudência, agora, substitui a bravata e o triunfalismo populista da fase anterior à Operação Lava Jato e à penosa divulgação dos últimos balanços de 2014.
A empresa continua controlada pelo Estado e o governo federal ainda é petista, mas as decisões dos conselheiros e gestores da Petrobrás deixaram de refletir - ou de refletir tanto quanto antes - a desastrosa intervenção do Palácio do Planalto. Um cenário diferente seria quase impensável, depois de comprovada a devastação financeira e econômica da companhia.
Com a gestão anterior convertida em assunto de Polícia, escândalo internacional e objeto de ações judiciais no exterior, o retorno a uma administração de estilo profissional foi praticamente inevitável.
Foi preciso rever os investimentos, em boa parte determinados por interesses políticos e ainda inflacionados de forma escandalosa. Foi necessário pensar em desinvestir, para desemperrar uma empresa campeã mundial de endividamento e atolada em projetos de alto custo e retorno duvidoso.
A rejeição desses padrões é claramente indicada no informe sobre a revisão do planejamento: "A Petrobrás vem trabalhando no aprimoramento contínuo de seu Plano de Negócios e Gestão e na rápida adaptação às mudanças em seu ambiente de negócios, preservando seu compromisso de atuar com disciplina de capital e rentabilidade". No caso de uma empresa com imagem normal, seria preciso mencionar um compromisso com "disciplina de capital" e "rentabilidade"?
Os novos critérios de administração já marcaram a primeira versão do plano de negócios para 2015-2019, divulgada no meio do ano passado. Depois disso houve uma revisão das metas e projeções em outubro e mais um ajuste agora, divulgado ontem. As novas condições de mercado, com o preço do barril abaixo de US$ 50 e o dólar oscilando em torno de R$ 4, tornaram necessária uma readequação dos objetivos e dos cenários prospectivos. O preço médio do barril do tipo Brent passou de US$ 70 no plano inicial para US$ 55 em outubro e US$ 45 na última revisão. A cotação do dólar avançou de R$ 3,26 para R$ 3,80 e R$ 4,06. O investimento previsto para 2016 foi fixado em US$ 20 bilhões, pouco acima do estimado em outubro (US$ 19 bilhões), mas bem abaixo do calculado originalmente (US$ 27 bilhões). Mas no total projetado para 2015-2019 houve corte de US$ 32 bilhões.
Embora a nova revisão tenha sido justificada pela mudança nos preços do petróleo e na taxa de câmbio, os "objetivos fundamentais" continuam sendo aqueles impostos como indispensáveis para a recuperação das finanças e da imagem da empresa: "desalavancagem e geração de valor para os acionistas". Desalavancar é reduzir a proporção entre a dívida e os recursos da empresa. Isso vale tanto para o capital próprio quanto para a geração de caixa. O saneamento continua sendo uma tarefa básica.
Um dia antes de publicar a nova revisão, o presidente da Petrobrás, Aldemir Bendine, comunicou aos funcionários o esforço pela frente e a necessidade de cortar US$ 12 bilhões de custos até 2019. O cenário é muito diferente de quando Lula e Dilma, fantasiados de macacão cor de laranja, se lambuzavam de petróleo e recitavam bravatas. Sobraram desse tempo os efeitos do saque e da política irresponsável - e num cenário muito mais complicado.